De regresso, domingo, à ilha de Luanda, depois de desaparecidos durante 28 dias no mar, e de terem permanecido mais 11 em território gabonês - passaram vários dias a pé até encontrarem ajuda -, os oito pescadores recorreram a Deus para explicar a razão pela qual o desespero não tomou proporções maiores.
Uma avaria no motor da embarcação e o fim da carga das baterias e do gerador levou a pequena embarcação à deriva, ao sabor das correntes marítimas, pouco depois de terem deixado a ilha de Luanda para uma faina que deveria ser de apenas uma semana.
Distante da família, perdido em alto mar e clamando a "Deus pela vida" esteve o pescador Armando Lembe, capitão da embarcação, que, em 26 anos de ofício, disse nunca ter enfrentado uma situação do género.
"Já tivemos ocasiões de estarmos perdidos três ou quatro dias, mas, desta vez, foi pior. Tivemos a avaria no motor do barco, as baterias e o gerador ficaram sem carga e aí não conseguimos superar o motor", contou à Lusa.
Questionado sobre as dificuldades enfrentadas no decurso dos 28 dias, o "mestre" da embarcação, de 57 anos, sublinhou que viveu "dias difíceis", lembrando que as orações "multiplicavam-se diariamente" por receio de perder a vida.
"É claro que tivemos muito receio de perder a vida. Fomos andando apenas ao sabor do vento em busca de terra e só ao fim de 28 dias é que conseguimos alcançá-la", explicou.
"Graças a Deus, a orar, chegámos ao Gabão, porque era apenas a correnteza que nos guiava, com a ajuda da vela que metemos na proa. Rezávamos para sairmos dali com vida e assim chegámos [à costa do Gabão]", acrescentou.
Também Pedro Sangueve, 32 anos, pescador, destacou os "dias difíceis" passados a bordo e as constantes preces a Deus para os levar a um porto feliz.
"Sempre que vamos ao mar fazemos cerca de uma semana, mas desta vez foi grave, porque com a avaria não conseguimos regressar. Daí que permanecemos perdidos 28 dias, e depois mais 11 dias já no Gabão, onde as autoridades locais resolveram todas as questões burocráticas para o nosso regresso ao país", enfatizou.
"Lá [no Gabão] fomos bem recebidos, tivemos assistência médica, devido também ao que percorremos em terra à procura de ajuda. Houve ocasiões que alguns colegas desmaiaram", recordou.
De regresso ao país, e agora junto das famílias, os dois pescadores mostraram-se aliviados por tudo ter terminado em bem, destacando, tal como sublinhou Armando Lembe, também o "grande apoio" da embaixada de Angola no Gabão.
"Foi bom regressar ao país e estar junto da família", concluiu.
Comentários