“Ao ter optado por não marcar presença no debate político das presidenciais, o PS contribuiu involuntariamente para a afirmação do candidato da extrema-direita”, escreveu Pedro Nuno Santos, num artigo de página inteira publicado no jornal Público, intitulado “Das presidenciais de ontem às lições para o futuro”.

Para o ministro das Infraestruturas, “se não tivesse surgido a candidatura de Ana Gomes”, que ele apoiou, tendo participado numa ação de campanha eleitoral, André Ventura, líder e deputado do Chega, “teria muito provavelmente ficado em segundo lugar nestas eleições presidenciais”.

“O que lhe teria permitido apresentar-se ao país como a verdadeira oposição ao sistema, ou seja, à democracia que conhecemos”, alertou o dirigente do PS, partido que não apoiou nenhum dos candidatos a Belém, tendo-se registado uma divisão entre Marcelo Rebelo de Sousa, que venceu pela segunda vez, e a ex-embaixadora Ana Gomes, que ficou em segundo lugar.

Pedro Nuno Santos admite, no artigo, que “se tivesse apresentado um candidato próprio, o PS até poderia ter perdido a corrida eleitoral de 24 de janeiro, mas teria reforçado a polarização entre esquerda e direita e, com isso, a estabilidade da democracia”.

E cita António Costa, secretário-geral dos socialistas, quando diz que um Bloco Central, que junte os dois principais partidos, PS e PSD, “permite o crescimento da extrema-direita” num cenário de legislativas, mas que pode ser válido agora quando “se retiram conclusões da opção do PS sobre as eleições presidenciais para o seu posicionamento político-ideológico”.

Sobre as “lições para o futuro”, Pedro Nuno Santos, associado à ala esquerda do partido, deixa alguns alertas para quem “acalente a ideia de transformar o PS num ‘partido do centro’, na expectativa de assim conseguir apoio eleitoral que permita ao partido manter-se no poder”, dizendo que essa estratégia fracassou na Europa.

E avisou que isso seria “uma traição ao espírito socialista dos fundadores e dos milhares de militantes do PS”.

Porque o partido, defendeu, “não foi criado, nem existe, apenas para estar no poder, mas, sobretudo, para transformar Portugal num país onde se vive bem em comunidade, onde trabalhadores são respeitados e as liberdades sociais e políticas aprofundadas”.

Para Pedro Nuno Santos, “a extrema-direita só será derrotada quando as pessoas que estão zangadas com os políticos, em geral, deixarem de o estar” e isso só acontecerá quando os políticos forem “capazes de responder aos seus justos anseios” e quando conseguirem “identificar os bloqueios externos e internos que não deixam muitas famílias portuguesas saírem da “cepa torta”.

Marcelo Rebelo de Sousa, com o apoio do PSD e CDS, foi reeleito Presidente da República nas eleições de domingo, com 60,70% dos votos, segundo os resultados provisórios.

A socialista Ana Gomes, com o apoio do PAN e Livre, foi a segunda candidata mais votada, com 12,97%, seguindo-se André Ventura (Chega) com 11,90%, João Ferreira (PCP e Verdes) com 4,32%, Marisa Matias (Bloco de Esquerda) com 3,95%, Tiago Mayan Gonçalves (Iniciativa Liberal) com 3,22% e Vitorino Silva (Reagir, Incluir e Reciclar - RIR) com 2,94%.

A abstenção foi de 60,5%, a percentagem mais elevada de sempre em eleições para o Presidente da República.