A retoma da cumplicidade estratégica, o fortalecimento das relações entre os dois países, a abertura às mudanças democráticas e a cooperação no respeito pela soberania são os principais pontos destacados pelo PS, PSD, CDS-PP, BE e PCP no âmbito da visita de Estado do Presidente de angolano, João Lourenço, a Portugal. Da esquerda à direita, o desejo é comum: o reforço das relações com Angola e a criação de um ambiente democrático - aberto a negociações, adepto da cooperação e defensor das liberdades.

PS elogia reorientação política em Angola e espera retoma de cumplicidade estratégica

Do lado do PS, elogia-se a reorientação política em curso em Angola. O presidente do PS, Carlos César, considera que a visita a Portugal do chefe de Estado angolano constitui um marco histórico, assinalando uma "retoma de cumplicidade".

"Esta visita do Presidente João Lourenço, que sucede a um período de reaproximação em função do trabalho desenvolvido nos últimos meses por ambos os governos, constitui um marco histórico muito relevante nas relações entre Angola e Portugal. Assinala a retoma de uma cumplicidade que não pode deixar de existir entre dois países que partilharam a sua História e que têm uma obrigação muito grande no plano da relação euro-africana", sustenta o presidente do PS.

Para o PS, a visita de Estado marca "não só a retoma de uma relação mais cúmplice, como também uma relação que tem outra dimensão no plano multilateral, tendo assim uma dupla importância".

Carlos César destaca também o caminho proposto pelo presidente da Comissão Europeia, Jean Claude Juncker, relativamente à importância das relações luso-angolanas e à prioridade que deve ser dada na cooperação entre a União Europeia e o continente africano: "Da parte do meu partido, através do primeiro-ministro, António Costa, já foi assinalado que em 2021, continuando o PS no Governo e presidindo ao Conselho Europeu, esse ano será dedicado justamente a essa relação. Portugal e Angola podem constituir-se como pivôs nesse relacionamento e nessa cooperação estratégica que se impõe no plano global entre a Europa e África", defende.

Na perspetiva de Carlos César, "é reconhecido que as reformas que têm sido ultimamente empreendidas e a reorientação política que tem ocorrido contribuem muito para uma melhoria da confiança externa em Angola. "Esse caminho deve ser prosseguido, não nos compete (porque não somos angolanos) determinar o seu ritmo, ou a sua orientação, mas, numa observação externa, associamo-nos àqueles que verificam com muito agrado as mudanças que estão neste momento a decorrer sob a liderança do Presidente João Lourenço".

PSD olha “com grande otimismo” para o futuro e quer cooperação pautada pelo respeito e bem comum

O PSD olha “com grande otimismo” para o futuro das relações entre Portugal e Angola e considera que a visita de João Lourenço traduzirá a “importância estrutural” desta cooperação, que espera que seja pautada pelos “princípios do respeito e bem comum”.

O presidente da Comissão de Relações Internacionais do PSD, Tiago Moreira de Sá, destaca que esta visita surge na sequência de um processo que já teve visitas de Rui Rio - considerada pelo PSD como um contributo para o desbloquear de um período de relações diplomáticas - e de António Costa a Angola, e salienta que as relações "políticas, económicas e sentimentais" entre os dois países "são muito fortes" e que são "reforçadas pela grande comunidade portuguesa em Angola e de angolanos em Portugal".

“O mais importante de tudo é todos contribuirmos para uma relação cada vez melhor entre Portugal e Angola" afirma o social-democrata que, quando questionado sobre a importância da certificação das dívidas do Estado angolano às empresas portuguesas, considerou que é uma questão importante que deve ser inserida "num contexto mais vasto".

“O conjunto de relacionamento económico entre os dois países, que é hoje muito relevante, tem tudo para ser cada vez mais no futuro, desde que seja orientado por dois princípios: o princípio do respeito e o princípio do bem comum”, defendeu, assegurando que o PSD “tudo fará para ajudar os dois Governos” a aprofundar as suas relações.

Para lá da economia, o social-democrata destaca a importância, nesta visita de Estado, de aprofundar questões como as comunidades a viver em ambos os países e toda a temática cultural, nomeadamente da língua portuguesa. Para além disso, destaca a questão da "relação afetiva entre os dois países, uma relação de vínculo permanente”.

“Quando olhamos para o que está a acontecer em Angola olhamos com grande otimismo. Olhamos com grande otimismo para o futuro de Angola, bem como para futuro das relações entre os dois países”, referiu, salientando que o PSD segue o princípio da "não interferência da vida política interna dos Estados".

CDS tem "boa expetativa" para uma visita que considera histórica

“É uma expectativa boa. Trata-se de uma visita que há muito não ocorria, que de certa forma será histórica”, afirmou o líder parlamentar do CDS, Nuno Magalhães, acrescentando que a presença de João Lourenço em Portugal representa um "marco histórico, importante e relevante nas relações entre os dois países" e que “do ponto de vista cultural, histórico, económico, tem tudo para ter relações profícuas”, passíveis de serem " melhoradas e aprofundadas”.

O líder da bancada centrista admitiu que o relacionamento bilateral pode melhorar, após um momento menos positivo entre os dois países - causado pelo processo judicial que envolveu o ex-vice-presidente de Angola, Manuel Vicente - e enumera os motivos pelos quais é importante reforçar a ligação Angola - Portugal.

A começar pela “enorme comunidade de portugueses que vive em Angola, pela enorme comunidade de angolanos que vive em Portugal, pelo sentimento e pelo laço de amizade que liga os dois povos, pelos laços históricos que são inabaláveis, independentemente desta ou daquela questão, deste ou daquele Governo, independentemente do momento histórico que cada um atravessa”.

BE regista mudanças na democracia angolana, mas ainda está a avaliar

O Bloco de Esquerda manifesta abertura para "reavaliar a posição em relação à forma como a democracia é vivida em Angola, como os direitos e as liberdades são respeitados”, garantindo o líder parlamentar Pedro Filipe Soares que os bloquistas não são "insensíveis às demonstrações de ativistas e de agentes políticos de que há algumas mudanças em curso" em Angola.

Pedro Filipe Soares lembra, no entanto, que esta é ainda uma "fase muito inicial deste processo” porque “ainda passou pouco tempo” e, por isso, ainda há "algumas cautelas para avaliar da evolução ao longo de tempo e percebermos se esses passos são passos no sentido de mais liberdades no futuro ou se são apenas epifenómenos de curta dimensão e de curto período de tempo após as eleições que existiram”, justificou.

O BE espera “que esta nova fase permita cimentar uma democracia com uma liberdade plena e com direitos de cidadania”, tendo expectativa de que “o relacionamento com Portugal também possa ajudar nesse caminho”.

“Nós esperamos que as relações com Portugal sirvam não para branquear atropelos a direitos humanos, atropelos a liberdades políticas e individuais - como no passado aconteceu -, mas sim para haver uma cooperação institucional entre os dois países que ajude a trazer ao de cima o bom que há nos dois países e a assunção de todo o seu potencial numa democracia exigente, plural, participada”, afirmou o líder bloquista.

Nesta fase, estão a ser ouvidas opiniões de ativistas, agentes políticos, partidos políticos defensores dos direitos, no sentido de "avaliar se existe ou não matéria para uma evolução na posição do Bloco de Esquerda”, um partido que foi crítico do regime do antigo presidente, José Eduardo dos Santos, e que, este ano, aquando da sua rentrée política, convidou o jornalista angolano Rafael Marques como orador do painel "A situação política em Angola".

PCP deseja aprofundamento de amizade e respeito pela soberania dos dois países

Os dirigentes comunistas querem que esta visita contribua para "o aprofundamento das relações de amizade e cooperação entre os dois países, no respeito pela sua soberania e respectivos interesses, e em prol da concretização das aspirações dos dois povos".

Numa resposta escrita, o PCP acrescenta que a "visita oficial do Presidente da República de Angola, João Lourenço, ao nosso país, insere-se no normal desenvolvimento das relações históricas entre Portugal e Angola, entre o povo português e o povo angolano".

João Lourenço chega a Portugal no âmbito de uma visita de Estado na quinta-feira, 22 de novembro, protagonizando uma sessão solene no parlamento, onde deverá discursar no hemiciclo, à semelhança do presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues.

Até sábado, dia 24, o presidente angolano terá um programa em Lisboa e no Porto. Entre outros eventos, irá depositar uma coroa de flores no Mosteiro dos Jerónimos, Lisboa, sendo recebido pelo Presidente da República portuguesa no Palácio de Belém.

António Costa, que esteve de visita a Luanda, em setembro, afirmou que as visitas entre Portugal e Angola têm de ser menos espaçadas no tempo.