Vladimir Putin, presidente da Rússia, iniciou a cimeira do BRICS a apelar por um sistema alternativo de pagamentos internacionais, para, segundo o próprio, impedir os Estados Unidos da América (EUA) de usar o dólar como arma política.

"O dólar está a ser usado como uma arma. (...) Eu acho que é um grande erro daqueles que o fazem", afirmou Putin, referindo que quase 95% do comércio entre a Rússia e a China é agora feito em rublos e yuan.

Por sua vez, outros membros do BRICS discordaram da ideia de um sistema alternativo ao dólar para a economia mundial, sobretudo o Brasil e a Índia, que não querem tornar o seu comércio pró-China ou "antiocidental".

Segundo o The Guardian, esta proposta surge depois de a Rússia estar a trabalhar na criação de uma infraestrutura de liquidação e pagamento, que contornaria o sistema de pagamento Swift, baseado na Bélgica.

Agathe Demarais, especialista em sanções do Conselho Europeu de Relações Exteriores, disse: "Neste estágio, é difícil imaginar um desenvolvimento e adoção generalizados das ferramentas financeiras do BRICS globalmente".

"A dominação do dólar americano no cenário monetário global está enraizada, tanto para transações comerciais quanto para reservas cambiais. Mais de 80% das transações comerciais globais são faturadas em dólares americanos, o que também responde a quase 60% das reservas dos bancos centrais", referiu.

Na cimeira do BRICS houve ainda espaço para abordar a invasão russa à Ucrânia, com alguns países a defender a paz no país, mas com Putin a deixar claro que Moscovo não vai devolver as quatros regiões do leste da Ucrânia, que afirmou serem agora parte da Rússia.

Mais tarde, em comunicado, o Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia reagiu e garantiu: "A cimeira do BRICS, que a Rússia planeou para dividir o mundo, demonstrou, mais uma vez, que a maioria dos países permanece do lado da Ucrânia, à procura de uma paz abrangente, justa e sustentável".

Por outro lado, na cimeira, Putin falou ainda sobre os países que querem juntar-se ao grupo.

Há algum tempo que o Brasil, em aliança com a Índia, está a tentar impedir que o BRICS, que já se expandiu de cinco para nove membros no ano passado, seja remodelado numa "aliança antiocidental".

"Muitos insistem em dividir o mundo em amigos e inimigos. Mas, os mais vulneráveis ​​não estão interessados ​​em dicotomias simplistas. O que eles querem é comida em abundância, trabalho decente e escolas e hospitais públicos de qualidade e universalmente acessíveis", afirmou Lula da Silva, presidente do Brasil, em videochamada.

No entanto, e apesar do Brasil ter vetado com sucesso a entrada da Venezuela no BRICS, em cima da mesa está a entrada no grupo de Cuba, Bolívia, Tailândia, Vietname, Malásia, Indonésia, Bielorrússia, Turquia, Nigéria, Uganda, Cazaquistão e Uzbequistão.