“Em 10 anos, houve oito anos com seca. O ano passado escrevi, em março, um artigo a dizer: este ano está a chover, temos de falar sobre seca. E não falámos. Consequência, agora que estamos com a seca, estamos aflitos porque não fizemos o trabalho de casa”, disse à agência Lusa Eduardo Oliveira e Sousa, à margem de uma conferência em Vidigueira (Beja).
O responsável frisou que, quando diz que as medidas de combate à seca “nunca são suficientes”, é “porque são sempre tomadas em cima do joelho” e, por isso, “não chegam”, já que Portugal tem que se preparar “para viver com a seca.
Eduardo Oliveira e Sousa falava à margem da conferência “Portugal, Agricultura e Política Agrícola – os próximos anos”, a decorrer hoje na vila de Vidigueira, numa organização da Terras de Dentro - Associação para o Desenvolvimento Integrado.
“Temos que perceber o que é que temos que mudar para viver com a seca. Temos que criar opções e construir as soluções para criarmos uma barreira, o mais possível, ao avanço do deserto do Norte de África que nos está a invadir”, avisou.
No entanto, vincou: “Queremos fazer isso mantendo as pessoas no território e as pessoas só ficam se houver atividade económica”.
Segundo o responsável, “uma das maneiras de associar a presença de pessoas ao combate à desertificação é através da intensificação da agricultura”, o que se faz “com o regadio”.
“Neste momento, a única parede que já fomos capazes de dirigir contra o avanço da desertificação foi o Alqueva”, frisou, sublinhado que este “é um dos sucessos” do projeto, que considerou “a salvação” do Alentejo.
O responsável explicou também que as medidas de combate à seca “não são suficientes” porque “estas matérias não estão a ser estudadas” numa perspetiva conjunta.
“Temos que integrar os assuntos” e “pôr os cientistas, os académicos, os engenheiros a falarem para, depois, os políticos decidirem”, defendeu, criticando que, em Portugal, “os políticos decidem e, depois, os engenheiros vão à procura das soluções e as coisas não se fazem assim”.
Também em declarações à Lusa, à margem da conferência, o presidente da Federação das Associações de Agricultores do Baixo Alentejo (FAABA), Rui Garrido, insistiu que, “se não chover” na região nas próximas semanas, “vai ser uma catástrofe”.
E é “nesse sentido que apelamos, nomeadamente ao próximo Governo”, para que “um dos dossiês” que “terá de ser estudado é este” da seca, para que possam, em conjunto, ser definidas medidas de apoio aos agricultores, afirmou.
Já no início deste mês, em comunicado, a FAABA alertou que a seca está a afetar “gravemente” a atividade agropecuária da região e reclamou medidas do Governo para apoiar os setores mais afetados.
Tal como nesse comunicado, Rui Garrido defendeu hoje que são necessários “apoios diretos à pecuária” e também “às culturas de outono/inverno” e autorização para pastorear o gado nos pousios obrigatórios.
“Estes pousios são superfícies de interesse ecológico” que os agricultores são obrigados “a deixarem nas suas explorações agrícolas”, e que correspondem a “cerca de 5% da área”, mas nos quais “temos de ter autorização para pastorear os animais”, pois, “não há erva nos campos”, sugeriu.
A retenção ou suspensão de pagamentos à Segurança Social e o aumento da chamada eletricidade verde, que contempla “uma ajuda irrisória”, foram outras das medidas defendidas pelo presidente da FAABA, que criticou ainda o “aumento brutal dos custos dos fatores de produção” que os agricultores estão a suportar.
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