Foi uma história que teve tanto de tragicómico como de preocupante. Parecia impensável que em 2021, numa era de grandes avanços tecnológicos, fosse possível que o encalhar de um barco pudesse atrair a atenção de milhões e afetar profundamente o comércio internacional ao mesmo tempo. Mas foi o que aconteceu.

Na passada terça-feira, o mundo acordou para a notícia de que o Ever Given, porta-contentores dotado de 400 metros de comprimento e com uma carga superior a 200 mil toneladas, tinha embatido numa das margens do Canal do Suez, ponto nevrálgico do comércio internacional por permitir a passagem navegável entre o Mar Vermelho e o Mar Mediterrâneo, ou seja, confluindo Europa, África e Ásia ao longo dos seus 193 quilómetros.

Dada a sua gigantesca dimensão, cedo se percebeu que não seria fácil retirá-lo do local onde se encontrava a bloquear esta via marítima. Mais: quando começaram a circular imagens de uma pequena escavadora a tentar lavrar o terreno onde a proa do navio se encontrava alojada, a Internet explodiu em escárnio e memes pela escassez de meios para retirar aquele “leviatã” das margens egípcias.

Seis dias depois, o enorme Ever Given, por fim, foi afastado com sucesso da margem. Foi necessário dragar 30 mil metros cúbicos de areia e mobilizar 13 navios-rebocadores para tal — e, mesmo assim, não havia certezas absolutas de que tal resultasse no espaço de uma semana: neste sábado, o presidente da Autoridade do Canal de Suez chegou a admitir não conseguir prever quando é que o porta-contentores seria retirado.

O tom hoje, porém, foi de triunfo. "Conseguimos libertá-lo!", comemorou através de comunicado a empresa proprietária da companhia encarregada do resgate do barco. Mas esta não é ainda altura para festejos, já que demorará perto de três dias e meio até que a navegação seja regularizada no canal.

Ou seja, mesmo sem ter o Ever Given a impedir a passagem, o calvário continuará para as muitas empresas que veem as suas mercadorias a tardar em chegar, sejam aquelas que as encomendaram, as que transportam ou as que expediram.

Para que se tenha noção do impacto, 425 navios aguardavam hoje a passagem pelo Canal, isto excluindo aquelas que não esperaram e optaram por dobrar o Cabo da Boa Esperança pela África do Sul, atrasando em vários dias a sua viagem e contabilizando perdas avultadas.

Passando 12 a 15% do comércio mundial pelo Canal do Suez, a lista de bens retidos com o incidente é interminável: desde petróleo e seus derivados, até chá, móveis do Ikea, muitos milhares de animais destinados ao setor agropecuário, conforme noticiou hoje o The Guardian. O valor total das mercadorias bloqueadas, ou que precisaram de optar por uma rota alternativa, é diferente consoante as estimativas, mas é sempre muito alto: de seis mil milhões de dólares (aproximadamente 5,1 mil milhões de euros) até 10 mil milhões de dólares (8,5 mil milhões de euros), de acordo com a seguradora Allianz.

Espera-se agora que as rotas voltem paulatinamente ao normal, mas para a tripulação do Ever Given, a história pode não acabar aqui. Apesar de o incidente ter sido atribuído num primeiro momento aos fortes ventos combinados com uma tempestade de areia, não foi ainda descartado que uma "falha humana" possa ter provocado o bloqueio.

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