Depois de ter sido oficialmente formalizada a 18 de março, por despacho publicado em Diário da República, a ‘task force’ criada pelo Governo para a promoção do “Plano de Operacionalização da Estratégia de Testagem em Portugal” vai reunir-se amanhã.
O grupo de trabalho — cujo mandato tem a duração de seis meses, renovável em função do progresso da operacionalização do Plano de Testagem — terá como líder o presidente do Instituto Nacional Saúde Ricardo Jorge, Fernando Almeida, além de ter elementos indicados pelo Ministério da Saúde, pelo Instituto Nacional Ricardo Jorge, pela Direção-Geral da Saúde (DGS), pelos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS), pelo Infarmed e pelas Administrações Regionais de Saúde (ARS).
Um dos elementos da equipa, Ricardo Mexia, presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, apresentou ontem durante a reunião de especialistas no Infarmed as orientações gerais para a estratégia de testagem.
“O objeto é a promoção da testagem massiva e sistemática da população, mas pretende-se que essa testagem seja feita com base em critérios objetivos e claros e que essa ação seja adequada ao contexto em que se insere”, frisou Ricardo Mexia, realçando a importância do “modelo participativo” deste processo, ao incluir na operacionalização o setor público, o setor social e o setor privado.
“As linhas estratégicas deverão passar por uma análise epidemiológica, ou seja, o acompanhamento permanente em função da maior incidência e dos contextos em que possa acontecer, seja do ponto de vista das áreas de atividade, seja do ponto de vista geográfico”, sublinhou.
Sem esquecer as questões de testagem relacionadas com profissionais com um maior grau de exposição ao vírus, populações mais vulneráveis — que incluem pessoas em situação de sem-abrigo, trabalhadores sazonais e migrantes — e elementos de serviços essenciais, Ricardo Mexia destacou que "os critérios serão dinâmicos” e apontou como uma das prioridades da estratégia a “necessidade premente de um sistema de notificação ágil e o mais abrangente possível”.
Além disso, o grupo terá também como objetivo a criação de um plano de gestão da reserva estratégica de testes. Ricardo Mexia lembrou ainda que os “testes não se substituem uns aos outros” e alertou para a importância de uma “complementaridade” entre testes moleculares (PCR) e testes rápidos de antigénio (TRAg).
“É fundamental que haja uma manutenção da realização de testes ‘gold standard’, os testes por PCR, de forma a ter uma boa perceção das variantes de interesse que possam eventualmente circular”, explicou, notando “uma certa estabilização dos testes PCR e um aumento muito recente dos testes de antigénio” devido à testagem efetuada na reabertura das creches e escolas do primeiro ciclo do ensino básico.
A realizar-se amanhã, a reunião desta ‘task-force’ decorrerá 44 dias depois de Marta Temido ter destacado na sessão no Infarmed a 9 de fevereiro a necessidade de “voltar a investir no alargamento da testagem", defendendo a “ação decisiva sobre alargamento de testagem, designadamente a massificação dos testes rápidos para rapidamente perceber o estado de circulação da infeção na população”.
Um dia depois, a Direção-Geral da Saúde (DGS) atualizou as suas orientações quanto à testagem durante a pandemia da covid-19, pugnando pelo "alargamento da utilização de testes laboratoriais a todos os contactos (de alto e de baixo risco)", pela "disponibilização generalizada de testes rápidos de antigénio nas unidades de saúde do SNS" e pela "implementação de rastreios regulares com TRAg em contextos particulares como nas escolas e setores de atividade com elevada exposição social (trabalhadores de fábricas, trabalhadores da construção civil, entre outros)".
Entretanto, a 23 de fevereiro, o SAPO24 noticiou como, apesar da nova norma da DGS apontar para a necessidade de um aumento massivo na testagem, tinha-se verificado uma redução do número de testes nesse mês. O Governo, pela voz do secretário de Estado Adjunto e da Saúde, António Lacerda Sales, disse que a testagem massiva ia começar “dentro de muito pouco tempo", mas que ainda havia “processos para limar".
A definição da ‘task-force’ não foi, de resto, o único aspeto da estratégia de testagem do Governo a sofrer atrasos. Apesar de ter sido autorizada a sua venda a 12 de março, os autotestes à covid-19 ainda não se encontram disponíveis ao público nas farmácias e supermercados.
Ontem, durante a sessão no Infarmed, Ricardo Mexia apresentou alguns dados da testagem para as primeiras duas semanas de março. Segundo os valores apresentados, foram feitos 82.425 testes em escolas e registados 81 casos positivos, ou seja, uma taxa de positividade de aproximadamente 0,1%. Já nas prisões realizaram-se 14.702 testes, dos quais 1.019 se revelaram positivos (6,9%). Quanto à presidência do Conselho de Ministros, apenas 25 dos 1.797 testes tiveram um resultado positivo (1,4%).
Finalmente, nos lares de idosos foram realizados 150.163 testes, com 2.627 a darem um resultado positivo (1,8%), enquanto na Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI) fizeram-se 58.609 testes e 2.652 (4,5%) confirmaram um diagnóstico positivo para a infeção pelo vírus SARS-CoV-2.
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