“Será o menos mal”, acrescentou a investigadora, especialista em oceanografia geológica e paleoceanografia, autora de artigos científicos e uma das profissionais do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
Fátima Abrantes falava à Lusa no âmbito de um seminário que o IPMA organizou hoje em Lisboa sobre “Alterações Climáticas e recursos marinhos: passado, presente e futuro”.
Falando sobre “fenómenos extremos no passado”, Fátima Abrantes socorreu-se durante a intervenção no seminário de dados científicos para explicar que alterações climáticas já aconteceram no passado e que os oceanos sofreram grandes transformações, com zonas de muito peixe a ficarem despovoadas e vice-versa.
Mas a especialista explicou que não estava a negar ou desvalorizar o atual processo de alterações climáticas, que, disse, está a acontecer de forma mais intensa e mais rápida do que noutros momentos, devido à ação do Homem sobre o planeta.
“O que está estável há 15 milhões de anos na Antártida e há 2,6 milhões no Ártico está a tornar-se instável de uma maneira muito rápida. A questão não é que nunca aconteceu, já aconteceu, a questão é que a quantidade e rapidez com que está a aumentar é muito superior”, exemplificou à Lusa.
Otimista em relação ao planeta, Fátima Abrantes já o é menos quanto aos seres humanos. Diz que as alterações de clima que existem desde o inicio da vida da Terra mostram que o sistema climático se altera “mas que tudo se rearranja e que o planeta continua”, ainda que as condições possam “não ser muito favoráveis para os humanos”.
“Há alterações na biodiversidade, certamente organismos serão extintos e outros aparecerão, mas nos não sei se teremos capacidade para resistir”, avisa.
Há três a cinco milhões de anos também se registava grande quantidade de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, e há 65 milhões as concentrações ainda eram superiores, supostamente devido à libertação de grandes quantidades de metano, um processo que pode agora estar a repetir-se, disse a cientista.
Nos últimos mil anos, lembrou Fátima Abrantes, houve na Europa um aumento da temperatura no período medieval, ao que se seguiu um arrefecimento. A diferença das temperaturas foi de cerca de um grau, o suficiente para os vikings se expandirem e ocuparem a região da Europa do norte, no período medieval, e quase desaparecessem no período frio por “não conseguirem adaptar-se às novas condições”. Os inuítes (Canadá) no entanto conseguiram adaptar-se.
Fátima Abrantes citou um estudo para dizer que os vikings tinham uma sociedade mais complexa e que por isso não se adaptaram tão bem como os inuítes, e conclui: “Acredito que quanto mais complexa a organização mais difícil conseguir que a população, como um todo, aceite a possibilidade de ter que alterar a forma de vida”.
A investigadora lembra a complexidade das sociedades atuais. E também que muitos políticos influentes são hoje céticos em relação às alterações climáticas.
É verdade que as alterações climáticas sempre existiram “só que os ciclos no passado estavam associados às variações orbitais, que têm a ver com a posição da Terra em relação ao Sol”. Eram ciclos muito longos e o aumento de CO2 era mínimo em relação que acontece hoje, na alteração provocada pela Homem, disse.
“O problema não é o efeito de estufa, é o seu aumento descontrolado”, acrescentou Silvia Antunes, técnica superior do IPMA, que citou estatísticas para dizer que os meses de novembro e de março têm sido aqueles em que têm sido sentidas as diferenças de temperatura mais significativas.
Pela rapidez das alterações, no seminário falou-se também da necessidade de minimizar impactos, como fez a especialista Susana Costas, a propósito da proteção da orla costeira algarvia face à subida do nível da água do mar.
O seminário termina na tarde de hoje, com a discussão dos impactos económicos e adaptações às alterações climáticas.
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