Dizem as más língua que Pedro traiu Jesus. Não uma nem duas, mas três vezes… E antes do cantar do galo, ainda por cima!

E assim Cristo morreu crucificado… Judas morreu enforcado… E Pedro foi pro seu canto chorar suas mágoas de traidor. Não só perdera seu mestre, como também seu amigo mais íntimo e o seu Deus.

Mas dizem também que, passados três dias, Jesus ressuscitou. E que Pedro, depois de ter corrido até o sepulcro e não ter visto ninguém, foi para a praia pescar com Tomé e Natanael.

Foi então que Cristo apareceu, ressurrecto dos mortos, para confrontar o apóstolo com o que tinha feito.

— Pedro, — Perguntou Jesus sem grande cerimónia, enquanto apontava para Tomé e Natanael. — amas-me mais do que estes?

— Sim, Senhor. — Respondeu Pedro — Tu sabes que te amo.

Mas Cristo não estava satisfeito com a resposta e perguntou novamente. — Pedro, filho de João, tu me amas?

— Sim, Senhor. — Mais uma vez afirmou Pedro. — Tu sabes que te amo.

Embora não houvesse ali galo para cantar, Jesus insistiu numa terceira pergunta. — Pedro, filho de João, tu me amas?

E Pedro ficou então muito triste com aquela terceira pergunta. Talvez tenha se lembrado das suas três traições antes do cantar do galo, ou talvez não. O que importa é que respondeu a Jesus. — Senhor, tu sabes todas as coisas, tu sabes que eu te amo.

E foi aí, e só aí, que Cristo se deu por satisfeito e lhe fez um pedido. — Já que me amas, apascenta as minhas ovelhas.

Alguns dizem que o português é traiçoeiro, mas dizem isso só porque não conhecem grego. Os gregos tornavam complicado o fácil e impossível o que era difícil. A palavra amor, por exemplo, tinha quatro formas.

Agape era o “amor verdadeiro” que a Disney tanto fala, um amor que só Deus tem. Philos era o amor de amigo, que temos uns com os outros. Storge era o amor da família, de mãe e de filho. E Pragma, uma expressão do Eros, era o amor romântico, a paixão que tanto ansiamos encontrar.

E assim voltamos a Pedro e a Cristo, em pleno Império Romano, há dois mil anos.

— Pedro, tu agapas-me?

— Sim, Senhor. Tu sabes que te philos.

— Pedro, filho de João, tu agapas-me?

— Sim, Senhor. Tu sabes que te philos.

— Pedro, filho de João, tu philos-me?

Então Pedro se entristece e responde. — Senhor, tu sabes todas as coisas, tu sabes que eu te philos.

Jesus pediu a Pedro aquilo que dele esperava: um amor perfeito.

Mas quando Pedro, na sua sinceridade de coração, deixou claro que nunca seria capaz de dar o amor que seu mestre pedia, não foi descartado. Pelo contrário, Cristo desceu até onde Pedro poderia chegar e disse. — Se isso é o teu melhor, Pedro, eu estou satisfeito em recebê-lo. Pega esse amor imperfeito que tens e apascenta minhas ovelhas.

E assim termino a dizer que isso é amor. Ao invés de exigir dos outros que atinjam as nossas expectativas, amar é perdoar suas falhas e descer até onde eles, na sinceridade dos seus corações, são capazes de alcançar.


Texto por Eduardo Fernandes. Hoje, Dia dos Namorados, publicamos uma seleção dos textos que resultaram da iniciativa lançada pelo SAPO24 e O Primeiro Capítuloassinados por novos nomes de quem tem na escrita uma forma de expressão. 

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