1. Covid-19: O referendo a Trump
2. Economia: Impostos, o eterno busílis da questão
3. Ambiente: Da inspiração democrata em Al Gore à pouca fé de Trump na ciência
4. Justiça: As várias maneiras de manter a ordem
5. Saúde: Mais ou menos Estado?
6. Imigração: Uma nação de imigrantes ou a terra-natal
7. Política Externa: (Quase) o mundo inteiro com os olhos postos em dia 3 de novembro
8. Direito à Vida: Opiniões de base iguais, decisões finais distintas

Donald Trump durante a conferência de imprensa diária para atualização dos dados sobre a covid-19 no país, a 31 de março de 2020, na Casa Branca. créditos: MANDEL NGAN / AFP


1. Covid-19: O referendo a Trump

O que está em causa?

Os Estados Unidos da América são o país que regista maior número de casos, segundo a Organização Mundial de Saúde, a 26 de Outubro de 2020, com mais de 8 milhões e 400 mil pessoas infetadas. Ultrapassadas as 220 mil mortes devido ao novo coronavírus, é também o país com o maior número de óbitos registados.

Até dia 26 de Outubro, por cada milhão de habitantes, mais de 25 mil pessoas foram contagiadas (ainda assim atrás de Bélgica, Israel, Chile, Panamá, Qatar ou Bahrain) e por cada milhão de habitantes nos EUA, morreram 674 pessoas com Covid-19 (números menores do que os registados em Espanha, Bélgica, Brasil, Perú, Chile ou México).

O que propõe Joe Biden?

Sob o mote de “restaurar a confiança, a credibilidade e um propósito comum”, Joe Biden defende que se façam testes grátis e rápidos para todos, o desenvolvimento de uma vacina, o melhoramento das condições de segurança sanitária nos locais de trabalho e o uso obrigatório de máscara em espaços públicos.

Critica ferozmente a gestão atual da pandemia, dizendo que Trump não tem um plano e que mente constantemente aos americanos quanto ao que sabe e não sabe sobre a doença. No segundo debate televisivo, a 22 de outubro, contestou a ideia de Trump de que não se deve “aprender a viver com o vírus”, afirmando que as pessoas estão a “morrer com o vírus”.

Defende que a abertura de estabelecimentos e da economia em geral é possível, no contexto de um desconfinamento controlado com condições de segurança e distanciamento social, especialmente nas escolas.

Assim,o democrata afirma que se deve gastar o necessário, sem demora, para responder às necessidades de saúde pública atual.

Biden elenca ainda o objetivo imediato de restaurar a “White House National Security Council Directorate for Global Health Security and Biodefense”, uma unidade permanente de resposta na Casa Branca, que visava o estudo e a prevenção de futuras pandemias. Esta equipa foi estabelecida pela administração Obama-Biden, em 2016, e, alegadamente, eliminada pela administração Trump-Pence, em 2018.

O que propõe Donald Trump?

O candidato republicano defende as suas políticas à frente do país, tendo afirmado no último debate presidencial que fechou o país no tempo certo, e evitou a morte de 2,2 milhões de pessoas.

É favorável a um desconfinamento progressivo e a um ritmo mais rápido do que aquele que Biden propõe. Afirma que o país precisa de ser aberto, porque a cura não pode ser maior que a doença. Considera que é necessário ajudar os pequenos negócios que estão a morrer, na medida em que mantê-los fechados apenas contribui para o aumento das depressões, suicídios e dependências (como drogas).

Acusa Biden de demasiada cautela no uso da máscara e promete uma vacina muito em breve, até ao final do ano, distribuída rapidamente através das forças militares.

Contraiu recentemente o vírus e diz que o REGN-COV2 que o tratou, medicamento da farmacêutica Regeneron, pode ser a cura há tanto procurada.

Quanto à “White House National Security Council Directorate for Global Health Security and Biodefense”, Tim Morrison, conselheiro presidencial de Trump, esclareceu ao The Washington Post, que a equipa não foi totalmente aniquilada, mas antes incluída num outro diretório, que inclui também resposta a armas de destruição maciça, enquanto ameaças globais.

O que mais os une ou separa?

Têm abordagens e estilos diferentes, e isso é mais do que evidente. Em matéria de gestão da pandemia, a missão é a mesma em termos gerais - proteger em termos económicos as famílias e os negócios e encontrar vacina e tratamento - mas, na prática, Trump tem tido um comportamento errático que faz do tema Covid-19 a sua maior fragilidade na corrida à Casa Branca.


Sem-abrigo deitado num banco de rua em frente à bolsa de valores em Wall Street, Nova Iorque, a 13 de julho de 2020. Na fachada do edifício, uma mensagem diz "Juntos somos fortes". créditos: Johannes Eisele / AFP


2. Economia: Impostos, o eterno busílis da questão

O que está em causa?

A necessidade de uma recuperação económica após uma queda histórica decorrente do impacto da pandemia é o grande tema nestas eleições. Até março, o desempenho económico era uma das principais forças de Trump na sua campanha de reeleição; com a pandemia e a queda no PIB e a perda de postos de trabalho muita coisa mudou e os dois candidatos apontam caminhos diferentes para recuperar a saúde económica. Entre as várias medidas, o aumento ou a descida de impostos, um tema clássico em praticamente todas as eleições americanas, é um dos principais pontos de divergência.

O que propõe Joe Biden?

Em matéria de impostos, Biden garante que todos aqueles que ganhem menos do que 400 mil dólares por ano não verão os seus impostos aumentados. O democrata vai também criar um imposto sobre a deslocalização de empresas americanas, punindo a venda ao país de origem quando a produção é feita, por ser mais barato, fora dos EUA - impulsionando a lógica "Made-in-America". Para além disto, destaca-se o imposto mínimo sobre 15% do lucro de todas as empresas, para que todas paguem impostos, e a imposição a quem tem rendimentos superiores a um milhão de dólares, nomeadamente obtidos através de investimentos (na bolsa, por exemplo) taxados da mesma maneira que os rendimentos do trabalho.

O candidato democrata diz que a economia tem de ser melhor do que era antes de Covid-19, com menos desigualdades económicas e sociais. “Trump recompensa os ricos, Biden recompensa o trabalho”, afirma. Defende um maior apoio aos desempregados, às famílias e aos governos locais, especialmente nestes tempos de pandemia, e propõe um plano de produção “Made-in-America”, ou seja, totalmente feito em solo americano.

Prepara um investimento de 400 mil milhões de dólares em compras federais para produtos que sejam produzidos nos EUA e 300 mil milhões para criar empregos nas áreas das novas indústrias e tecnologias.

No capítulo do salário mínimo, propõe um aumento 7,25 dólares por hora para 15 dólares por hora.

O que propõe Donald Trump?

Em 2017, Donald Trump apresentou uma proposta que entrou em vigor no ano seguinte de cortes nos impostos, que considerou ser uma grande vitória fiscal, afirmando que fez com que todos os americanos pagassem menos impostos. No entanto, foram as grandes empresas e os mais ricos aqueles que mais beneficiaram.

Ao contrário de Biden, que pretende aumentar os impostos dos mais ricos, Trump aposta numa política de diminuição geral dos impostos.

A taxa de desemprego, que atualmente está nos 7,9%, chegou a estar, em fevereiro deste ano, nos 3,5% - um número histórico e o mais baixo dos últimos 50 anos. A ideia de Trump é regressar a tais valores.

De maneira a ajudar empresas e empresários, criou o “Paycheck Protection Program”, um programa de 659 mil milhões de dólares, com o intuito de emprestar dinheiro a pequenos negócios. Tais empréstimos podem ser perdoados, sob certas condições, como a manutenção do nível de salários e do número de trabalhadores nas empresas. As inscrições para o programa terminaram em agosto, desconhecendo-se futuras renovações.

No que respeita às famílias, através de “Economic Impact Payments” o governo de Trump propôs uma fórmula de assegurar pagamentos diretos a agregados com baixos rendimentos neste ano.

No capítulo do salário mínimo, Trump discorda que obrigar pequenos negócios a pagar valores mais elevados seja uma boa medida.

O que mais os une ou separa?

O objetivo global é o mesmo, mas os caminhos são diferentes. A abordagem democrata passa por um aumento do salário mínimo nacional e pela subida de impostos aos mais ricos, os republicanos defendem uma contínua descida dos impostos para todos e o combate ao desemprego. O plano de Biden “Made-in-America” dificilmente pode ser descolado das medidas elencadas por Donal Trump há quatro anos quando fez do regresso ao território americano de fábricas que operavam noutros países uma das bandeiras eleitorais.


Pôr do sol por detrás dos postes de eletricidade em Los Angeles, Califórnia, a 3 de setembro de 2020, nas vésperas de uma onda de calor. créditos: Frederic J. Brown / AFP


3. Ambiente: Da inspiração democrata em Al Gore à pouca fé de Trump na ciência

O que está em causa?

Este é um dos temas em que está em causa uma visão diferente em quase tudo e sobretudo no papel que os Estados Unidos devem desempenhar na luta para travar as alterações climáticas. Essa diferença entre os dois candidatos traduz-se depois num sem número de temas, desde a aposta nas energias renováveis versus energias fósseis à forma como os Estados Unidos se vinculam aos esforços e organizações internacionais.

O que propõe Joe Biden?

Com o objetivo de atingir 100% de eletricidade sustentável até 2050, o candidato democrata pretende investir 2 mil milhões de dólares numa rede transportes públicos com zero emissões de gases poluentes e na criação de novos empregos na área das energias renováveis e habitações sustentáveis.

Tem como objetivo o abandono do carvão até 2035 e defende a substituição do tipo de trabalho laboral de 250 mil trabalhadores relacionados com as áreas do petróleo, gás natural ou carvão.

Com base na política seguida pela administração Obama em matéria de regulação das emissões de automóveis, Biden quer criar 500 mil novas estações de carregamento de carros elétricos e incentivar a fabricação de carros sem emissão de gases poluente.

Promete, desde o dia “1”, um papel de liderança mundial no combate ao aquecimento global e o regresso dos Estados Unidos da América ao Acordo de Paris (um acordo mundial num contexto de desenvolvimento sustentável).

O que propõe Donald Trump?

Não tem um plano climático no site da sua campanha, mas tem uma secção de energia e meio ambiente em que se demarca das políticas da era Obama-Biden.

Pretende continuar a expansão, desenvolvimento e aumento da exportação de carvão, petróleo e gás natural e criar postos de trabalho nestas áreas.

Colocou um ponto final no Clean Power Plan de Obama e propôs o Affordable Clean Energy Rule, um plano focado na regulação da eficiência na produção de energia e não nos limites para a emissão de gases com efeito de estufa.

Em 2019, formalizou o início do processo de saída do Acordo de Paris e nessa altura Mike Pompeo, Secretário de Estado americano, afirmou que tal acordo “constitui um peso económico injusto” para o país.

O que mais os une ou separa?

Biden considera o ambiente um tema fundamental e defende a liderança e o exemplo que o país deve oferecer a nível mundial. Pretende reentrar no Acordo de Paris e apostar numa estratégia de aposta em energias renováveis. Trump tem abordado as alterações climáticas com um tema secundário, questionando a importância mesmo em relação às recomendações científicas. A sua visão é a da prioridade da economia - como existe - e da defesa da manutenção e criação de postos de trabalho nas áreas dos combustíveis fósseis.


Um homem usa uma proteção de lata com um "smiley" durante um protesto em Denver, Colorado, a 23 de setembro, contra a decisão do tribunal de não acusar nenhum agente da polícia no caso da morte de Breonna Taylor, que morreu durante uma operação policial. créditos: Michael Ciaglo/Getty Images/AFP


4. Justiça: As várias maneiras de manter a ordem

O que está em causa?

A morte brutal de George Floyd, a 25 de maio de 2020, às mãos de um polícia, em Minneapolis, trouxe o tema da justiça para primeiro plano nestas eleições. O caso Floyd somou-se a outros. Reavivou a desconfiança nas forças policiais e as acusações de abusos de poder e trouxe milhares de americanos para as ruas. Nos últimos meses, várias cidades americanas tiveram as forças federais na rua para conter manifestações e confrontos e a forma como cada candidato se propõe garantir a segurança, por um lado, e o respeito pela lei e pela igualdade de tratamento dos cidadãos, por outro, são temas essenciais na agenda.

Outros temas em causa em matéria de justiça prendem-se com a legalização de droga, a posse de armas de fogo e a pena de morte .

O que propõe Joe Biden?

Defende o fim da pena de morte em todos os Estados, o fim das prisões privadas e da possibilidade de pagar uma fiança e sair em liberdade. Afirma também ser contra a existência de sentenças mínimas obrigatórias.

Pretende descriminalizar o consumo de cannabis, apoiando que quem tem problemas com o consumo de drogas deve ser colocado em reabilitação e não em prisões. Esta posição é importante, pois, há mais de 25 anos foi o principal responsável por uma legislação que postulava uma opção completamente diferente. A “1994 Crime Law” – ou “Biden Crime Law” – ganhou destaque pois incentivava a prisão por posse de droga, o que levou muitos americanos a serem presos pela posse de pequenas quantidades de droga. Como foi possível assistir no último debate televisivo, o candidato democrata admite hoje que tais políticas foram um erro, e a sua visão atual é a do privilegiar o tratamento de quem tem problemas com droga, e não a sua prisão.

Promete mil milhões de dólares para a reforma do sistema judicial juvenil e 20 mil milhões para os Estados apostarem na passagem de políticas de punição para a prevenção de crimes.

Quer uma polícia mais diversificada, de maneira a evitar tensões com as comunidades, e, para isso, tem planeados 300 milhões de dólares para a contratação e formação de polícias. No último debate disse, também, ser inadmissível que uma mãe afro-americana, ao contrário de uma mãe branca, tenha de ensinar aos seus filhos como responder corretamente a um agente da autoridade, sob pena de injustiças ocorrerem.

Relativamente à posse de armas de fogo, é a favor de uma maior exigência de requisitos para se conseguir comprar uma, nomeadamente uma melhor confirmação do histórico de potenciais compradores. Tem no seu plano prevista uma política de recompra de armas a civis por parte do Estado.

O que propõe Donald Trump?

É previsível um prosseguir de reforma judicial, aumentando ainda mais as nomeações de juízes federais, sendo já mais de 130, entre tribunais de distrito e de recurso - para além das três nomeações para o Supremo Tribunal dos Estados Unidos da América, incluindo a mais recente indicação da juíza Amy Coney Barett (já confirmada).

Os juízes de distrito estão distribuídos por 94 tribunais  em todo o país e os juízes de recurso têm como missão verificar se a lei foi corretamente aplicada pelos primeiros. O Supremo Tribunal é o último guardião da lei federal americana. A importância destas nomeações reside no facto de os juízes apontados por Trump serem mais conservadores, ou seja, mais próximos das ideias republicanas. Tendo em conta as diferentes leis entre estados, esta reforma judicial, com uma maioria republicana entre os juízes, poderá servir para considerar a inconstitucionalidade de certas legislações, como será o caso do direito ao aborto ou do sistema nacional de saúde (o "Obamacare").

O candidato da “Lei e Ordem”, como ficou conhecido em 2016, coloca o foco no respeito pelas instituições que garantem a segurança do país, mas, face aos acontecimentos recentes, afirmou ser favorável ao melhoramento das técnicas usadas pelos meios policiais, tendo, após a trágica morte de George Floyd, banido a prática do estrangulamento por forças policiais, com exceção para situações de “vida ou morte” para o agente.

Durante o primeiro mandato defendeu a pena de morte para crimes de ódio e assassínios em massa, restabelecendo, em 2019, a pena de morte por crimes federais. A primeira execução ocorreu em julho de 2020.

Em 2018, assinou a lei do “First Step Act”, uma medida bipartidária, entre democratas e republicanos, que reduz as sentenças mínimas obrigatórias, expande os programas de tratamento de drogas e permite que alguns prisioneiros terminem as suas sentenças mais cedo por bom comportamento.

Mantendo-se fiel à 2ª Emenda à Constituição Americana, é a favor do porte de armas pelos cidadãos, para que melhor protejam as suas famílias.

O que mais os une ou separa?

Através do "First Step Act", uma medida trabalhada tanto pelo partido democrata como pelo partido republicano, e assinada por Trump em 2018, é possível entender certos pontos de convergência entre os candidatos, como a redução das sentenças mínimas obrigatórias, a aposta na educação e formação de prisioneiros durante o seu tempo de encarceração e o incentivar de políticas de reinserção na sociedade de ex-prisioneiros.

Sobre a atuação das forças de segurança, Joe Biden tem insistido na renovação e necessidade de diversidade das forças policiais, apelando à sensibilidade do eleitorado após a chocante morte de Floyd, enquanto Trump privilegia o discurso de defesa das forças de segurança.


Profissional de saúde em frente a um hospital em Nova Iorque, a 14 de setembro. créditos: Spencer Platt/Getty Images/AFP


5. Saúde: Mais ou menos Estado?

O que está em causa?

A grande questão em debate nos Estados Unidos, apesar das enormes diferenças face à Europa, é a forma de atuar e de financiar o Sistema Nacional de Saúde. Nos EUA, ao contrário do que acontece em Portugal, os cidadãos não podem aceder livremente a um hospital e esperar serem atendidos sem custos ou com custos reduzidos. Desde consultas do dia a dia, a emergências ou a cirurgias  - uma operação nos Estados Unidos da América pode custar milhares de euros e manter uma família endividada a vida inteira - o acesso à saúde é um tema crítico na governação do país.

O que propõe Joe Biden?

O plano de saúde proposto por Biden custará 775 mil milhões em 10 anos e será financiado pelo aumento dos impostos sobre quem tem mais rendimentos.

Tendo feito parte de todo o processo de construção do “Affordable Care Act”, mais conhecido como “Obamacare”, o candidato demcrata promete revigorar o programa que se orgulha ter visto nascer. O “Obamacare” funciona como uma espécie de sistema nacional de saúde, permitindo que pessoas sem rendimentos suficientes, possam ser assistidos sem se endividarem.

Para além disto, Joe Biden defende a expansão do “Medicare” e o “Medicaid”, programas governamentais que funcionam como seguro de saúde propriamente dito e como ajuda a pagar outros seguros de saúde privados. Defende, também, que faz sentido importar medicamentos de países estrangeiros, de maneira a reduzir custos.

O que propõe Donald Trump?

Tem criticado ferozmente o “Obamacare” e prometido constantemente um novo e mais económico plano de saúde para os Estados Unidos da América – o “Trumpcare”. Todavia, não existe informação concreta em relação a  como funcionaria.

Donald Trump defende também que a reforma do sistema de saúde tem de passar pelo acesso a medicamentos mais baratos, até importados se necessário, e pelo desenvolvimento de medicamentos genéricos, que têm preços mais acessíveis.

O que mais os une ou separa?

Uma nítida linha divisória separa os dois candidatos, cujas opiniões nesta matéria são tão conciliáveis como água e azeite. Biden, seguindo a visão de Barack Obama, pretende (re)criar uma linha de apoio às pessoas. Já Trump, analisando a temática num ponto de vista mais monetário, diz que não é sustentável levar avante a direção do seu antecessor. Sobre o acesso a medicamentos mais baratos, as posições dos dois candidatos são mais próximas.


Omar Abdalla, natural da Palestina, junto a uma funcionária dos serviços de imigração, segura uma bandeira norte-americana depois de se ter tornado cidadão dos EUA. A cerimónia de receção de que fez parte aconteceu em versão drive-in, a 29 de julho, na Califórnia. créditos: Mario Tama/Getty Images/AFP


6. Imigração: Uma nação de imigrantes ou a terra-natal

O que está em causa?

Sendo os Estados Unidos da América uma nação classicamente construída pelos imigrantes que foram chegando ao país durante décadas, as políticas de imigração são um tema que atinge grande parte da população do país. Em 2016, Donald Trump fez da construção do muro na fronteira com o México não só uma bandeira política como um símbolo da forma como olhava para a imigração ilegal; Biden tem-se demarcado do adversário em tudo ou quase tudo nesta matéria.

O que propõe Joe Biden?

O democrata lembra que os Estados Unidos da América são uma “nação de imigrantes”, um país construído através do cruzamento e trabalho de várias culturas em comunidade, e defende por isso a modernização do sistema de acolhimento de imigrantes.

Nos primeiros 100 dias de mandato, afirma que irá fomentar a ajuda humanitária na fronteira com o México, acabar com a prática de separação de famílias e reformar e facilitar o processo de naturalização.

Pretende proteger o “Deferred Action for Childhood Arrivals” (DACA), um programa para proteger os denominados “Dreamers”, crianças que crescem como ilegais nos Estados Unidos da América.

Declara também a intenção de acolher 125 mil refugiados por ano, com possibilidade de aumentar esse valor.

O que propõe Donald Trump?

Na secção de imigração do site de campanha de Donald Trump pode ler-se como mote: “Proteger o povo americano e a nossa terra-natal”.

Durante o seu mandato, uma das medidas com que avançou foi retirar o país do “Global Compact on Migration”, um pacto mundial promovido pelas Nações Unidas que visa o desenvolvimento sustentável da migração.

O atual presidente acabou com o “DACA” (“Deferred Action for Childhood Arrivals” ), bloqueando novas inscrições e permitindo apenas renovações por 1 ano (e não pelos habituais dois)  e defende que se deve chegar a uma solução legislativa mais conforme para estas situações.

É também a favor da implementação de políticas que permitam às autoridades dos Estados Unidos da América deportarem rapidamente imigrantes ilegais capturados na fronteira com o México.

Trump pretende continuar o erguer de um muro na fronteira com o México, sendo que o objetivo é chegar no início do próximo ano a mais 805 quilómetros de muro construídos.

O que mais os une ou separa?

Esta é uma área de enorme cisão entre os dois candidatos à Presidência. Biden vê no acolhimento e inclusão de estrangeiros uma força da nação americana e Trump quer um maior controlo de quem entra para lá da fronteira americana, não acreditando em beneficiar quem não cumpre as normas do país.


Donald Trump durante o seu discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque, a 22 de setembro de 2020. O presidente dos EUA sublinhou que responsabiliza a China pela pandemia da covid-19. créditos: Rick BAJORNAS / UNITED NATIONS / AFP


7. Política Externa: (Quase) o mundo inteiro com os olhos postos em dia 3 de novembro

O que está em causa?

Sendo os Estados Unidos da América uma das maiores potências mundiais, o impacto desta eleição tem consequências a nível global. As relações comerciais com a China, o contributo americano para a desnuclearização mundial, o combate à Al-Qaeda e ao autoproclamado "Estado Islâmico", a forma de olhar para a Rússia e o papel de liderança que os Estados Unidos da América desejam continuar a assumir são os pratos fortes de um menu muito mais alargado e por onde passa o equilíbrio geo-político mundial.

O que propõe Joe Biden?

Depois de ser noticiado que a Rússia e o Irão estavam a tentar interferir nas eleições americanas, através do recolher de informações sobre os eleitores, Biden garantiu que qualquer país que interfira com as eleições americanas irá pagar caro.

O candidato democrata promete promover a investigação sobre o início da pandemia na China e apurar responsabilidades segundo as regras internacionais.

Aposta num maior diálogo com o resto do mundo, reiterando várias vezes a necessidade dos Estados Unidos da América se apresentarem como um país-líder, tanto a nível climático, como nas relações económicas e de paz. No entanto, é necessário que sejam não só um exemplo, mas um impulsionador de boas práticas.

Constantemente declara, também, o reavivar das relações com os aliados clássicos.  À partida, e apesar de não o afirmar explicitamente, pode presumir-se um melhoramento das relações existentes com a NATO (Organização do Tratado do Atlântico Norte), que engloba a Europa e o Canadá, mas também o respeitar de relações históricas com Austrália e Coreia do Sul, por exemplo.

A abordagem será mais diplomática, mas não tem problemas em colocar barreiras de princípios em negociações. Como tal, a exploração de trabalhadores na China e o abuso relativamente ao meio ambiente são pontos com os quais o país não pode compactuar sob a sua liderança.

Defende o diálogo com a Rússia, China, Irão e Coreia do Norte, mas sem nunca abdicar dos interesses e valores americanos e mundiais, nomeadamente ao nível do desarmamento e da desnuclearização. Neste tópico acusa Donald Trump de muitas vezes, especialmente nos encontros com Kim Jong Un, acabar por sair fracassado e sem grandes progressos no desenrolar das negociações.

Propõe-se acabar com as guerras do Afeganistão e do Médio Oriente, pretendendo trazer a maior parte das tropas de volta aos Estados Unidos da América e focando o combate em áreas circunscritas de combate à Al-Qaeda e ao Estado Islâmico.

O que propõe Donald Trump?

É na China que se dá o início da pandemia do novo coronavírus e Trump tem dúvidas sobre a atuação do país asiático. Tem afirmado publicamente a sua desconfiança, dizendo que acha, no mínimo, estranho que a China não estivesse consciente da gravidade da situação muito antes de janeiro/fevereiro e pretende um inquérito esclarecedor, averiguando responsabilidades. Para além disto, criticou múltiplas vezes, ao longo dos últimos meses, o papel da Organização Mundial de Saúde e a sua falta de transparência na questão da Covid-19.

Em 2018, a administração Trump impôs tarifas comerciais a produtos vindos do mercado chinês, pretendendo fomentar a produção nacional e reduzir a importação, numa manobra que prejudicou claramente os interesses de uma das maiores economias do mundo – a chinesa. 

É favorável à melhoria das condições da Secretaria da Defesa - departamento é o responsável pelas forças militares dos Estados Unidos da América - , garantindo mais fundos e modernizando as forças armadas para as necessidades do presente. À semelhança de Biden, Trump também afirma que as tropas devem regressar a casa.

A relação com a Rússia é controversa desde a campanha da sua eleição, mas Trump refere recorrentemente as sanções que tem aplicado, nomeadamente pelo uso de armas químicas, pela invasão da Crimeia e pelos crimes e espionagem informática. Não impede que seja várias vezes acusado por Biden de manter relações informais com Vladimir Putin, líder russo.  Trump é acusado pelos democratas de ter uma versão mais negocial e menos ética, o que acaba por beneficiar regimes ditatoriais como o russo.

No entanto, apesar do apoio e proteção que Trump tem vindo a dar a Israel, tendo declarado, inclusive, Jerusalém como capital do país (o que é crítico, já que este é um tema fraturante nas relações com a Palestina que declara parte da cidade como sua), algum eleitorado judaico-americano não está satisfeito com a postura do atual Presidente.

O que mais os une ou separa?

Ambos os candidatos defendem uma política de relações externas e de desnuclearização mundial, mas a abordagem é diametralmente oposta.

Biden propõe um papel de liderança num ambiente de paz e diplomacia, mas sem abdicar dos seus princípios base.

Trump tem-nos habituado a um estilo mais instável e menos comum. No entanto, tem tentado desenvolver uma imagem de mediador, nomeadamente com Israel e com a Coreia do Norte.

A intenção de regresso das tropas americanas a casa parece ser também uma vontade comum e é um tema sensível na sociedade americana.  O conflito no Afeganistão começou com o Presidente George W. Bush, em 2001, já se passaram quase 20 anos, Osama Bin-Laden (líder da Al-Qaeda) foi executado em 2011 pela administração Obama-Biden, mas a guerra parece não ter fim. Já no Médio Oriente, o combate, desde 2014, passa pelo desmantelamento do autoproclamado “Estado Islâmico”, com frentes na Síria, na Líbia e no Iraque.


Modelo de um feto em frente ao Supremo Tribunal, em Washington, a 29 de junho, durante um protesto de ativistas pró-vida. créditos: Alex Wong/Getty Images/AFP


8. Direito à Vida: Opiniões de base iguais, decisões finais distintas

O que está em causa?

O direito ao aborto é um tema que divide opiniões e nos Estados Unidos é ciclicamente alvo de debates e de atos que evidenciam as diferenças no país.

O que propõe Joe Biden?

Católico assumido, o candidato democrata diz que é contra o aborto, na medida em que considera que a vida começa na conceção do ser humano. No entanto, defende que o Estado não deve interferir impondo esta visão a todas as pessoas.

O que propõe Donald Trump?

O candidato republicano é também contra o aborto, fazendo desta abordagem pró-vida uma bandeira, mas defende que o Estado pode e deve interferir neste assunto.

Foi o primeiro presidente na história do Estados Unidos da América a participar na anual marcha pela vida em Washington DC, em janeiro deste ano de 2020.

O que mais os une ou separa?

São ambos contra o o aborto, mas diferem quando questionados se o Estado deve impor uma regra geral ou não, com Biden mais liberal e Trump mais conservador.


Pesquisa: João Maldonado

Edição: Rute Sousa Vasco e Margarida Alpuim

Ilustração: Rodrigo Mendes