“O meu apelo ao Governo [polaco] e à comunidade internacional é que Varsóvia está a ficar esmagada”, disse Rafal Traskowski, num encontro com jornalistas internacionais na câmara municipal de Varsóvia.

Rafal Traskowski lembrou que 60% dos refugiados que saíram da Ucrânia após a invasão russa de 24 de fevereiro foram para a Polónia, ou seja, 1,7 milhões de pessoas, e acrescentou que 200 mil estão em Varsóvia, que aumentou em 15% a sua população em duas semanas.

“Precisamos de ajuda. Precisamos das Nações Unidas e da União Europeia aqui”, afirmou, lembrando as diversas agências da Organização das Nações Unidas (ONU) que lidam e têm experiência com refugiados, migrações ou assistência a crianças.

Da parte da União Europeia (UE), referiu a ECHO, a Direção-Geral da Proteção Civil e das Operações de Ajuda Humanitária Europeias, para resposta de emergência, e a necessidade de ser criado um sistema de recolocação de refugiados na Europa.

“Precisamos de um sistema, de uma resposta sistematizada. O que está a acontecer não tem precedentes. Sim, a solidariedade é incrível, todos estamos a receber os refugiados com o coração aberto, mas sem os voluntários, as organizações não-governamentais e o trabalho dia e noite de todas as pessoas, o que temos agora já teria colapsado e não aguentaria esta pressão”, disse Rafal Traskowski.

No início do conflito, sublinhou, 97% dos refugiados tinham amigos e familiares para os acolher em Varsóvia ou outras cidades polacas e europeias, pelo que a assistência nos centros de receção era sobretudo responder a necessidades imediatas e de encaminhamento.

No entanto, neste momento, 30% dos refugiados já precisa de uma resposta de alojamento e chegam cada vez mais pessoas “traumatizadas com a guerra e desorientadas”.

Segundo afirmou, a resposta que tem sido dada pelas autoridades locais na Polónia tem sido “sincronizada” entre autarcas e presidentes regionais do país e com outros dirigentes locais do resto da Europa, sobretudo ao nível da recolocação de pessoas, “mas não é coordenada, não há um sistema, é uma improvisação”.

O mesmo acontece na resposta a pedidos de ajuda humanitária, com solicitações específicas, de autarcas ucranianos.

“Não podemos improvisar mais”, sublinhou.

“Todos os funcionários da câmara de Varsóvia, ou a maioria deles, estão neste momento a ajudar refugiados. Podemos fazer isso durante uma semana, duas semanas, mas a cidade tem de funcionar. Não o podemos fazer durante meses”, exemplificou, depois de lembrar que esta é “a maior crise migratória e humanitária” na Europa desde a II Guerra Mundial e que o número de pessoas a fugir da guerra continuará a aumentar, atendendo ao avanço dos russos no terreno, incluindo para zonas de fronteira com a Polónia, onde até há poucos dias os ucranianos ainda se sentiam relativamente seguros.

Rafal Traskowski considerou que se a Polónia e o resto da Europa abriram as suas fronteiras aos refugiados, têm também de receber e acolher bem estas pessoas: “É a nossa contribuição para a guerra, receber estas pessoas e mostrar que o Ocidente está unido, que responde em conjunto”.

Os refugiados, sublinhou, são essencialmente mulheres com crianças e idosos, uma população que precisa, no seu conjunto, de assistência social, e cerca de metade devem ser menores que precisam de ter resposta nas escolas.

O presidente da câmara de Varsóvia pediu, por outro lado, o desbloqueamento de fundos de coesão e de recuperação europeus (pensados, neste caso, para a resposta à crise da pandemia de covid-19) para as regiões que estão a lidar mais diretamente com o acolhimento de pessoas que fogem da guerra na Ucrânia, assim como “fundos extra” da UE específicos para a resposta aos refugiados.

A Rússia lançou a 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já causou pelo menos 549 mortos e mais de 950 feridos entre a população civil e provocou a fuga de 4,5 milhões de pessoas, entre as quais 2,5 milhões para os países vizinhos, segundo os mais recentes dados da ONU.

A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas a Moscovo.

*A Lusa viajou a convite do Comité das Regiões Europeu