Em entrevista à CMTV, André Ventura exigiu ao PSD um "acordo de governo" centrado em "cinco prioridades" - combate à corrupção; redução de impostos; aumento das pensões; forças de segurança; ex-combatentes - para que o Chega possa viabilizar documentos estruturantes como os Orçamentos do Estado.
"Não vou fazer do Chega a muleta de nenhum Governo", assegurou Ventura, afirmando não fazer a sua vida política baseada em cálculos, mas admitindo que "os portugueses também saberão valorizar um presidente que se ofereceu para ser garantia de estabilidade, mas ninguém quis". "Se cair o Governo, será responsabilidade do PSD, não será nossa", reforçou.
O líder do Chega lembrou, por outro lado, que na legislatura que agora termina votou favoravelmente propostas de outros partidos, até do PCP e do Livre, e prometeu "continuar nesse registo".
"Mas não num documento de orientação geral como o Orçamento. A humilhação tem limites! Se não houver nenhum acordo ou abertura ao diálogo, votarei contra", assegurou.
Ventura considerou que "o tempo das muletas políticas acabou" e que, com quase 50 deputados eleitos no domingo, "é muito mais confortável para o Chega ficar na oposição" para depois se tornar "mais fácil chegar ao poder", apontando os casos de França, Alemanha e da Holanda.
O líder do Chega precisou que a sua exigência é de um "acordo de governo" com o PSD, uma vez que o acordo parlamentar "já deu sinais de não resultar", como foi o caso nos Açores, salientando que "todos têm de ceder".
"O meu objetivo é dar um governo a Portugal. Se tudo isto levar a um zero absoluto, não me venham pedir responsabilidades", disse, afirmando que tem "canais" para negociar, mas não há nada formal em curso. "Não deixei de ser amigo do dr. Luís Montenegro", afirmou.
Quanto a nomes para um futuro Governo, André Ventura considerou não ser a "questão essencial", apesar de considerar que "se há um acordo as pessoas escolhem os nomes em conjunto".
Quanto à moção de rejeição do programa do Governo anunciada pelo PCP, o líder do Chega disse não fazer parte dos seus planos votar a favor.
"Não tenho grande apetência para votar a favor de uma coisa que é completamente inconsequente", declarou, dizendo achar graça ao facto de o PCP anunciar a apresentação numa altura em que não se sabe quem é o primeiro-ministro, nem o Governo, nem o programa. "Não vejo qualquer viabilidade nesta moção", reforçou, afirmando que a decisão sobre o voto será tomada nos próximos dias em reunião do Grupo Parlamentar do Chega.
Na entrevista ao Correio da Manhã/TV, André Ventura insurgiu-se contra uma notícia publicada pelo Expresso na sexta-feira anterior às eleições, e não desmentida por Belém, de que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, não permitiria ao Chega integrar o Governo, o que considerou ser uma intromissão no ato eleitoral.
Ventura assumiu que o Presidente lhe dissera há algum tempo que "não se iria opor" à entrada de elementos do seu partido para o Governo. "Se Marcelo disser que não estará a mentir", acrescentou, afirmando que na próxima semana irá ao Palácio de Belém insistir que "será uma irresponsabilidade" levar o país para novas eleições só para evitar ter elementos do Chega no Governo.
A Aliança Democrática (AD), que junta PSD, CDS e PPM, com 29,49%, conseguiu 79 deputados na Assembleia da República, nas eleições legislativas de domingo, contra 77 do PS (28,66%), seguindo-se o Chega com 48 deputados eleitos (18,06%).
A IL, com oito lugares, o BE, com cinco, e o PAN, com um, mantiveram o número de deputados. O Livre passou de um para quatro eleitos enquanto a CDU perdeu dois lugares e ficou com quatro deputados.
Estão ainda por apurar os quatro deputados pela emigração, o que só acontece no dia 20 de março. Só depois dessa data, e de ouvir os partidos com representação parlamentar, o Presidente da República indigitará o novo primeiro-ministro.
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