Numa conversa telefónica mantida com Merkel, Vladimir Putin "expressou séria preocupação com a decisão de Kiev de introduzir a lei marcial" e disse "esperar que Berlim pudesse influenciar as autoridades ucranianas e dissuadi-las de futuros atos irrefletidos", pode ler-se no comunicado.
Na segunda-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Heiko Mass, já tinha proposto que a Alemanha e a França pudessem fazer a mediação entre a Ucrânia e a Rússia para evitar que a tensão entre os dois países se agravasse.
O pedido russo surgiu um dia depois de o parlamento da Ucrânia ter aprovado a imposição da lei marcial nas regiões fronteiriças do país durante 30 dias, num contexto de fortes tensões com a Rússia, que apresou no domingo três navios militares ucranianos no mar Negro.
A decisão, sem precedentes desde a independência desta ex-república soviética, em 1991, foi adotada por iniciativa do Presidente, que a justificou com o risco aumentado de uma ofensiva terrestre russa.
“As informações dos serviços secretos mostram a ameaça extremamente elevada de uma operação terrestre contra a Ucrânia”, afirmou o Presidente Petro Poroshenko horas antes, numa mensagem à nação transmitida pela televisão.
“Assim que um soldado russo atravessar a nossa fronteira, eu não perderei um segundo para proteger o nosso país”, disse o chefe de Estado ucraniano aos deputados, antes da votação.
Já a Rússia acusou o Presidente da Ucrânia de orquestrar a crise no estreito de Kerch, com o objetivo de cancelar as eleições de março e permanecer no poder.
"Todos percebemos do que se trata. Isto aconteceu para cancelar as eleições, apesar das promessas em contrário", disse o vice-embaixador russo na ONU Dmitry Polyanskiy numa reunião do Conselho de Segurança na segunda-feira.
Por seu lado, a embaixadora dos EUA na ONU, Nikki Haley, considerou, no mesmo dia, "ilegal" a captura de navios ucranianos pela Rússia, dizendo que esta ação torna "impossível" uma "relação normal" com Moscovo.
"Como o Presidente do meu país disse muitas vezes, os Estados Unidos são a favor de um relacionamento normal com a Rússia, mas ações ilegais como esta tornam isso impossível", disse a diplomata norte-americana, também durante a reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU.
A porta-voz da Comissão Europeia para os Negócios Estrangeiros considerou na segunda-feira “inaceitáveis” os desenvolvimentos no mar de Azov e apelou a uma diminuição da escalada da tensão entre a Rússia e a Ucrânia na região.
Na conferência de imprensa diária do executivo comunitário, Maja Kocijancic abordou a “escalada perigosa” no mar de Azov e qualificou de “inaceitáveis” as decisões da Rússia de encerrar o estreito de Kerch, que une o Mar Negro ao Mar de Azov, ao largo da Crimeia, e de apresar três navios da Armada da Ucrânia (duas lanchas e um rebocador da Marinha de guerra) em águas territoriais russas.
Já o Reino Unido acusou a Rússia de um “ato de agressão”. O porta-voz do governo britânico, James Slack, disse que o incidente é “mais uma prova do comportamento desestabilizador da Rússia na região e da sua contínua violação da integridade territorial ucraniana”.
Antes, o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, garantira ao Presidente da Ucrânia que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO, na sigla inglesa), mantém o apoio ao país sobre a integridade territorial, incluindo o direito de navegação nas suas águas e nas internacionais.
No domingo, embarcações russas apoderaram-se de três navios militares ucranianos – duas pequenas lanchas blindadas e um rebocador – depois de terem disparado sobre eles, fazendo uma vintena de prisioneiros no estreito de Kertch, que liga o mar Negro ao mar de Azov.
Este incidente armado fez também diversos feridos entre os ucranianos – seis, segundo Kiev, e três, segundo Moscovo – e desencadeou reações de condenação na Ucrânia e em vários dos seus aliados ocidentais.
Nos últimos meses, Kiev e o Ocidente têm com regularidade acusado a Rússia de deliberadamente “colocar entraves” à navegação de barcos comerciais ucranianos entre o mar Negro e o mar de Azov.
A Rússia anexou em 2014 a península ucraniana da Crimeia e é acusada por Kiev e pelo Ocidente de apoiar militarmente os separatistas pró-russos no leste da Ucrânia, num conflito que já fez mais de dez mil mortos.
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