O caso deu-se já esta sexta-feira, no rescaldo da conquista da medalha de ouro nos 200m costas por parte do nadador russo Evgeny Rylov, a segunda, depois de vencer os 100m costas na terça-feira.
Rylov compete com bandeira neutra e pela equipa do Comité Olímpico da Rússia, já que o país foi condenado em 2019 a uma suspensão de quatro anos pela Agência Mundial Antidopagem (AMA) devido a um escândalo de uso de doping em competições.
Apesar da desvinculação de Rylov da Rússia por via de uma participação neutra, o tema do doping causou incómodo na conferência de imprensa depois da prova dos 200m costas, reporta o Washington Post.
"Obviamente que é frustrante para um atleta saber que há um programa de doping financiado por um estado a ocorrer, e saber que se podia ter feito mais para combater isso”, atirou Luke Greenbank, nadador a competir pela Grã-Bretenha e que venceu a medalha de bronze, de uma dos lados da mesa.
Do outro, Ryan Murphy, um dos capitães dos EUA e que venceu esta prova no Rio2016. “Eu acho que é frustrante não conseguir responder a essa pergunta com 100% de certeza”, reagiu o atleta, instado a comentar se a prova tinha sido limpa. “Eu não sei se foi 100% limpa. E não sei por causa de coisas que já aconteceram no passado”, disse.
Entre os dois estava sentado o vencedor, Rylov, que permaneceu calado até ser confrontado com as mesmas questões. “Eu sempre fui a favor de competições limpas, do fundo do meu coração. Eu dediquei a minha vida a este desporto e não sei sequer como reagir a isso”, respondeu, através de um tradutor.
O Comité Olímpico da Rússia, entretanto, já reagiu em defesa de Rylov. “As nossas vitórias são desconcertantes para alguns dos nossos adversários. Sim, estamos nos Jogos Olímpicos porque temos direito a isso, quer gostem, quer não”, lê-se na conta oficial de Twitter do organismo.
Nem Greenbank nem Murphy acusaram diretamente Rylov, apesar de a insinuação ser bastante evidente. Murphy, todavia, até procurou amenizar a situação justo do vencedor, congratulando-o pela vitória e dizendo que a sua intenção não era a de “fazer quaisquer alegações”, apesar de acreditar que “há doping na natação”.
Em resposta, Rylov disse que Murphy “tem todo o direito de pensar como pensa e dizer o que diz”, “Honestamente, ele não me acusou de nada. É por isso que não tenho nada contra ele”.
A polidez da troca contrasta com o que Murphy disse no rescaldo da prova, acabado de sair da piscina. “É psicologicamente desgastante para mim saber ao longo do ano que estou a nadar numa corrida que provavelmente não é limpa”, disse aos repórteres, admitindo não ter “a capacidade de treinar para os Jogos Olímpicos a um elevado nível e ao mesmo tempo convencer pessoas que estão a tomar decisões de que elas estão a ser as erradas”.
A polémica da possível utilização de doping na prova advém da condenação a que a Rússia foi sujeita e a decisão controversa do Comité Olímpico Internacional (COI) de permitir que perto de 330 atletas russos “limpos” possam competir sem bandeira, representando o Comité Olímpico Russo.
A decisão do COI foi tomada com base no recurso julgado pelo Tribunal Arbitral do Desporto, que levantou parte das restrições impostas pela Agência Mundial Antidopagem. Uma das consequências foi a permissão dada aos atletas russos que nunca tenham sido sancionados por doping de participar em competições internacionais, mas sob bandeira neutra.
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