Depois de o jogo da primeira mão ser disputado na "casa" do Benfica em Roma, hoje foi a vez de o Arsenal jogar em "casa" em Atenas. Apesar deste "pequeno" fator, é importante ter em conta que os golos fora continuam a valer (a dobrar). Ou seja, o Benfica chegou à Grécia obrigado a marcar um golo devido ao resultado obtido no primeiro encontro (1-1). No final até acabou marcar dois, mas não foram suficientes para passar à fase seguinte.
Um dos protagonistas desta segunda mão dos 16 avos de final da competição foi o homem do jogo: Pierre-Emerick Aubameyang. O gabonês aproveitou da melhor forma algumas fissuras da defesa encarnada e bateu Hélton Leite por duas vezes, além de ter sido uma unidade que ao longo do jogo foi sendo a maior ameaça às pretensões do Benfica, que cai nesta fase final da Liga Europa pela 2.ª época consecutiva.
O resultado de hoje tem que ver com uma mescla de má interpretação defensiva, acumulação de erros entre os centrais encarnados e talento individual adversário. Porque o Benfica até capitalizou na área que tem sido alvo de muitas críticas: o ataque. Ou seja, as águias fizeram dois golos nos remates que fizeram à baliza do Arsenal. Se há jogos em que muito se tem falado em pouco esclarecimento no que toca a colocar a bola no fundo da baliza por parte dos avançados encarnados, hoje isso não se verificou. No entanto, não foi suficiente.
Jorge Jesus, que na antevisão da partida recusou ser responsável pelo atual momento que os encarnados atravessam, promoveu alterações no esquema tático e no onze habitual. Por outras palavras, alinhou novamente com três centrais ao jeito do que já tinha feito na primeira mão, mas deixou o ponta-de-lança de referência Darwin no banco e Diogo Gonçalves e Grimaldo alinharam de início. Do lado do Arsenal, em relação ao primeiro embate, apenas a troca de Cédric Soares por Tierney, que jogou do lado esquerdo do quarteto defensivo.
Se há algo a tirar deste jogo foi a incapacidade do Benfica de anular o jogo de passes em rutura bem no coração da defesa — mesmo que esta fosse composta por uma linha de cinco no momento defensivo. Não seria suposto o Arsenal conseguir colocar bolas rasteiras, em dois ou três toques perto da área encarnada, em movimentos entrelinhas. Os caminhos deviam de estar fechados e congestionados. Mas existiram três lances em que tal ficou bem espelhado: um deu golo (o primeiro de Aubameyang), outro Hélton Leite ficou na cara do avançado embora houvesse fora de jogo e noutra situação houve golo mas foi anulado (por uma unha negra).
A história do primeiro tempo pode ser resumida em três momentos. Os primeiros 20', um golo inglês e um livre indefensável de um jovem português. Quanto ao resto, tudo muito dividido. Oportunidades de golos, poucas. Futebol atacante e vibrante, idem. Mas em termos de eficácia não se pode dizer que não tenha corrido bem aos dois conjuntos. Especialmente aos encarnados que marcaram no único remate enquadrado à baliza de Leno em 45'.
Nos primeiros quinze minutos aquilo que se viu foi um jogo de cautela de parte a parte. O Benfica jogava com uma linha de cinco na defesa e procurava marcar em transições rápidas. Neste período, do lado encarnado, o que há a registar é um lance em que Rafa ia lançado no meio campo adversário bem ao seu estilo e escorrega sozinho antes de entrar na grande área. Depois há um remate disparatado de Serefovic — se é que lhe podemos chamar de remate.
O Arsenal fazia o seu jogo de posse, mas o Benfica encontrava de tempos a tempos o caminho até à baliza: só não causava perigo ou rematava enquadrado. Até fazer o golo, o lance de registo no bloco de notas encarnado surge na sequência do livre lateral em que Jan Vertonghen cabeceia por cima da barra. Só que, como se costuma dizer na gíria do futebol, quem não marca... sofre. O primeiro tento de Aubameyang (21') surge numa altura em que este explorava os espaços entre os centrais encarnados enquanto o Benfica, lento, se perdia em passes falhados e em indefinição no último terço.
A resposta não tardou muito e surgiu por intermédio de Diogo Gonçalves (43'). O lateral direito marcou um livre à boca da área que merece ser visto e revisto. Leno não tinha grande hipótese de parar a brilhante execução do português. Foi um livre como mandam as regras. Até final o Benfica ia sendo superior no último terço, sempre com olhos postos na baliza. As equipas iriam, porém, para o intervalo empatadas: 1-1 no jogo de hoje, 2-2 no agregado a duas mãos.
Ora, no regresso, a equipa do Arsenal emergiu para a segunda metade decidida a reverter a situação e Aubameyang fez o que tinha feito até então — procurou espaços entre os centrais e fugiu à linha defensiva com o turbo ligado à procura de aproveitar a lentidão dos adversários. Depois, com um toque subtil, tirou o guarda-redes do Benfica da frente e fez a bola beijar a rede. No entanto, a repetição revelou que o avançado estava fora de jogo e o golo não contou. Mas o aviso ao eixo mais recuado das águias estava dado: o capitão dos Gunners estava presente. Só que depois desse lance, numa altura em que o relógio marcava a hora de jogo, acabou por prevalecer a eficácia do Benfica.
O Arsenal carregava e ganhou canto. Só que Helton adivinhou o lance, agarrou a bola e não perdeu tempo a lançar o esférico para meio-campo adversário à procura da velocidade de Rafa no espaço. Contudo, aquilo que parecia ser um lance de pouco perigo e apenas mais uma reposição longa por via de uma charutada, acabou por dar golo, brinde de Ceballos. O espanhol calculou mal a trajetória da bola e tentou uma cabeçada pouco aconselhada para o guarda-redes Leno que estava 45 metros de distância. Ora, problema é que só penteou a bola e Rafa estava atento e apostou no erro adversário. Com caminho livre, contornou o guardião alemão e colocou o Benfica na frente.
O Arsenal, que mal tinha criado oportunidades, precisava de algo especial. E volvidos seis minutos, já com o brasileiro Willian em campo (um daqueles mal amados por parte da comunidade que dá corpo à Arsenal Fan TV) tinha acabado de entrar na asa esquerda e num lance individual encontrou Tierney por perto. O esquerdino tirou um Cebolinha (que tinha acabado de entrar) muito apático do caminho e, num remate forte e bem colocado, empatou um jogo num remate sem hipóteses para Helton Leite.
A partir deste momento o Benfica baixou (mais) as linhas (sendo que já estava a jogar num modelo mais defensivo desde que se adiantou no marcador) e o Arsenal, mesmo sem apresentar grande intensidade, iria sair por cima na parte final. O jogo parecia controlado (mais ou menos), mas já se sabe que há um risco quando o bloco defensivo está muito recuado e o adversário tem na dupla Saka/Aubameyang a sua maneira de criar perigo.
Depois desse lance, Darwin Núñez, que entretanto já tinha sido lançado por Jorge Jesus no decorrer da segunda parte, teve um lance dividido com os defesas do Arsenal meio aos trambolhões e, à entrada da área, rematou uma bola que passou perto do poste.
Nesta altura, a festa parecia destinada a ser do Benfica, ao estilo de 1991, mas só até Saka a ganhar a linha e desferir um cruzamento que procurou a cabeça de Aubameyang. O gabonês, ao segundo poste, selou bem perto dos 90' o resultado final.
Em suma, Diogo Gonçalves e Rafa encontraram a luz da baliza, foram eficazes, mas Aubameyang encontrou o espaço entre os centrais do Benfica para resolver o jogo. A partida hoje em Atenas esteve longe de ser bem disputada, agradável ao espetador e durante grandes períodos faltou agressividade competitiva. Prova disso é que o único cartão amarelo foi exibido logo aos cinco minutos, a Adel Taarabt. Houve cinco golos, é verdade, mas muito pouco além disso. No entanto, em tempos de pandemia ou na cabeça dos adeptos do Arsenal, isso pouco importa pois carimbaram a passagem à fase seguinte. Já o Benfica esteve hoje a poucos minutos de voltar a eliminar o Arsenal, 30 anos depois, mas ficou-se pelo caminho.
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