A decoração de uma sala de estar ou o sofá em frente a uma televisão deram lugar a um espaço com barras de elevação presas ao teto, chão revestido com um pavimento amortecedor e todo o ‘arsenal’ necessário para o ex-vice-campeão do mundo de levantamento de peso e cinco vezes campeão nacional.

Neste “ginásio” treinam 11 atletas, divididos em dois grupos. Quatro deles apresentam-se em competições e, hoje, na cidade espanhola de Aranjuez, disputam o Campeonato Ibérico de supino (levantamento de peso na posição deitado) e de peso morto (levantar a barra do chão até o corpo estar totalmente estendido).

Daniel Fonseca, de Teixoso, uma vila próxima da Covilhã, começou sozinho, há oito anos, depois de ter assistido a um programa de talentos na televisão no qual um homem elevou um automóvel.

Então com 50 kg e 1,68 metros, ficou impressionado e, passado pouco tempo, investiu em material básico. Agora, compete na categoria até 100 kg e levanta quase o triplo do seu peso — o seu recorde em prova é de 275 mas em treino já levantou 320.

O entusiasmo do motorista de pesados, agora com 36 anos, contagioso a amigos e conhecidos e “foi uma bola de neve”.

Pela sua sala, ao lado da cozinha onde a namorada adianta o jantar e onde o filho de oito anos vai entrando para mostrar a evolução dos trabalhos de casa, já passou quase uma centena de pessoas.

“Alguns desistem em poucos dias, porque isto é um trabalho de persistência. A adaptação do corpo, da estrutura muscular ao peso, é um processo longo”, explicou o atleta, em declarações à agência Lusa, que recordou que o tamanho do músculo não é sinónimo de força, enaltecendo a importância da densidade.

Esta adesão levou-o a criar a equipa Powerlifting Serrano. Treinam com material de marca branca, em segunda mão, e muita estrutura improvisada, porque o material olímpico é “muito caro”, mas os resultados desportivos têm aparecido, mesmo quando o grupo de amadores compete com profissionais, o que lhes vale o respeito e reconhecimento nas competições, realçou Daniel Fonseca.

Frederico Rodrigues, de 26 anos e doutorando em engenharia mecânica, pratica a modalidade há quatro anos. Já foi campeão ibérico de supino até 90 Kg. Tem treinado condicionado, devido a uma contusão no piramidal, e hoje compete em Espanha com o objetivo de “dar o melhor”, até porque a mudança para a categoria acima o tornou menos competitivo.

Mais recente é a experiência de Pedro Lopes, de 20 anos, que, há três anos, “era gordinho e queria perder peso”. Gostou, ficou e o corpo mudou. É campeão nacional de peso morto e supino, em juniores, e hoje, apesar de ainda estar a recuperar de uma rotura, tenta “levantar o mesmo peso” em Aranjuez, depois de já ter conquistado o título ibérico.

O mais jovem da equipa é Fernando Romão, de apenas 15 anos, mas já conta com o título nacional sub-júnior. “Há um ano e meio vim apenas experimentar a modalidade, para dar forma ao corpo, e já noto grandes diferenças”, frisou o estudante.

Além do material de treino, a sala é decorada pelos troféus e diplomas, onde cabem ainda duas ardósias, uma com os exercícios e cargas para cada um, outra com o peso que cada atleta conseguiu levantar.

O grupo diz-se “uma família”, na qual existe “confiança e entreajuda”.

O treino específico para o supino e peso morto praticamente impossibilita a frequência de um ginásio, valendo, por isso, a imaginação.

Os agachamentos são treinados em cavaletes da construção civil, para amortecer a queda dos pesos no chão são usadas pranchas de madeira das obras e o pai de Daniel Fonseca preparou uma estrutura em ferro para suportar eventuais falhas quando testam grandes cargas.

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