O debate em torno da seleção nacional portuguesa tem sido sobre CR7, concretamente a sua pouca produtividade ao longo da época, no Manchester United, e a mais recente entrevista, em Inglaterra, na qual criticou severamente o clube e o treinador Ten Haag. Se recuarmos um pouco, contudo, o debate foca-se mais no selecionador português Fernando Santos e na falta de qualidade futebolística que a turma das quinas tem apresentado nos últimos anos, segundo vários especialistas. O capitão e o líder estão 'sob mira', por diferentes razões, mas são também os dois que podem ser o alicerce para que se possa repetir a festa de 2016, quando Portugal venceu a sua única competição de seleções, o Europeu.
“Estão juntos há muitos anos. Um é o treinador e outro o capitão, formam uma equipa de dois grandes pilares da equipa portuguesa"
Pelo menos é este o pensamento de Eriksson. O velho conhecido do futebol português, que conquistou três campeonatos pelo Benfica, nas décadas de 80 e 90. O sueco, que não treina desde 2019, vê em Cristiano Ronaldo e Fernando Santos os dois grandes pilares deste grupo, que esta quinta-feira estreia-se no Campeonato do Mundo, diante do Gana.
“Estão juntos há muitos anos. Um é o treinador e outro o capitão, formam uma equipa de dois grandes pilares da equipa portuguesa. Muitos apontam o sucesso recente de Portugal a Cristiano Ronaldo, um dos melhores de sempre, mas o trabalho de Fernando Santos tem sido muito importante. Quem está há muitos anos à frente de uma seleção nacional é porque está a fazer um bom trabalho. E está, venceu um Europeu, uma Liga das Nações e tem estado em todas as fases finais. Cristiano ainda é determinante e Fernando Santos é o outro pilar. São 'gémeos', em termos de importância na seleção portuguesa”, referiu Eriksson.
"Cristiano sempre me pareceu uma pessoa de ideias fixas, com uma mentalidade muito forte. Não acredito que tudo o que tem acontecido o possa afetar mentalmente"
A confiança do grupo de trabalho e do próprio Fernando Santos foi também matéria para conversa com o treinador sueco, que em 2006 também participou como selecionador num campeonato do mundo, nomeadamente à frente dos destinos de Inglaterra [caíram aos pés de Portugal nos quartos-de-final na lotaria das grandes penalidades]. O ex-treinador de Benfica, Roma, Lazio, Manchester City, entre outros, percebe as razões de tanto otimismo e mais uma vez destaca Cristiano Ronaldo e Fernando Santos.
“É muito importante que os líderes transmitam confiança. Cristiano e Fernando Santos estão a fazer o que devem fazer. Estão a dizer ao grupo que é possível. Há melhores líderes do que aqueles que transmitem confiança?”, questionou o sueco de 74 anos, que, ainda assim, coloca outras seleções à frente da turma das quinas.
“Há muitas equipas fortes, como o Brasil, que acho favorito a vencer, Argentina, França, Inglaterra. Mas Portugal também é bastante forte. Tem uma equipa jovem e com futebolistas experientes, como Cristiano Ronaldo e Pepe, que podem fazer a diferença. Repetir 2016? Quem tem um grupo de trabalho como o de Portugal pode vencer, isso é óbvio. E se é um grupo que está a transmitir confiança, ainda mais forte se torna. Mas as fases finais são diferentes dos jogos normais. Basta um jogo menos positivo para o castelo cair. Há que ter confiança, mas também cautelas”, salientou.
"É muito importante que os líderes transmitam confiança. Cristiano e Fernando Santos estão a fazer o que devem fazer. Estão a dizer ao grupo que é possível"
Este Campeonato do Mundo é diferente de todos os outros. E diferente por duas razões: joga-se a meio de uma temporada das principais ligas nacionais e sem os habituais longos estágios das equipas antes do início da competição – a maioria dos futebolistas jogaram pelos seus clubes dias antes do pontapé de saída do Mundial. Dois pormenores, mas que podem ser determinantes.
“É um Mundial totalmente fora do normal, pois não há preparação praticamente nenhuma, foram poucas as seleções que conseguiram fazer um jogo particular. Normalmente, os selecionadores têm consigo o grupo durante várias semanas. Quando estive com seleções [Inglaterra, México e Costa do Marfim] tentava ficar o máximo de tempo possível com os jogadores, só assim conseguimos preparar convenientemente uma fase final", disse o sueco, abordando depois o atual momento físico de todos os jogadores.
"Sabemos que há diferentes momentos físicos durante a época. No verão, talvez, os que jogam na Europa possam estar mais cansados, pois têm muitos jogos realizados até lá. Mas é verdade que este campeonato vai depender muito da questão física, da forma dos jogadores. Há uns que demoram mais que outros a estarem em forma nos inícios de época, veja-se este caso com Cristiano Ronaldo. Depois há outros que atingem o melhor momento da época por esta altura. Será muito interessante de ver a questão física de todas as seleções, até porque haverá outras, de outros continentes, com uma muito maior preparação, por esta altura”, disse o treinador, que também comentou a recente polémica do capitão da turma das quinas.
“Cristiano sempre me pareceu uma pessoa de ideias fixas, com uma mentalidade muito forte. Não acredito que tudo o que tem acontecido o possa afetar mentalmente. A questão física é outra coisa, jogou menos do que o esperado e neste momento pode não estar no topo”, referiu Eriksson, que não vê outra solução para o craque português no Manchester United [à data da entrevista ainda não se sabia da rescisão do jogador]: “Se não joga, não pode ficar. Um futebolista deste nível levanta sempre muitas questões se não jogar”.
O SAPO24 é a marca de informação do Portal SAPO, detido pela MEO, que neste Mundial se associou à Amnistia Internacional numa campanha pelos direitos humanos no Qatar.
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