A janela de transferências de verão de 2018 vai ficar marcada por ser diferente das demais dos últimos anos — ou não estivessem duas das maiores ligas europeias fechado o mercado mais cedo do que o habitual. E é precisamente por aqui que vamos começar.
A versão curta daquilo que se passou até agora será algo parecido ao seguinte: Itália, para além de receber um dos jogadores de futebol mais mediáticos do mundo, foi palco de algumas trocas que podem vir a ser interessantes de analisar num futuro, tentando descortinar quem decidiu bem e quem meteu a "pata na poça".
Ali ao lado, na vizinha Espanha, a grande transferência passou realmente por Madrid, mas não aterrou no Santiago de Bernabéu. Em França, Mbappé foi oficialmente apresentado como jogador mais caro do defeso — até agora.
Em solo britânico, a janela de transferências foi antecipada num volta-face inédito e que tem num recém-promovido um dos principais compradores do Reino Unido. O que obriga a contextualizar aquela que é, a par da mudança de Ronaldo para a Juventus, a maior novidade deste mercado: o seu fecho antes do começo do campeonato, quer em Itália, quer em Inglaterra.
Anda assim, note-se que os jogadores livres poderão assinar pelos clubes após a data limite, desde que não estejam ligados contratualmente a nenhum clube até dia 31 de agosto. Mas, antes, uma breve análise às principais movimentações dos campeonatos.
A Liga Inglesa fechou a cortina das transferências bem cedo
Foram gastos qualquer coisa como mil milhões e meio de euros na última janela de transferências da Premier League. É um número extenso, que diz bem do seu poderio financeiro. Mas, mais que os milhões gastos, este defeso primou pela novidade inédita naquele campeonato, ao fechar antes do início da primeira jornada (e não a 31 de agosto às 23h00), obrigando, desta forma, a que os clubes tivessem que operar as suas negociatas nos bastidores com menos 20 dias do que o habitual. A decisão foi tomada em setembro do ano passado pelos próprios emblemas e a medida debutou ainda sem se ter percebido (por ser demasiado cedo) se foi uma boa ou má opção.
De acordo com a Sky Sports, a decisão não foi unânime entre os clubes da Premier League, ainda que a maioria tenha dado parecer positivo à alteração. Dos 20 clubes que compõem a liga, 14 votaram a favor, 5 votaram contra e um absteve-se. O que nos leva a questionar: por que razão avançou esta medida em Inglaterra?
Foi sempre um tema sensível, pois um punhado de treinadores e personalidades ligadas aos clubes ingleses (e não só) já haviam expressado o seu desagrado sobre os fatores negativos que podem advir de um rumor de transferências — ou efetivo aliciamento — quer na moral dos jogadores, quer na própria preparação dos plantéis das equipas. Por isso, não será surpresa que muitos fossem apologistas desta medida. Por cá, também Sérgio Conceição, treinador do FC Porto, foi uma das vozes que instou a que se faça uma alteração idêntica.
É tido que existe a ideia que o encerramento da janela antes do início do campeonato vai acabar com o pânico das mudanças ao fim de três ou quatro jornadas, mas a verdade é que também vai permitir menos tempo para acautelar os desejos dos treinadores e as necessidades das equipas. É por isso que muitos clubes se apressaram nas contratações, nomeadamente o Arsenal ou Liverpool, que apresentaram vários reforços logo no início do mês (ou desde a época passada, no caso dos Reds, se lembrarmos o caso de Naby Keïta).
O balanço, as contas e as principais movimentações em Inglaterra foram já escrutinadas aqui. Os valores, as motivações e aquilo que delas são esperadas também.
Todavia, a bola não rola só na relva britânica e há que conferir aquilo que se passam nos outros campeonatos. Começando pelo segundo mercado mais agitado do defeso — mas que contou a transferência mais badalada —, o italiano, que este ano acompanhou a mudança inglesa e, desde o dia 18 agosto, data em que fechou, não é possível fazer transações de jogadores.
A revitalização da Serie A
A Série A italiana reencontrou-se com a glória dos anos 80 e 90, em que reunia os melhores futebolistas do mundo, ao arrancar para a nova época sob a chegada de Cristiano Ronaldo e a promessa de emoções fortes.
Um homem pode chegar para fazer a diferença num jogo, mas, quando se trata do internacional português, de 33 anos, essa capacidade estende-se à imagem do próprio campeonato. A contratação de Ronaldo pela Juventus ao Real Madrid, por cerca de 100 milhões de euros, está a agitar Itália e a levar os rivais da ‘Vecchia Signora’ a apostarem forte para 2018/19.
O estatuto de heptacampeã de Itália vinca claramente o favoritismo do clube orientado por Massimiliano Allegri na conquista de mais um título e a ambição de atingir o topo da Liga dos Campeões. Além do avançado luso, chegaram também a Turim outros nomes de peso, nomeadamente, Emre Can (estava fim de contrato com o Liverpool), João Cancelo (40 ME, ao Valência), Bonucci (após uma temporada em Milão regressa a Turim por 35 ME) e o guarda-redes Perin (12 ME, ao Génova), entre outros reforços. Douglas Costa (40ME) é um caso diferente, pois já esteve no clube por empréstimo do Bayern de Munique na época passada, mas agora assinou um vínculo definitivo. Ora, quer isto dizer que, feitas as coisas e tudo somado, o campeão está com um balanço de 178 milhões negativos, de acordo com o Transfermarket, apesar de ter feito quase 100 milhões em receitas.
A oposição mais firme aos ‘bianconeri’ esta temporada pode passar pelo Inter Milão, do técnico Luciano Spalletti. Após o quarto lugar de 2017/18, os ‘nerazzurri’ estiveram ativos no mercado de transferências, com as entradas de Nainggolan (38 ME, da Roma), Lautaro Martinez (16 ME, do Racing Club), Dimarco (7M, do Sion), Vrsaljko (empréstimo que 6,5ME, pagos ao Atlético Madrid), Politano (5 ME, também por empréstimo, do Sassuolo), Keita Baldé (5ME, por empréstimo também, do Mónaco), Stefan de Vrij (chegou em final de contrato com a Lazio, mas já marcou inclusivamente um golo) e Asamoah (terminou contrato com a Juventus). Porém, o saldo é positivo. Gastaram 77 ME no total, mas arrecadaram 89 ME em com as saídas de jogadores como Murillo ou Geoffrey Kondogbia (para o Valência) ou de Davide Santon (para a Roma).
Na cidade de Milão mora outro concorrente ao título, embora este ano se preveja ainda de transição para o AC Milan. O sonho de retomar a trajetória de sucesso do final do século XX e do início do século XXI — como provam os regressos dos ‘históricos’ Paolo Maldini e Leonardo à estrutura — pode, todavia, ser antecipado pelo sexto classificado do ano passado com o investimento em Caldara (ex-Juventus), Castillejo (ex-Villarreal), Higuaín (seguiu para Milão por troca com Bonucci, que fez o caminho inverso para a Juventus), Borini (ex-Sunderland), Bakayoko (emprestado pelo Chelsea), Strinic (a custo zero da Sampdoria), Pepe Reina (terminou contrato com o Nápoles) e o jovem Halilovic (chegou também a custo zero do Hamburgo).
Quanto ao vice-campeão Nápoles, o futuro é uma incógnita. O fim da ‘era Maurizio Sarri’ abriu caminho ao regresso de Carlo Ancelotti ao país, após nove anos no estrangeiro. Contudo, o mediatismo do novo treinador não teve reflexo nos reforços: Fabián Ruiz (ex-Bétis), Simone Verdi (ex-Bolonha), Kévin Malcuit (ex-Lille), entre outros, à partida, parecem longe de poder devolver o êxito dos anos de Diego Maradona. Porém, a verdade é que napolitanos somam, mesmo assim, seis pontos em duas partidas, tantos quanto a Juventus, de Cristiano Ronaldo e João Cancelo, liderando desta forma a Serie A.
Por fim, a Roma aspira também a mais do que o último lugar do pódio de 2017/18, num ano em que brilhou ainda ao chegar às ‘meias’ da Liga dos Campeões. O clube romano gastou muito, mas também vendeu bem (em termos monetários). Saíram jogadores de peso como Alisson (vendido por 62,5 ME ao Liverpool), Radja Nainggolan (reforçou o Inter de Milão a troco de 38 ME) e Kevin Strootman (25 ME, para o Marselha). No entanto, o treinador Eusebio Di Francesco garantiu reforços de valor indiscutível, como Nzonzi (ex-Sevilha), Pastore (ex-Paris Saint-Germain, Justin Kluivert (ex-Ajax e filho do ex-jogador do Barcelona) ou o ex-portista Iván Marcano para alcançar um ‘scudetto’ que foge desde 2001 ao clube.
Entre os 20 clubes da primeira divisão italiana há também a reter um contingente português cada vez mais expressivo, passando pelos jovens Pedro Neto e Bruno Jordão, na Lazio, ao veterano Bruno Alves, no Parma.
A representação lusa fica completa com os internacionais Mário Rui (Nápoles) e João Mário (Inter Milão) e com Iuri Medeiros e Pedro Pereira, ambos no Génova.
Nós por cá
Em Portugal, comecemos pelo campeão. O último reforço foi garantido já à entrada para a madrugada desta sexta-feira e foi parar ao Dragão. O defesa-esquerdo brasileiro Jorge, de 22 anos, é reforço do FC Porto por empréstimo dos franceses do Mónaco. É uma notícia que surge depois de na terça-feira, dia 28, ter sido o dia em que um possível reforço "chumbou" nos exames médicos. O lateral-esquerdo marroquino Zakarya (que chegou a Belém neste mesmo defeso) reprovou nos testes do departamento clínico 'azul e branco', tendo a mudança caído por terra.
Outras das dúvidas deste defeso nos portistas residia no ataque. Mais concretamente se uma das figuras proeminentes do título ficava em Portugal ou se mudava de ares. Marega, que na última época anotou 22 golos no campeonato, não participou na Supertaça Cândido de Oliveira, conquistada pelo FC Porto, foi sistematicamente associado aos ingleses do West Ham. Tanto assim foi que o avançado maliano não foi opção para o treinador Sérgio Conceição em nenhum jogo oficial e não se treinava com o grupo (depois de ter tentado ‘forçar’ uma saída para Inglaterra) até a meio da semana passada, quando foi reintegrado no grupo de convocados para jogar na receção na derrota no Dragão frente ao Vitória de Guimarães.
De resto, os portistas continuam à procura de mais soluções para preencher a equipa às ordens de Sérgio Conceição, que perdeu Ricardo Pereira, por quem o Leicester pagou 20 ME, e Marcano, que terminou contrato e rumou à AS Roma.
O jovem Diogo Dalot, vendido ao Manchester United, por 22 ME, e Gonçalo Paciência, que saiu para o Eintracht Frankfurt por 3 ME — e onde já marcou —, são outras ‘baixas' nos ‘azuis e brancos', aos quais se juntam Reyes (terminou contrato e assinou pelo Fenerbahce), Osorio (emprestado ao Vitória de Guimarães), André André (assinou a custo zero pelos vimaranenses), Waris (emprestado ao Nantes), entre outros excedentários que aguardam ainda colocação (como Saidy Janko, contratado por 3 ME ao Saint-Étienne, mas que parece não contar para Sérgio Conceição).
No que diz respeito às entradas, o FC Porto assegurou os defesas João Pedro (ex-Bahia), Mbemba (ex-Newcastle) e Éder Militão (ex-São Paulo), e viu regressar de empréstimo Chidozie, Adrián López e André Pereira, ainda que só o último pareça ter lugar garantido na versão final do plantel para tentar a revalidação do título
O Benfica ofereceu dez reforços ao treinador Rui Vitória. Chegaram à Luz o guarda-redes Vlachodimos (ex-Panathinaikos), os defesas Ebuehi (ex-Den Haag mas que, entretanto, se lesionou com gravidade e foi operado), Corchia (ex-Sevilha e também ele operado ao fim de apenas três dias na Luz), Conti (ex-Cólon), Lema (ex-Belgrano) e Yuri Ribeiro (regressou do empréstimo ao Rio Ave), o médio defensivo Alfa Semedo (ex-Moreirense), Gabriel (ex-Leganés) e os avançados Castillo (ex-Pumas) e Ferreyra, este proveniente do Shakhtar Donetsk, a custo zero.
Gabriel foi o reforço mais caro: custou 10 milhões de euros. A saída do Leganés não foi fácil e provocou alguma ansiedade no atleta brasileiro, como ele próprio reconheceu, mas agora a sensação “é muito boa e gratificante”. Se não sabe quem é, Gabriel definiu-se como “um médio que tanto ataca como defende, criativo, que trabalha bastante para ajudar os companheiros” em declarações à BTV.
Porém, a melhor notícia terá sido a confirmação da permanência do brasileiro Jonas. Em declarações à BTV, o jogador, de 34 anos, colocou um ponto final nos rumores das últimas semanas sobre uma transferência para o futebol saudita, no qual era desejado pelo Al-Nassr e pelo Al-Hilal, de Jorge Jesus, garantindo “com muita alegria” que ficava na Luz. No entanto, o 'Pistolas' ainda não alinhou em nenhum jogo oficial esta temporada, por alegadamente não apresentar as melhores condições físicas — falhou inclusivamente o primeiro dérbi lisboeta da temporada, que terminou empatado a uma bola, a contas com uma cervicalgia, segundo Rui Vitória.
A lista de saídas resume-se a João Carvalho, que rumou ao Nottingham Forest, a troco de 15 milhões de euros, Diogo Gonçalves, cedido ao mesmo clube, Raúl Jiménez, emprestado ao Wolverhampton, Eliseu, que terminou contrato, e Paulo Lopes, que encerrou a carreira.
Houve também falatório sobre uma possível saída de Rúben Dias. O central esteve sob a ‘mira' dos franceses do Lyon, que estariam dispostos a pagar 30 ME pelo passe do internacional luso. Esta quarta-feira, o presidente do clube francês instigou inclusivamente que o jogador queria sair, mas "Vieira [presidente dos encarnados] não deixou".
Até que chegamos a mais um grande. O Sporting foi, entre os três, aquele que mais mexidas sofreu no plantel, agora orientado por José Peseiro. Rui Patrício e Gelson Martins rumaram ao Wolverhampton e ao Atlético de Madrid, respetivamente, na sequência das rescisões de contrato, William Carvalho obrigou o Bétis a pagar 20 ME, Piccini assinou pelo Valência (8 ME) e Fábio Coentrão regressou ao Real Madrid após a cedência aos ‘leões'.
De Alvalade partiram Bryan Ruiz (Santos), que terminou contrato, Podence (Olympiacos), Rúben Ribeiro e Rafael Leão, estes três últimos após pedidos de rescisão dos seus contratos. Esta terça-feira, também foi confirmada a saída de um elemento que não fazia parte do leque de opções de José Peseiro, com Doumbia a ser oficializado pelos catalães do Girona.
No que diz respeito às entradas, Nani é o principal nome entre os reforços, naquela que será a terceira passagem do internacional luso pelos ‘verde e brancos'. Para já, tem-se exibido em bom plano, ao marcar dois golos frente ao Vitória de Setúbal e mostrando frieza quando chamado à marca dos 11 metros na Luz, frente ao eterno rival. Raphinha (ex-Vitória de Guimarães), Diaby (ex-Brugge), Gudelj (emprestado pelo Guangzhou Evergrande), Sturaro (emprestado pelo Juventus, apesar de, devido a lesão, só se apresentar ao trabalho em outubro) Bruno Gaspar (ex-Fiorentina), Viviano (ex-Sampdoria), Renan Ribeiro (ex-Estoril) e Marcelo (ex-Rio Ave), além de Matheus Pereira (apesar de um bate-boca com o timoneiro) e Carlos Mané (que deverá estar de saída), que estiveram cedidos, são as outras novidades na formação ‘leonina'.
Entre os europeus, o Sporting de Braga fez a vontade ao treinador Abel Ferreira e manteve a grande maioria dos atletas da última temporada, perdendo Danilo (seguiu para o Nice), André Horta (terminou empréstimo e foi vendido pelo SL Benfica ao Los Angeles FC) e Vukcevic (vendido ao Levante), mas reforçando-se, por exemplo, com João Palhinha (cedido pelo Sporting), Eduardo (ex-Estoril), João Novais (ex-Rio Ave), Aílton (ex-Estugarda) e Claudemir (ex-Al-Ahli).
De resto, nos vila-condenses assistiu-se a uma verdadeira ‘debandada', já que, além do agora médio ‘arsenalista', também saíram Cássio (Al-Taawon), Marcelo (Sporting CP), Pelé (Mónaco), Francisco Geraldes (regressou ao Sporting CP, que o emprestou ao Frankfurt) e Guedes (Al-Dhafra). Em sentido inverso chegaram jogadores como Galeno (emprestado pelo FC Porto), Buatu (ex-Beveren), Afonso Figueiredo (ex-Rennes) ou Bruno Moreira (ex-Paços de Ferreira).
Fora das competições europeias desta temporada, o Vitória de Guimarães está a construir um plantel com potencial para altos voos e à imagem do seu novo treinador, Luís Castro. Já sem Raphinha (Sporting CP), Konan (Reims), Hurtado (Konyaspor), os vitorianos reforçaram-se com jogadores como André André (ex-FC Porto), Ola John (ex-SL Benfica), Dodô (emprestado pelo Shakhtar Donetsk), Davidson (ex-Chaves), Alexandre Guedes (ex-Aves) e João Carlos Teixeira (ex-FC Porto), entre outros. Se houve deslize no primeiro jogo da temporada, no Afonso Henriques, diante do Feirense, os ares de dúvida que pairavam sobre a qualidade da turma vitoriana ficaram dissipadas com a reviravolta alcançada no último de fim de semana no Dragão.
Bundesliga: Mais do mesmo?
A Bundesliga já começou e o hexacampeão já iniciou a marcha no que à defesa do título diz respeito — uma vitória sólida por 3-1. Esta é, aliás, um dos busílis do campeonato: como evitar um sétimo título consecutivo do Bayern de Munique e como atenuar os recentes resultados do futebol alemão, após o desaire no Mundial e os resultados menos positivos das equipas germânicas nas competições europeias.
Todavia, a tradição ainda é como era, e o atual campeão abriu o campeonato na sexta-feira em casa, com uma vitória por 3-1 frente ao Hoffenheim, terceiro classificado da última Liga em disputa, e que garantiu um lugar na Liga dos Campeões.
Para o gigante Bayern de Munique e o seu novo técnico, Niko Kovac, vencer o título da Bundesliga é algo que faz parte das ambições da direção. Não é o mínimo, é o expectável. “Aqueles que estão à espera que o Bayern se deixe embandeirar em arco vão ter uma desilusão, avisou o dirigente bávaro Karl-Heinz Rummenigge. "No nosso DNA não existe o gene que provoca a sensação de saciedade”, rematou.
Kovac, de 46 anos, é um antigo jogador do Bayern, já orientou a seleção da Croácia (entre 2013 e 2015) e comandou o Eintracht Frankfurt, onde conquistou uma Taça da Alemanha, derrotando precisamente o Bayern Munique, na final, por 3-1. Esta época, já ao comando do clube bávaro, bateu a sua antiga equipa por 5-0 na disputa da Supertaça, garantindo assim o primeiro título da temporada para o gigante alemão.
Porém, a verdade é que as vitórias domésticas parecem não satisfazem as ambições de dirigentes e adeptos. Os seus olhos miram muito para além das fronteiras da Alemanha. É que, tal como a Juventus em Itália, o objetivo maior é voltar a conquistar a Liga dos Campeões — e a última vez que conseguiu semelhante feito foi em 2012/2013 (vitória frente ao Dortmund por 2-1).
E o plantel foi efetivamente construído para alcançar esse objetivo, mas com uma ligeireza subtil diferente dos grandes rivais europeus que injectam largas somas de dinheiro para esse fim — algo que ficou bem patente nesta última janela de transferências. O chileno Arturo Vidal deixou o clube para reforçar o Barcelona, enquanto Douglas Costa juntou-se a Cristiano Ronaldo na Juventus e Sebastian Rudy assinou pelo Schalke 04. Paralelamente existem ainda os constantes rumores da possível saída do defesa Jerome Boateng para o Paris Saint-Germain.
Por seu turno, numa apreciação prematura e inicial, fica a sensação de que o Bayern não terá conseguido encontrar no mercado substitutos à altura destas saídas: Goretzka (chegou do Schalke 04 a custo zero, visto que o jovem talento alemão estava em final de contrato) e Serge Gnabry (regressou de um empréstimo no Hoffenheim) são bons reforços, mas ainda não foram testados a um nível de exigência equivalente ao que é necessário para não falhar numa fase mais avançada da Liga dos Campeões — para além de aliar a pressão de agora figurarem clube que pretende atacar várias frentes. Por enquanto, na fase de Grupos, ditou hoje o sorteio, os bávaros terão o SL Benfica, Ajax e AEK Atenas pela frente.
Neste cômputo, o português Renato Sanches não parece ter evoluído o suficiente durante o empréstimo ao Swansea e, apesar das palavras do seu treinador durante a pré-temporada, hoje fala-se numa possível mudança para os franceses do Paris Saint-Germain. E, aos 17 anos, não se pode pedir milagres ao jovem canadiano Alphonso Davies. É um investimento que custou 11 milhões de euros, mas recorde-se que veio dos Vancouver Whitecaps, equipa do campeonato norte-americano de futebol (MLS). Ficará a curiosidade para ver como é que o menino, que aos 14 se juntou ao clube canadiano e se estreou na MLS em 2016, vai reagir. As credenciais, apesar da tenra idade, informam que já vestiu a camisola da seleção do Canadá em 2017, na Gold Cup, na qual marcou três golos. Só que é certo e sabido que o futebol europeu é todo uma outra realidade e que o andamento é também outro.
Noutro sentido, foram resolvidos dois dossiers pendentes e que alimentaram os desejos de vários emblemas europeus. O clube da Baviera renovou por mais uma temporada os contratos de Ribery e Robben (35 e 34 anos, respetivamente) e ninguém duvida da sua importância dentro de campo. Contudo, convém não esquecer que ambos possuem um passado algo exposto a lesões e a idade requer que exista uma gestão da sua utilização bem planeada.
Contudo, será que os adversários que o Bayern vai enfrentar na Alemanha serão suficientes para preparar a equipa de forma competitiva tendo em conta a sua ambição europeia? Paralelamente, convém não esquecer que a eliminação da seleção alemã na fase de grupos durante o Mundial disputado Rússia abalou um pouco as hostes no país; ou melhor, colocou os holofotes num fenómeno percetível a nível de clubes que tem acontecido nas últimas temporadas: o futebol alemão tem sido pouco competitivo e o domínio do clube da Baviera tem sido por demais evidente.
Com exceção do Bayern, os resultados das equipas alemães nas competições europeias são algo sofríveis. Isso fica mais acentuado pelo êxodo de talentos rumo ao futebol estrangeiro que acontece a cada janela de transferência. Max Meyer, por exemplo, em final de contrato com o 2.º classificado da temporada passada (Schalke 04), preferiu trocar a Bundesliga pelo Crystal Palace, da Premier League. Dos poucos casos em que aconteceu o inverso, destaca-se o do belga Axel Witsel, contratado pelo Borussia Dortmund ao Tianjin Quanjian chinês por 20 ME.
Contudo, o Borussia Dortmund, no qual alinha o português Raphael Guerreiro, entrou bem na liga, após golear por 4-1 o Leipzig, em jogo da jornada inaugural da Bundesliga. Refém de um atacante desde a saída de Michy Batshuayi (sem lugar no Chelsea de Sarri foi emprestado ao Valência), os auri-negros conseguiram os serviços de Paco Alcácer para colmatar a necessidade — apesar de ser um jogador completamente diferente do belga em todos os aspetos possíveis —, tendo sido cedido pelo Barcelona (2,2 ME), por empréstimo com opção de compra (25 ME).
Quarto classificado da Liga alemã de futebol no ano passado, o Dortmund anunciou em maio passado a contratação do treinador suíço Lucien Favre, que enquanto jogador foi campeão com a camisola do Servette, clube que posteriormente orientou, antes de se transferir para o Zurique. Fora da Suíça, treinou o Hertha Berlim e o Borussia Mönchengladbach, passando depois pelo Nice, onde trabalhou antes de substituir o austríaco Peter Stöger em Dortmund (que, por sua vez, tinha entrado para o lugar de Peter Bosz, despedido na sequência de maus resultados). Com Favre chegaram também vários reforços: para além de Witsel e Alcácer, Diallo (ex-Mainz), Delaney (ex-Werder Bremen), Marius Wolf (ex-Frankfurt) e Hakimi (emprestado pelo Real Madrid) aterraram em Dortmund com o intuito de fazer o clube regressar aos títulos.
Em suma, há que pensar sempre no Bayern Munique como o grande bicho papão do campeonato, mas dando sempre atenção ao rival Borussia Dortmund de Lucien Favre — sem descurar os emblemas históricos como o Bayer Leverkusen ou o Schalke 04, que têm crescido nos últimos meses.
Há quase 10 anos que não havia uma Espanha sem CR7
Espanha entra num novo paradigma no contexto futebolístico — e logo num que é desconhecido há quase uma década, visto que a liga espanhola entra na era pós-Cristiano Ronaldo, cuja transferência para a Juventus deixa o ‘palco’ livre para Lionel Messi, o principal responsável pelos sucessos recentes do rival FC Barcelona.
O avançado argentino liderou o clube catalão na conquista de sete títulos espanhóis nos últimos 10 anos — entre os quais o da época passada —, aos quais o goleador português apenas conseguiu responder por duas vezes, em 2012, sob o comando do compatriota José Mourinho, e em 2017, pela mão de Zidane.
A saída de Ronaldo, que em nove épocas se tornou o melhor marcador de sempre do Real Madrid, com 451 golos em 438 jogos, põe fim a uma das mais intensas rivalidades na história do futebol, pelo menos no campeonato espanhol. Se, sob a ‘batuta’ do avançado português, o Real Madrid se tornou dono e senhor da Liga dos Campeões, que conquistou em 2014, 2016, 2017 e 2018, na Liga espanhola o clube da capital tem vivido à sombra do FC Barcelona, tendo, inclusive, terminado no terceiro lugar na última temporada.
Os ‘merengues’ utilizaram parte dos 100 milhões de euros pagos pela Juventus pela transferência de Cristiano Ronaldo para contratar ao Chelsea o guarda-redes belga Thibaut Courtois, a mais sonante aquisição do Real Madrid, Odriozola à Real Sociedad e Mariano Diaz ao Lyon.
Com Cristiano Ronaldo saiu também o treinador francês Zinedine Zidane, substituído por Julen Lopetegui, antigo técnico do FC Porto, que deixou o comando da seleção de Espanha de forma atribulada, em vésperas do jogo de estreia no Mundial2018, frente a Portugal.
O FC Barcelona, que já entrou da melhor forma na nova temporada ao conquistar a Supertaça espanhola com um triunfo por 2-1 sobre o Sevilha, manteve os jogadores mais influentes do plantel, do qual continua a fazer parte o português Nélson Semedo, tendo-se reforçado com o chileno Arturo Vidal (ex-Bayern Munique), os brasileiros Malcolm (ex-Bordéus) e Arthur (ex-Grémio) e o francês Lenglet (ex-Sevilha).
Ainda assim, há uma mudança nos blaugrana que não pode deixar de ser assinalada. É que após 22 anos, o futebolista espanhol Andrés Iniesta não faz parte do elenco. Não se pode descurar a saída de um dos virtuosos do futebol catalão que, apesar da idade, tem um toque de bola que não engana. E o seu currículo também não. Ao longo de 15 temporadas na equipa principal dos 'blaugrana', Iniesta venceu oito ligas espanholas, seis Taças do Rei, sete Supertaças de Espanha, quatro Ligas dos Campeões, três Supertaças Europeias e três Mundiais de clubes.
Contudo, quando termina uma era, inicia-se outra. E com a saída do capitão Iniesta, a braçadeira de capitão é agora de Messi, melhor marcador da Liga nos últimos dois anos. O argentino capitanear os blaugrana, passando agora a deter o símbolo que já foi de outras estrelas da casa, como Puyol, Xavi e Iniesta.
Ao Atlético de Madrid, que contratou Gelson Martins depois do extremo português ter rescindo unilateralmente com Sporting, alegando justa causa, deverá estar reservado o papel dos últimos anos: esperar pelos deslizes dos dois colossos para reeditar o título alcançado em 2014. Para além de Gelson, os comandados de Simeone reforçaram-se ainda com Thomas Lemar (ex-Mónaco), Kalinic (ex-Fiorentina e o jogador que não jogou a final do Mundial 2018 por alegado amuo), Rodri (ex-Villarreal), Arías (ex-PSV, mas que já passou por Alvalade) e Johnny (ex-Celta de Vigo).
A correr por fora está o Valência, que investiu muito (mais de 100 ME) no plantel deste ano, com destaque para a contratação, a título definitivo, do português Gonçalo Guedes (que chegou do Paris Saint-Germain a troco de 36 ME, depois de já ter estado emprestado aos valencianos na temporada passada). Para além de Guedes, o conjunto treinado por Marcelino Toral adquiriu ainda Kondogbia (ex-Inter de Milão), Kevin Gameiro (ex-Atlético de Madrid), Diakhaby (ex-Lyon), Murillo (ex-Inter de Milão), Piccini (ex-Sporting CP), Wass (ex-Celta de Vigo, que já passou pelo SL Benfica) e garantiu os empréstimos de Michy Batshuayi junto do Chelsea e de Denis Cheryshev junto do Villarreal.
Se a competição perdeu Cristiano Ronaldo, ganhou a entrada de três novos internacionais português: para além de Gelson, o médio William Carvalho foi contratado pelo Betis ao Sporting CP e o ponta-de-lança André Silva foi emprestado pelo AC Milan ao Sevilha. No caso do avançado dos milaneses, não podia ter desejado melhor estreia, visto que apontou três golos quando debutou pelos sevilhanos a meio de agosto.
“Foi a estreia com que sempre sonhei e sinto um orgulho enorme. Fiz o que me pediu o treinador, que é trabalhar para que tenha as oportunidades que tive hoje”, disse o jogador no final do encontro.
As duas equipas mais ‘portuguesas’ em Espanha são agora o Eibar, com o defesa Paulo Oliveira e o avançado Bebé, e o recém-promovido Huesca, com os defesas Lusinho e Rúben Semedo, emprestado pelo Villarreal, depois de ter estado 142 dias em prisão preventiva, acusado de vários crimes.
Os defesas Daniel Carriço e Rúben Vezo preparam-se para cumprir a sexta época no Sevilha e no Valência, respetivamente, enquanto os colegas de setor Antunes, no Getafe, e Kévin Rodrigues, na Real Sociedad, completam o ‘contingente’ luso no campeonato espanhol.
“Não, tenho contrato com o ‘PSG’, e vou estar em Paris”
As palavras são Neymar e isto foi o que o avançado brasileiro, que chegou a França proveniente do FC Barcelona, a troco de uma verba recorde de 222 milhões de euros, no início da época. Em entrevista ao canal espanhol TV3, da Catalunha, Neymar desmentiu que esteja a pensar sair do clube antes do final do contrato, em 2022, depois de a imprensa espanhola apontar a uma saída, neste ou no próximo ano, para o Real Madrid, que perdeu Cristiano Ronaldo para a Juventus.
O astro dos franceses levou o clube da capital gaulesa à conquista do campeonato na temporada passada, leva já três golos e duas assistências em três jogos da ‘Ligue 1’ desta época, além de ter ganho a Supertaça. Ou seja, o que se pode esperar da liga francesa?
Para já, a surpresa chama-se Dijon. É a grande sensação no arranque da liga francesa de futebol, somando três vitórias em outros tantos jogos, a última das quais a goleada de 4-0 em Nice. Contudo, este vai ser um ano em que os treinadores portugueses Leonardo Jardim e Miguel Cardoso vão testar o superfavoritismo do campeão Paris Saint-Germain.
Jardim vai iniciar a quinta época no comando técnico do Mónaco, que já levou ao título em 2016/17, num patamar bastante inferior à formação da capital francesa, que juntou às ‘estrelas’ Neymar, Mbappé, Di Maria e Cavani, o super guarda-redes italiano Gianluigi Buffon (que parece um jovem alegre a comandar as tropas no eixo mais recuado do conjunto parisiense) e o jovem defesa alemão Thilo Kehrer (ex-Schalke 04).
Agora sob o comando do alemão Thomas Tuchel, sucessor do espanhol Unai Emery (que se mudou para o Arsenal, de Inglaterra), o Paris Saint-Germain é o principal favorito à conquista do título de campeão. Um domínio demonstrado com a goleada imposta ao Mónaco (4-0), na Supertaça.
Os monegascos, agora sem João Moutinho, contam com os internacionais lusos Rony Lopes e Pelé, contratado ao Rio Ave, num plantel em que pontifica o colombiano Radamel Falcao e que foi reforçado com nomes como Nacer Chadli (ex-West Bromwich), Willem Geubbels (ex-Lyon), Benjamin Henrichs (ex-Bayer Leverkusen), Jean-Eudes Aholou (ex-Estrasburgo) Aleksandr Golovin (ex-CSKA Moscovo), entre outros, para tentar contrariar o favoritismo parisiense, numa missão que poderia perfeitamente ser protagonizada por Ethan Hunt (esse mesmo, o herói de "Missão Impossível", interpretado por Tom Cruise).
Ainda assim, o clube do Principado gastou cerca de 115 ME em contratações, "compensadas" com as vendas de Lemar ao Atlético de Madrid (70 ME), Fabinho ao Liverpool (45 ME), Kongolo e Diakhaby ao Huddersfield (20 ME e 10 ME, respetivamente), entre outros. Para além, claro, da "confirmação" da transferência de Mbappé para o Paris Saint-Germain (na temporada passada estava "apenas" emprestado, sendo nesta época que a astronómica venda por 135 ME se torna efetiva).
Igualmente pretendentes aos lugares cimeiros da classificação, Lyon e Marselha, terceiro e quarto em 2017/18, também contam com portugueses no plantel, casos do guarda-redes Anthony Lopes e do defesa central Rolando, respetivamente.
Os marselheses, finalistas da última edição da Liga Europa, reforçaram a defesa com as contratações do croata Duje Caleta-Car (ex-Salzburgo) e de Jordan Amavi (ex-Aston Villa), o meio-campo com Kevin Strootman (ex-Roma) e o ataque com Nemanja Radonjic (ex-Estrela Vermelha).
Já o Lille, que terminou o último campeonato na 17.ª posição, primeira acima dos lugares de despromoção, contratou o defesa-central José Fonte aos chineses do Dalian Yifang, e o avançado Rafael Leão, que rescindiu com o Sporting, e fez regressar o médio Xeka, juntando-os a Edgar Ié e aumentando o contingente luso no conjunto que continua a ser orientado por Christophe Galtier (e que se reforçou com o internacional francês Loic Rémy, ex-Las Palmas).
No que respeita a portugueses, o central Pedro Mendes vai cumprir a sua segunda temporada no Montpellier (10.º na época passada), tal como o lateral esquerdo Pedro Rebocho no Guingamp (12.º na temporada transata).
Destaque ainda para o Nantes, nono da época passada e que agora é treinado por Miguel Cardoso, que levou o Rio Ave ao quinto lugar na última liga portuguesa. O treinador português reforçou o plantel com nomes como Waris (emprestado pelo FC Porto), Boschilia (emprestado pelo Mónaco), Miazga (emprestado pelo Chelsea), Anthony Limbombe (ex-Brugge), Lucas Evangelista (que chegou da Udinese, apesar de ter passado a temporada passada emprestado ao Estoril) e Fábio da Silva (ex-Middlesbrough).
Comentários