Nas últimas semanas, o 2020 de JJ foi tema de discussão no Brasil. Os flamenguistas rezam pela permanência do treinador que os alçou perante os holofotes mundiais com as conquistas do Brasileirão e da Libertadores. Muitos dos seus admiradores na imprensa e entre as hostes dos amantes do futebol torcem pela manutenção do efeito JJ, sobre a qual já discorremos anteriormente. Já os rivais diretos desejam o seu retorno à Europa para ter a sua vida mais facilitada.
Provavelmente, Jorge Jesus não estava à espera de conquistar tudo tão rapidamente. Quando veio para o Brasil, sabia do potencial do Flamengo e queria ganhar os títulos que ganhou, mas era improvável conseguir tamanha superioridade em tão pouco tempo. E isso antecipa a pergunta do “e agora?”.
O sonho de Jesus sempre foi a Champions. O técnico nunca escondeu isso nas entrevistas que deu. Recentemente, numa entrevista ao jornal A Bola, Jesus reafirmou isso, adiantando também que não se seduz pelo desafio da Premier League e que gostaria muito de trabalhar em Espanha.
Vamos então analisar as possibilidades de JJ nesta janela de inverno e na próxima de verão.
Em primeiro lugar, a sua grande barreira é linguística. Não falar inglês é um problema para assumir as grandes equipas europeias atualmente. Clubes como o Arsenal, que tem atualmente a sua vaga de treinador livre, dificilmente apostaria num treinador que precise de tradutor sem que seja uma superstar. Já clubes médios, como o Everton, não representam possibilidades reais de lutar por troféus e seriam apenas pontes para os emblemas maiores.
Talvez por isso, e por considerar-se apto a falar espanhol (??), Jesus prefira a La Liga. Mas, em Espanha, somente três clubes tem objetivos reais de alcançar títulos e não parece que tenha espaço num deles, neste momento. Restam, como bons desafios, reabilitar os grandes em Itália ou fazer um retorno triunfal a Portugal, provavelmente no FC Porto. Ou então, optar pelos camiões de dinheiro na China, se bem que já experimentou algo semelhante (em menor escala, é certo) no Al-Hilal da Arábia Saudita, projeto do qual rapidamente se fartou.
Jesus precisa de olhar para a sua carreira, que não tem muito mais anos pela frente, e decidir como quer prossegui-la. No Brasil, tem a oportunidade de fazer algo grandioso e que o deixe no panteão dos deuses do futebol brasileiro. Mas, como tudo na vida, o risco é proporcional à glória.
Não vai ser fácil repetir o ano de 2019 e criar uma hegemonia no Brasil. O Flamengo é o maior campeão desde a criação do Campeonato Brasileiro gerido pela CBF em 1971, com sete troféus. O maior campeão, em sequência, é o São Paulo, com um tricampeonato. E, desde a adoção dos pontos corridos em 2003, nenhum clube havia ganho o troféu continental e nacional no mesmo ano.
A competição no Brasil é alta e o Flamengo de JJ já não será uma novidade. Estudado e conhecido pelos adversários, ficará mais difícil a cada jogo. Vide a despedida do Brasileirão, com uma derrota de 4-0 para o Santos de Sampaoli. Mesmo com todo o contexto de fim de campeonato, enfrentando um rival sem objetivos a disputar e com o Mundial de Clubes na cabeça, o Santos mostrou caminhos para vencer os rubro-negros.
O efeito JJ jogará contra o seu criador. Os rivais, agora, procuram aprender com o treinador português e subiram a exigência para os seus profissionais. O Palmeiras, o único com poderio financeiro compatível neste momento, mira Sampaoli para se solidificar como o principal rival do projeto rubro-negro.
Outro ponto importante é o plantel do clube carioca. Com os grandes investimentos feitos em 2020, qual será o poderio do Flamengo no mercado? Há dinheiro, mas o suficiente para melhorar o banco de reservas ou para ir buscar um Diego Costa, como se especula? Será possível manter Reinier ou Gérson, jogadores com mercado na Europa? Gabigol, a novela da janela, escolherá ficar ou sair? Conseguirá Jesus manter a sede de vitórias destes jogadores?
Porém, apesar de todos esses desafios, o Brasil oferece a Jesus a oportunidade de se tornar a figura central do movimento de reconstrução do futebol nacional. Um ícone do que pode vir a ser um novo amanhecer para um campeonato com clubes mais estruturados, com mais talentos e com melhores partidas. Um produto que, se bem trabalhado, pode fazer frente ao mercado europeu e não ser, apenas, um exportador de matérias primas.
E, quem sabe, pode cair no colo do português uma oportunidade que nenhum estrangeiro jamais teve – dirigir a Seleção Brasileira. Haverá oportunidade maior do que recolocar a camisa amarela no topo do mundo com um futebol digno da sua história?
Caro leitor, o que é que faria? Lutar entre os grandes para conseguir uma hipótese de título europeu? Ou buscar um lugar entre os deuses do futebol brasileiro?
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