As escolhas falhadas de Ralph Krueger

Até chegar à contratação de Ralph Hasenhüttl, o seu homónimo e proprietário do Southampton, Ralph Krueger, passou — desde 2014, ano em que adquiriu o clube — por cinco treinadores, sendo Hasenhüttl o quarto nos últimos dezoito meses apenas.

De todas as escolhas para o cargo, ou não as achei a melhor possível, ou acabaram por se revelar menos acertadas. Nunca fui um admirador confesso de Mark Hughes; e, tanto Mauricio Pellegrino como Claude Puel revelaram, por uma razão ou por outra, não estar à altura do cargo. Ronald Koeman, este com um trabalho interessante, revelou-se, também, à semelhança dos seus sucessores, extremamente cauteloso para uma liga que tende a beneficiar os mais audazes. Mark Hughes foi o treinador que os ajudou a ficar na Premier League na temporada passada, herdando a equipa numa altura muito complicada e daí, presumo eu, ter merecido o prémio de continuar ao comando da equipa no início desta nova época. Agora que demonstrou não ser a melhor das opções para conduzir o Southampton a patamares mais elevados, foi tempo de dizer adeus ao experiente treinador inglês.

Ronald Koeman

O estilo de jogo do Southampton, apesar do potencial dos seus jogadores, tem sido extremamente cauteloso como mencionado acima. Sem algo de excitante, sempre a premiar o controlo defensivo, nunca correndo riscos desnecessários. Na Premier League, mais que em qualquer outra liga, quem não corre riscos, normalmente não retira dividendos. E esse tem sido o caso dos Saints.

A alternância no comando técnico tem sido tal que até ao próprio Hasenhüttl foi colocada a questão sobre o seu nível de preocupação — ao aceitar um lugar que não tem sido conhecido pela sua estabilidade. Porém, o treinador não parece minimamente preocupado e tem plena confiança nas suas capacidades e espera ficar ao serviço do clube inglês durante, no mínimo, a duração do seu contrato (dois anos e meio).

Ouvindo igualmente diversos testemunhos de adeptos dos Saints, esta parece ser uma escolha muito bem-vinda e, finalmente, o entusiasmo parece estar de volta ao Saints Army — Exército dos Santos.

Uma opção de desespero ou uma escolha pensada?

Definitivamente uma escolha pensada e, mais do que isso, sensata. Ainda que houvesse a possibilidade de ter sido tomada ainda mais cedo na época, ou mesmo no início da mesma, já que o treinador austríaco estava disponível desde maio, a decisão não é, de todo, tomada tarde. Com 15 jornadas efetuadas e apenas 2 jogos até ao intenso calendário natalício, o treinador parece ter vindo numa altura interessante para se adaptar e colocar o Southampton no lugar a que este pertence; na minha opinião, do décimo lugar para cima. De referir que nos últimos anos a equipa tem perdido qualidade no plantel e não me parece que tenha sido capaz de repor todo o valor perdido. Mais uma razão para a contratação do austríaco, no qual recai a esperança na rentabilização da academia e na contratação de novos jogadores, já que a direção parece querer voltar aos lugares cimeiros da Premier League e sabe que para isso terá que utilizar os cofres do proprietário e do clube.

créditos: Ralph Hasenhüttl

Quem é Ralph Hasenhüttl

Ralph Hasenhüttl, 51 anos, não trabalha desde maio deste ano, mas tem uma carreira recheada de bons momentos.

Na sua primeira época ao serviço do RB Leipzig, a sua época de estreia, liderou a equipa a um tremendo segundo lugar na Bundesliga, após a equipa ter sido promovida ao escalão máximo do futebol alemão na época anterior.

Ralph Hasenhüttl: “O meu objetivo é dar-me a conhecer na Premier League e este parece ser o passo lógico a dar depois de alguns anos de sucesso na Alemanha”

No entanto, não é só pelo excelente trabalho ao serviço do RB Leipzig que o treinador é conhecido. Hasenhüttl é também famoso por conseguir assegurar a manutenção de equipas na sua época de estreia, levando-as, na época seguinte, ao sucesso. Inclusivamente subidas de divisão, como foram os casos de VfR Aalen, onde esteve de 2011 a 2013 e o Ingolstadt 04, que o técnico orientou de 2013 a 2016.

Assim como o treinador não é uma cara desconhecida para alguns dos jogadores e treinadores da Premier League já que tem uma relação próxima com alguns. São exemplos disso Naby Keïta, que foi treinado pelo mesmo durante os três anos ao serviço do Leipzig e também Pascal Groß, agora no Brighton & Hove Albion, que cruzou caminho com o técnico austríaco no FC Ingolstadt 04, na altura, na segunda divisão alemã.

David Wagner (técnico do Huddersfield Town) e Jürgen Klopp já teceram elogios ao treinador estreante na liga, tendo o segundo ido inclusivamente mais longe. Questionado sobre o novo treinador do Southampton, o alemão, ao seu estilo, fez questão de chamar a atenção, de forma elogiosa, para a pronúncia do jornalista inglês ao dizer o nome do seu colega de profissão. Não ficando por aí o treinador do Liverpool fez questão de clarificar todos os presentes com o significado do sobrenome do colega. "Hasen é ‘Coelho’, huttl não significa nada", disse o treinador do Liverpool com a sua boa disposição.

Segundo o próprio Hasenhüttl, Jürgen Klopp não sabe do que fala, disse o treinador em tom de brincadeira. Apesar de ter acertado no Hasen - ‘Coelho’, errou no huttl, que significa ‘pequena toca’, esclareceu o recém chegado numa conferência de imprensa onde se revelou extremamente à vontade.

A imediata interação entre ambos os treinadores não é surpresa já que Ralph Hasenhüttl não só é conhecido como o ‘Klopp austríaco’, como ambos são amigos e respeitam-se imenso. Fizeram juntos vários dos cursos de treinador e têm uma filosofia de jogo muito semelhante.

O que esperar de Hasenhüttl

Um treinador que se diz ser refém das rotinas apresentadas nos treinos poderá ter problemas nas primeiras semanas onde não terá muito tempo para treinar, comparativamente à quantidade de jogos que se seguem. Para o jogo de sábado, dia 8, frente ao Cardiff City, só orientará a equipa uma vez. Depois disso, e passadas algumas semanas, poder-se-á esperar uma mudança mais vincada.

O símbolo do Southampton na parte exterior do estádio St. Mary’s créditos: Pedro Carreira

O estilo preferido do técnico é de intensidade máxima, de pressão, de risco. Finalmente um treinador com a ambição de colocar o Southampton na rota das oportunidades. Tendo assistido a diversos jogos ao vivo dos Saints nas últimas temporadas sempre achei a equipa muito presa. O próprio ambiente no estádio tem vindo a ser cada vez mais morno, um fator que se espera vir a mudar de imediato com a injeção de motivação trazida pela nova aquisição.

Na primeira conferência de imprensa, questionado sobre a possibilidade de mudanças no plantel, o treinador recusou fazer considerações sobre os seus jogadores. Ainda assim, fez questão de dizer que durante este mês de dezembro irá puxar os jogadores ao máximo e analisar quem tem condições para jogar o seu futebol ‘tipo’. Quem não corresponder de forma positiva, poderá mesmo ter a porta de saída aberta. A personalidade do treinador não demorou a fazer-se notar, pelo que se espera um Southampton muito excitante.

"Qualquer que tenha sido a equipa que orientei, os estádios estiveram sempre cheios. Isso deve-se à forma como as minhas equipas jogam"

Para Cédric Soares, o português ao serviço da equipa da costa sul inglesa, esta mudança poderá trazer boas notícias, já que o internacional português poderá vir a beneficiar imenso com o estilo de jogo do novo treinador. Sendo um lateral com uma capacidade de subir e descer no terreno muito acima da média, Cédric poderá dar mais nas vistas, envolver-se mais no processo ofensivo e dar assim uma boa continuidade ao excelente trabalho que tem vindo a desenvolver.

Fico radiante com a vinda do austríaco para a liga e muito interessado no desenvolvimento da equipa no decorrer das próximas semanas, principalmente nos resultados a partir de janeiro, tendo o técnico algum tempo para adaptar a equipa à sua mentalidade e poder também extrair o melhor dos seus jogadores.

créditos: Pedro Carreira

Esta semana na Premier League

De jogo grande em jogo grande fomos da extraordinária rivalidade entre Arsenal e Tottenham, passámos por um clássico entre um Manchester United adormecido e um renascido Arsenal a meio da semana e acabamos com um clássico da era moderna. O clássico dos ‘novos-ricos’ entre Chelsea e Manchester City, que terá lugar no sábado, dia 8, pelas 17h30.

Também no sábado, dia 8, destaque para a estreia do treinador de que falámos hoje, com o Southampton de Ralph Hasenhüttl a visitar o Cardiff City, pelas 15h00.