É verdade que, à luz da história, pouco importa que a seleção nacional se tenha apresentado de forma tão pouco convincente na fase de grupos do Euro2016 — o título de campeão ofusca o empate dececionante com a Islândia, o nulo ainda mais desolador com a Áustria e a igualdade a três bolas pinguepongueada com a Hungria.
Ditou o destino que, no ano em que Portugal terminou na terceira posição no seu grupo — o que teria significado falhar pela primeira vez um apuramento para os oitavos desde que se estreou na competição, em 1984 —, a UEFA inaugurou a regra de permitir a passagem dos quatro melhores terceiros lugares. Sorte a nossa.
Desta vez, o resultado final não foi diferente, ainda que os contornos para lá chegar tenham sido bem distintos — se há cinco anos nos ficamos pela mediania de três empates, desta vez fomos do Céu ao Inferno, terminando no Purgatório. Depois de despachar a Hungria e ser vergada pela Alemanha, a seleção nacional voltou a carimbar a passagem para a fase seguinte num sofrido duelo com a França, nas Puskas Arena, na Hungria.
No dito “grupo da morte”, Portugal viu-se bem vivo com o golo que Ronaldo marcou de grande penalidade, passando para primeiro lugar do grupo ao beneficiar da vantagem da Hungria sobre a Alemanha no outro jogo a decorrer em simultâneo. Para choque dos choques, era a Mannschaft que ficava de fora.
No entanto, 45 minutos depois, tudo mudava: uma sucessão de dois golos de Benzema — um pénalti controverso no final da primeira parte, um tento no limiar do fora de jogo no início da segunda — atiravam a seleção para o último lugar. Instalava-se o desespero, que foi dissipado pouco mais de 10 minutos depois com novo golo de Cristiano Ronaldo. Portugal passava assim para o segundo lugar, com a França em primeiro, a Hungria num surpreendente terceiro e a Alemanha de fora.
Se o resultado na Hungria não mais se mexeu, em Munique a Alemanha empatou, voltou a sofrer e voltou a igualar. Feitas as contas, com o empate diante dos húngaros, os alemães resgataram a segunda posição — em igualdade pontual com Portugal mas com vantagem no confronto direto. Aliás, o outro jogo do grupo F acabado primeiro, os portugueses até respiraram de alívio mais cedo, sabendo que a qualificação estava garantida.
Para memória futura de uma partida emocionante mas assim-assim em futebol jogado, fica a defesa inacreditável de Rui Patrício a remate de Pogba, a maldade que João Palhinha fez a esse mesmo médio francês, o partidaço a reclamar a titularidade de Renato Sanches, os recordes de Ronaldo e de o facto de Fernando Santos num só jogo ter rodado todos os médios à sua disposição, gerando dúvidas sobre qual será a disposição tática daqui para a frente.
Ao contrário de 2016 — em que a seleção nacional ficou atrás da Eslováquia e da Irlanda na corrida pelos melhores terceiros lugares —, desta vez acabamos mesmo como os “melhores dos piores”, à frente da República Checa, da Suíça e da Ucrânia. No entanto, “melhor” prestação não significa “melhor” sorte nos oitavos, pelo menos no adversário que calhou na rifa.
Se em 2016, Portugal foi bafejado com um percurso teoricamente acessível até à final — Croácia, Polónia e País de Gales até àquela derradeira noite em Paris — desta vez a seleção nacional apanha pela frente uma das mais temíveis adversárias do torneio.
Uma de três equipas a acabar o respetivo grupo apenas com vitórias — as outras duas foram a Itália e os Países Baixos —, a Bélgica tem encontro marcado com a seleção das Quinas este domingo aqui ao lado, em Sevilha. Se Portugal passar, terá pela frente os vencedores do duelo entre Itália e Áustria — depois disso, um reencontro com França ou embates com a Espanha, a Croácia ou a Suíça são tudo possibilidades.
É a primeira vez que Portugal se defronta com a Bélgica numa fase final de uma competição — até agora, os duelos tinham acontecido em formato amigável e em rondas de qualificação para europeus e mundiais. A seleção nacional, de resto, tem uma ligeira vantagem no histórico, com seis vitórias, sete empates e cinco derrotas. Esse, porém, vale de pouco contra jogadores como Lukaku, De Bruyne ou Hazard em dia sim. Venha Sevilha.
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