Imagens que marcaram os oitavos
Os Diabos Vermelhos da Bélgica passaram por momentos infernais frente a uns japoneses que chegaram a estar com um pé nos quartos-de-final, para depois serem atirados para fora do Mundial com um trio de golos a aparecerem do nada.
Se o de Jan Vertonghen é uma dádiva caída do céu e o de Fellaini é surpreendente (até porque estamos a falar de um dos médio-centros mais “detestados” a nível europeu), o que dizer do golo de Chadli no último segundo de jogo?
Uma jogada de equipa perfeita e que teve três responsáveis no final: Meunier, Lukaku e Chadli, que representam assim a forquilha dos Diabos Vermelhos num lance que define o que é um Mundial. É possível que esta remontada seja a vitamina necessária para a Bélgica de Roberto Martinez acreditar que é possível serem Campeões do Mundo?
E por falar em possíveis Campeões do Mundo, a saída de Portugal (abrupta, nós sabemos) pôs fim ao sonho de Cristiano Ronaldo ser Campeão do Mundo, uma vez que só em 2022 surgirá outra oportunidade (e terá 37 anos nesse momento).
Mas mesmo num jogo em que nada estava a correr bem a Portugal, Cristiano Ronaldo ainda teve um momento de bom fair play com o homem que tirou o sonho aos portugueses, Edison Cavani.
Ainda que alguns digam que o lendário jogador português só teve esta atitude para despachar a saída do matador uruguaio, é importante lembrar que a atitude e gesto existiram e que provam que nem tudo vale para ganhar.
Contudo, será que a imagem dos oitavos-de-final vai para a nova Aranha Negra da Rússia? Akinfeev foi o herói numa tarde de nervos entre uma das maiores canteras dos últimos anos, a Espanha, e um país algo esquecido no futebol.
O jogo foi duro, muito agressivo e com uma disputa física (com Sergio Ramos e Sergei Ignashevich de cada um dos lados da barricada, queríamos o quê...?) que por vezes merecia outra atenção. A Roja esteve na frente do resultado, graças a um golo de Ramos, para depois Piqué estragar a “vantagem” ao cometer uma grande penalidade que Dzyuba se encarregou de marcar.
O empate improvável ao fim de 120 minutos deu lugar às grandes penalidades… Quem iria sobreviver neste aspeto? Akinfeev fez questão de assumir a responsabilidade de colocar a Rússia nos quartos-de-final (pela primeira vez desde que a URSS deixou de existir), com uma defesa espetacular com o pé, um toque ligeiro que fez com que o remate de Iago Aspas saísse por cima.
Um toque de Akinfeev que não torna todos os objectos em ouro, mas valeu, pelo menos, um bilhete para a fase seguinte.
Talento e velocidade: Mbappé em movimento
Num dos jogos mais esperados destes oitavos-de-final, a magia de Messi encontrou do outro lado uma equipa organizada e um talento em ascensão. Mbappé tem velocidade, talento, é perigoso com e sem bola e, na partida com a Argentina, teve um dos melhores jogos da sua jovem carreira.
Logo aos 11 minutos o jovem francês arrancou do meio do seu meio-campo e só parou na área argentina quando Rojo o derrubou. Penálti para a França, 1-0 pelo pé de Griezmann.
Entretanto o jogo ficou empatado a duas bolas e a França precisava de Mbappé. Depois de uma confusão na área albiceleste, o esférico sobra para o jovem gaulês que tira dois homens do caminho e finaliza para o 3-2. Mas o grande jogo de Mbappé não parou aí. Depois de um grande passe de Giroud, o craque de 19 anos ficou na cara de Armani e não facilitou. Bis jovem do Paris Saint-Germain que praticamente sentenciou a partida a favor dos gauleses.
Para além dos golos marcados, todo o jogo da França mudava quando a bola chegava aos pés de Mbappé. A sua velocidade e incrível capacidade de desmarcação catapultaram a equipa francesa para a fase seguinte. Foi, assim, o melhor jogador desta fase, com uma prestação de excelência que o confirma como um dos talentos mais promissores do futebol mundial.
A matrioska que não arreda pé do seu Mundial
Não há margem para dúvidas em relação à seleção-surpresa desta ronda (muito por culpa do Japão, que caso tivesse segurado aquela vantagem ante a Bélgica, estaria aqui…): Rússia. Mas quem diria que estes czares sobreviveriam ao Egipto de Salah, por exemplo? O apuramento para a fase seguinte foi um prémio mais que justo, mas a verdade é que no seu horizonte estava uma das super favoritas desta prova, a Espanha de Julen Lop… pedimos desculpa, Fernando Hierro.
Todavia, quem diria que a Rússia sobreviveria a 120 minutos de alta pressão espanhola? O golo de Sergio Ramos parecia ter sido o abre-latas necessário para se iniciar uma avalanche de golos e domínio que a Rússia não iria aguentar. A intensidade espanhola foi crescendo perante o recuo da Rússia, que permitia aos seus adversários estarem completamente à vontade em sua casa. Asensio tentou um remate… mas Akinfeev defendeu. Diego Costa fugia pela quina da área… mas Mario Fernandes limpou.
O aproximar do intervalo fez com que a Roja tirasse o pé do acelerador, sentindo-se (demasiado) confortável com o resultado em mãos. E é aí que se dá a traição de Gerard Piqué, que num salto desamparado eleva o braço de tal forma que “corta” um possível cabeceamento perigoso de Dzyuba, sem que fosse necessário o VAR. Com o empate no pé, Dzyuba não falhou a conversão e pôs todo o púlpito russo a festejar.
O empate persistiu até ao fim do prolongamento que entretanto chegou, com a Roja a ter sérios problemas em encontrar o caminho para a baliza e a imaginação de Isco e Iniesta não dava para muito mais.
Nas grandes penalidades, a Espanha evidenciou algo que foi notório durante toda a competição: falta de categoria para ser campeã. Tem grandes individualidades, tem excelentes manobras de transição, grandes manobradores e pensadores de jogo, dois defesas competentes, etc. Mas falta aquele toque que se perdeu em 2014 e que nunca mais se recuperou.
A Rússia foi fria, calculista e eficiente na marca de 11 metros, com Akinfeev a levar os czares até a um ponto que poucos acreditavam possível. Uma formação robusta, solidária, maquiavélica e que nunca apresentou sinais de desespero, mesmo quando via aquela versão falsa do tiki-taka a rolar dentro das quatro-linhas.
Contra os uruguaios, perder, perder
A maior desilusão desta ronda é a Península Ibérica. Portugal e Espanha abandonam o Mundial nos oitavos e, olhando a concorrência, acabam por ser uma desilusão. O jogo da Espanha foi já abordado, mas e Portugal? A turma das Quinas defrontou uma boa equipa do Uruguai mas, tendo em conta que fez o melhor jogo na competição, esperava-se mais.
Portugal não entrou mal no jogo mas logo aos 7 minutos surge o primeiro golo do Uruguai. Desconcentração da defesa lusa que permite uma jogada inteligente dos melhores adversários. Passe de Cavani a virar o jogo para Suarez que domina e cruza para o coração da área. O cruzamento volta a encontrar Cavani e o avançado do Paris Saint-Germain finaliza, sem hipóteses para Rui Patrício. A má comunicação entre José Fonte e Raphael Guerreiro resultou no primeiro golo do jogo.
A Seleção Nacional tentou responder mas, na primeira parte, a maior ocasião de golo foi mesmo do Uruguai. Livre de Suarez a passar no meio da barreira portuguesa e a permitir uma grande defesa a Patrício. O intervalo chegou e a segunda parte trouxe o melhor Portugal deste Mundial. Domínio do jogo, muita posse de bola e uma circulação pouco eficaz mas segura. É nesta fase do jogo que surge o empate. Canto batido à maneira curta que leva a um cruzamento de Raphael Guerreiro direitinho para a cabeça de Pepe. Cabeceamento mortífero do central luso-brasileiro para restabelecer a igualdade.
Mas a igualdade durou apenas 7 minutos. Passe longo, Pepe falha a interceção e a bola sobra para os uruguaios que, colocando a bola em Cavani chegam ao 2-1. Remate fantástico do avançado que bisava na partida. Ricardo Pereira fechou ao meio deixando Cavani sozinho e o pobre posicionamento de Rui Patrício impossibilitou ao guarda-redes chegar ao colocado remate do avançado uruguaio.
Num dos melhores jogos deste Portugal de Fernando Santos, a equipa das Quinas não conseguiu ultrapassar um adversário equilibrado e tremendamente eficaz. Chegando à Rússia como campeã da Europa, a queda nos oitavos acaba por ser uma desilusão.
O onze dos oitavos
GR – Kasper Schmeichel (Dinamarca)
DF – Thiago Silva (Brasil), John Stones (Inglaterra), Meunier (Bélgica) e Godín (Uruguai)
MF – Bernardo Silva (Portugal), Takashi Inui (Japão), Willian (Brasil)
AV – Neymar (Brasil), Mbappé (França) e Cavani (Uruguai)
Comentários