Num comunicado, o alto comissário da ONU para os direitos humanos, Volker Turk, adiantou que o número de assassínios aumentou em mais de 20% em comparação com 2023. Além disso, prosseguiu, mais de 2.200 pessoas foram feridas e quase 1.500 sequestradas.
"Esses números, por si só, não conseguem capturar os horrores absolutos que estão a ser perpetrados no Haiti, mas mostram a violência incessante à qual as pessoas estão a ser submetidas", sublinhou Turk.
Entre as vítimas registadas em 2024 estão dois jornalistas e um agente da polícia, mortos quando homens armados abriram fogo contra uma multidão que se reuniu na véspera de Natal para a tão esperada reabertura do maior hospital público do Haiti, que os gangues forçaram a fechar no início deste ano.
A lista de vítimas inclui igualmente mais de 200 pessoas mortas, na maioria idosos, no início de dezembro num bairro de lata controlado por gangues.
Este episódio de violência eclodiu quando um líder de um gangue tentou vingar a morte do seu filho na sequência de rituais de Vodu, referiu o comunicado assinado por Turk. Trata-se, segundo a ONU, de um dos maiores massacres relatados em Port-au-Prince na história recente.
O registo de vítimas também inclui 315 supostos membros de gangues ou pessoas a eles associados que foram linchados e mais de 280 pessoas mortas pela polícia em aparentes execuções sumárias.
"Há muito tempo que está claro que a impunidade das violações e abusos de direitos humanos, bem como por corrupção, continua a prevalecer no Haiti", afirmou Turk, que pediu mais apoio logístico e financeiro para a missão apoiada pela ONU, iniciada em junho.
Por outro lado, os Estados Unidos e outros países estão já a pedir uma nova missão de manutenção da paz da ONU.
Cerca de 400 polícias do Quénia estão a liderar a missão de paz, acompanhados por cerca de 150 militares da América Central, a maioria da Guatemala, que chegaram recentemente ao país.
Jamaica, Bahamas e Belize enviaram um número não especificado de polícias e militares, enquanto outros países, como Barbados, Bangladesh e Chade, prometeram fazer o mesmo, desconhecendo-se ainda quando chegarão ao Haiti.
O número de efetivos militares e policiais permanece muito abaixo dos 2.500 oficiais esperados para a missão.
Na segunda-feira, noutro golpe para a estabilidade do Haiti, a Sunrise Airways anunciou a suspensão temporária dos voos de e para Port-au-Prince, cujo território é controlado 85% por gangues. A decisão deixa o principal aeroporto internacional do país sem voos comerciais pela terceira vez neste ano.
A Sunrise Airways, uma companhia aérea norte-americana de baixo custo com sede em Miramar, na Florida, não avançou uma razão, limitando-se a indicar que a decisão foi baseada em circunstâncias "fora do controlo" da empresa, acrescentando que a segurança dos passageiros e membros da tripulação era uma prioridade.
Em novembro, o aeroporto em Port-au-Prince fechou depois de gangues terem aberto fogo e atingido três aviões, incluindo um da Spirit Airlines que estava já em pleno voo, ferindo um comissário de bordo.
Embora o aeroporto tenha reaberto desde então, a Administração Federal de Aviação norte-americana estendeu em dezembro a proibição de voos dos Estados Unidos para a capital do Haiti até 12 de março por motivos de segurança.
A par das vítimas mortais, a violência de gangues nos últimos anos provocou mais de 700.000 deslocados, com muitos a juntarem-se em abrigos improvisados e insalubres.
À medida que a violência continua a aumentar, o alto comissário da ONU para os direitos humanos apelou a todas as nações para interromper as deportações para o Haiti.
"A insegurança aguda e a crise de direitos humanos resultante no país simplesmente não permitem o retorno seguro, digno e sustentável dos haitianos. E ainda assim, as deportações continuam", lamentou.
Segundo Thomas Cartwright, do Witness at the Border, um grupo de defesa que rastreia dados de voos, sob a administração do Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, cerca de 27.800 haitianos foram deportados para o Haiti.
Enquanto isso, a vizinha República Dominicana, que partilha a ilha de 'Hispaniola' com o Haiti, deportou mais de um quarto de milhão de pessoas no ano passado como parte de uma repressão contínua aos migrantes.
JSD // SCA
Lusa/Fim
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