Pedro Proença, conhecido advogado, está a defender um homem que violou a própria filha no aniversário dela. Emocionalmente, tenho de vos confessar que acho que este ser abjecto nem merece a existência, mas racional e democraticamente, entendo e apoio que tenha direito à sua defesa e julgamento.
Se calhar, já é capaz de ser um exagero que, ao defender um crime hediondo e tão relacionado com o machismo, o Pedro Proença, macho dos machos, tenha pedido o afastamento da juíza do caso por achar que, como mulher, não seria capaz de fazer competentemente o seu trabalho. As mulheres são tão histéricas e emocionais que ficam burras, não é?
No plano religioso, também assisti a momentos inebriantes de estupidez humana, e a verdade é que as religiões nunca deixam de me fascinar. Vi as declarações do antigo Papa sobre o facto de haver tantos casos de abusos sexuais e pedofilia na Igreja se dever à libertinagem (incluindo a homossexualidade) dos anos 60. Faltou pouco para dizer que as crianças se puseram a jeito, sempre com aquelas roupinhas e olhares provocadores.
Por outro lado, vi uma reportagem sobre como, em Israel, as tensões entre judeus israelitas e judeus ultra-ortodoxos estão a aumentar (divergências entre quem é dispensado de cumprir o serviço militar e quem não é) e já chegaram até à violência. Como é seu apanágio, a religião a ser sinónimo de paz. E a juntar a isto, e estando eu neste momento na Índia, vi outra coisa, de muito menor gravidade, mas ainda assim digna se ser sugada para o tal buraco negro. Junto a um templo, vi um monge hindu, descalço, de vestes humildes e gestos serenos, a usar um smartphone e um selfie stick para se auto-fotografar. Sabem aquelas religiões que apregoam não só o desapego aos bens materiais, como também ao próprio "eu"? Exacto.
Para culminar com algo que eu julgava ser completamente impossível, consegui ler vários comentários de pessoas a contestar — reitero, a contestar — as medidas governamentais e de cadeias de supermercados para a redução do consumo de plástico. É realmente de uma tremenda injustiça para estas pessoas que todos tenhamos de fazer um esforço para limpar um pouco do que sujámos nos últimos séculos, só para ver se ainda há Terra durante mais uma geração ou outra.
É que, parecendo que não, a auto-consciência da finitude da nossa existência e a ausência de respostas para o futuro não nos dão o direito de estragar isto tudo só porque sim. Pelo contrário, devia dar-nos um pouco mais de altruísmo e deixarmos algo decente para os próximos. A não ser que sejamos completamente estúpidos. O que a julgar pelo exemplo desta semana, não nos deixa com grande esperança. Sem darmos conta, num instante teremos sido todos sugados para o grande buraco negro da estupidez humana.