São ataques que revelam o nível perigoso que Netanyahu está impunemente a ultrapassar, já não como vingança pelo hediondo ataque do Hamas em 7 de outubro do ano passado, mas a aproveitar o momento de vazio e a euforia interna em Israel para procurar impor uma “nova ordem” no desenho do Médio Oriente, conforme o primeiro-ministro de Israel exibiu na tribuna da Assembleia Geral da ONU.

Estes ataques israelitas a posições ONU no Líbano replicam os arrasadores bombardeamentos também de tropa de Israel a instalações da UNRWA em Gaza. A UNRWA tem, desde 1948, a missão de assistência humanitária ao povo palestiniano.

A mensagem que Netanyahu quer passar é clara: é ele o patrão de toda a região. A ONU, deve ir-se embora; se for para continuar, deve servir o interesse dele. E usa a violência para fazer valer essa vontade. É assim que ataca os capacetes azuis destacados, pela resolução 1701 da ONU, para o sul do Líbano como força da interposição naquela faixa territorial vedada a ações militares, portanto seja à Hezbollah, seja a Israel. É facto que a Hezbollah tem iludido as tropas da ONU e instalou ali posições para agressões a Israel. Agora, Netanyahu, depois de atacar verbalmente tudo o que tenha a ver com a ONU, avança no ataque armado.

“Repetidamente e deliberadamente”, denuncia o comunicado da ONU, carros armados e drones israelitas atacaram o edifício central e postos de observação da missão de manutenção de paz dos capacetes azuis das Nações Unidas no sul do Líbano, junto à fronteira com Israel.

O relato dos militares internacionais não deixa dúvidas.

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O ataque de terça-feira

Na terça-feira, nas colinas no sul do Líbano, um tanque israelita Merkava aproximou-se da torre de observação nº12 da UNIFIL, a mais próxima da fronteira com Israel, apontou o canhão e disparou por duas vezes. Derrubou a torre e feriu dois soldados do contingente indonésio destacado para a UNIFIL. Minutos depois, disparos israelitas sobre a torre 1-31, gerida pelo contingente italiano, depois, o ataque foi à posição 1-32, a casa símbolo da missão “peacekeeping”, é o lugar onde a mediação ONU, ao longo de 18 anos, tem promovido encontros tripartidos, dedicados a manutenção da paz.

Enquanto decorriam estes incidentes na zona de fronteira, a aviação israelita violava muitas vezes mais o espaço aéreo libanês para bombardear alvos em Beirute. O ataque de quinta-feira foi violento: 22 mortos e 117 feridos, balanço provisório.

Nesta quinta e nesta sexta-feira a tropa israelita voltou a atacar posições da UNIFIL, estas geridas por militares de Espanha e do Sri Lanka. Também está a disparar sobre a rede de câmaras de observação montadas pela missão da ONU. O objetivo é óbvio: eliminar testemunhas incómodas.

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O sul do Líbano está a ficar uma outra Gaza

Também avançou mais a destruição em quarteirões em bairros na periferia sul de Beirute (é a zona onde vive a população que vota Hezbollah) e o sul do Líbano está a ficar uma outra Gaza.

Netanyahu está em guerra aberta em três frentes, Gaza, Líbano e Cisjordânia. Também quer ter no alvo a Síria, o Iraque, o Iémen e, sobretudo, o Irão.

Em 7 de outubro do ano passado a barbárie do Hamas causou 1195 mortos. A retaliação israelita no seguinte ano de sangue matou umas 42 mil pessoas em Gaza. Sabe-se de centenas de mortes em assaltos israelitas à Cisjordânia e cerca de 1500 no Líbano.

Apesar deste horror e violência na região não há qualquer perspetiva de diálogo para a pacificação. Deteta-se a intenção de Netanyahu de ocupar tudo, Gaza, Cisjordânia e sul do Líbano.

No meio disto tudo, Netanyahu deixa para trás os reféns que continuam nas mãos do Hamas e associados. Porque a prioridade para o chefe do governo de Israel é fazer a guerra e não a de negociar a paz.

Estão em curso crimes de guerra. A maior parte das vítimas é população civil. O Tribunal Penal Internacional já emitiu ordem de captura dos agressores, pela prática de crimes de guerra. A prática mostra que esses mandatos são, com algumas boas exceções, inúteis. Mas não só ninguém trava os agressores como lhes é dada proteção e armamento.