…Na verdade, a partir de certa altura torna-se penoso ouvir os noticiários e aquele ping-pong de acusações, birras, fitas, falsas boas intenções, facadinhas aqui e ali. Incomoda. Magoa. Deprime. Ninguém quer assistir a uma putativa luta de galos praticada por frangos em capoeira a céu aberto. Por mim, dispenso. Também dispensava o triste espectáculo de ver o PS, o BE e a CDU virarem, sem apelo nem agravo, as costas aos seus eleitores - mas isso teremos tempo para aferir nos próximos dias…
Procuro, de alguma maneira, qualquer coisa de positivo no desenrolar dos factos. Curiosamente, encontro: eles escrevem-se! Pedro Passos Coelho e António Costa escreveram cartas um ao outro. Já ninguém o faz! Parecem namorados em dia de arrufo…
Por instantes, consigo achar o momento politico vagamente didáctico: eles dão o exemplo à geração dos mails, das sms, dos chats, dos “likes”, e dedicam-se à arte nobre da escrita. Como se tratarão? Meu Caro Pedro? Querido António? Estimado Paulo? Ou mais secamente “Caro derrotado”? Ou “Vencedor sem maioria”?
A imprensa não nos revela o essencial deste momento epistolar: as cartas foram escritas à mão ou no computador? Entregues pessoalmente, enviadas por correio azul ou correio normal? Terão “k” em vez de “que” e “ctg ñ kero nda” em vez de “contigo nem morto me alio”?
Seria importante, se foram entregues em mão, saber quem as levou - pois, como a História nos ensina, em geral o mensageiro acaba morto (e a CMTV quer dar em directo, claro). Os pormenores sobre o tipo de papel usado e os envelopes também ganham relevância neste raciocínio - afinal, é bem diferente uma carta escrita à mão, caneta de tinta permanente, num sólido papel “conqueror”, ou uma folheca de 75 gramas impressa numa clássica jacto de tinta.
Confesso: além de deprimido, sinto-me desinformado. Por um lado, sei que os senhores trocaram cartas, facto que me apraz registar e elogiar, pelo que tem de pedagógico e respeitador de tradições que me são caras. Por outro, como não sei de que cartas falamos - do formato ao estilo -, receio que, uma vez mais, estejamos a ser enganados. E aquilo a que chamam cartas sejam afinal SMS com smiles ou os mais banais mails (cheios de “cc” para que nada escape aos jornais e ao Sr. Presidente).
Ou seja: ainda antes de governarem, uns ou outros, todos desdizendo o que antes disseram, cheira-me que já nos estão a enganar. Ou se calhar nunca deixaram de estar. Por escrito ou oralmente.
Coisas que me deixaram a pensar esta semana
A Majora pertence à minha infância, ao meu imaginário, e à ideia de tempos livres bem passados entre amigos e familia. Por isso, gostei de saber que Catarina Jervell é a nova diretora geral da empresa, que os jogos de tabuleiro não vão desaparecer do mercado e que, se tudo correr bem, a Majora daqui a um ano pode facturar um milhão de euros.
Costumo dizer que o segundo café matinal de cada dia, depois do verdadeiro, é a crónica diária do meu amigo Miguel Esteves Cardoso no Público. Como todas as crónicas diárias (e ele escreve sem interrupção de domingo a domingo…), não pode ser sempre genial - mas o Miguel consegue que seja sempre interessante, pela revelação, pelo conselho, ou pelo pensamento. Esta, da semana que passou, ficou-me atravessada e é daquelas que só mesmo o Miguel, que há tantos anos conheço e amo, podia escrever. Termina assim: “Pensar só uma vez pode ser a solução parcial do sofrimento que sentimos. O melhor é sentir e seguir em frente.” Mas vale a pena lê-la toda…
A linguagem muda todos os dias. Nascem palavras, expressões, rótulos, e é cada vez mais difícil acompanhar esta voragem que leva a que a moda de hoje seja nostalgia amanhã. Uma das boas maneiras é seguir este dicionário desinteressado da linguagem urbana. Cuidado, às vezes o palavrão ferve… Mas aprendemos!
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