Há boas notícias: tanto Biden como Xi, depois de se reunirem em Bali, ambos declararam o desejo de melhorar as relações entre os EUA e a China. O diálogo entre os dois líderes dá sinais de que Pequim não alinha na estratégia de Putin de rutura com o mundo ocidental.

Com a Rússia de Putin a atacar a ordem mundial, é ainda mais prioritário mobilizar esforços para que a escalada da competição entre os Estados Unidos da América e a República Popular da China não resulte em confronto brutal.

Exposto na forma mais simples: seria muito assustador para o mundo se ficasse instalado o confronto entre, de um lado a Rússia e a China, e do outro a América e a União Europeia. Parece ser o desejo de Putin. Xi Jinping, que quer a China em “Nova Rota da Seda” a ligá-la com a Europa e que quer fazer negócio em todo o mundo não se junta à trincheira desejada por Putin.

O modelo instalado por Xi na China é o oposto ao de pluralismo, tolerância e respeito pelos Direitos Humanos que são essência (às vezes desrespeitada) das democracias ocidentais. Xi impõe à China a linha de pensamento único sem qualquer abertura a vozes alternativas. O poder de Pequim não consente qualquer espaço para o debate contraditório. O modelo de sociedade na China colide com os valores ocidentais. 

Perante a autocracia chinesa, para quem cultiva a democracia e deseja regá-la todos os dias para que cresça sempre melhor, o caminho é obviamente o de não renunciar aos princípios. Mas isso não implica abandonar o pragmatismo e procurar os entendimentos possíveis com quem está no lado adversário. Procurar o diálogo é sempre o melhor caminho.

Outra boa notícia: nas eleições de há uma semana o voto americano derrotou a linguagem do ódio. A democracia americana mostra que tem anticorpos para resistir, ainda que por muito escassa margem, ao vírus mais maligno do populismo com violência política.

Estava escrito que nestas eleições os EUA, conforme a tradição em intercalares, iriam dar vitória à oposição. As sondagens apontavam a probabilidade de forte vaga republicana. 

Os dados recolhidos após o voto mostram que as sondagens não conseguiram medir o sobressalto que levou muitos cidadãos a, apesar de zangados com o estado da economia da América, terem escolhido como principal motivação votar contra a miscelânea tóxica de extremismo, de ódio e de paranoia difusa representada pelos candidatos mais obstinadamente trumpistas no partido Republicano.

A tese delirante de que a eleição de Biden foi roubada a Trump e a ameaça de negação da vitória de candidatos democratas, até com o argumento escutado de que “os democratas não são verdadeiros americanos”, fez despertar para o voto muitos eleitores que, desiludidos, estariam destinados a ignorar a eleição. Isto levou a que numa América muito polarizada se levantasse a corrente que recusa mais Trump.

É facto que continua a haver dezenas de milhões de eleitores nos EUA para quem a violação de normas e valores democráticos — por exemplo a recusa de pacífica transição de poder — não importa. É um problema que subsiste. Mas essa América de Trump ficou sem a “magnífica noite” que esperava.

Os republicanos recuperaram votos que tinham perdido nas anteriores eleições. Mas isso aconteceu nos duelos em que o candidato republicano não era do clã mais trumpista.

Há quem diga que na política europeia o centro-direita e o centro-esquerda são a mesma coisa, só as pessoas é que são diferentes. Nos tão polarizados EUA, as diferenças são fundas e reforçam-se. As posições de Trump sobre a emergência climática (ele quis retirar o compromisso dos EUA com o Acordo da COP de Paris) são opostas às expressas por Biden no corajoso discurso em Sharm El Sheik. O mesmo sobre o aborto. Os estudos sobre o voto nestas intercalares estão a mostrar que o voto das mulheres mobilizadas contra restrições ao aborto foi determinante para a vitória democrata na Pensilvânia e no Michigan. É também significativo o resultado do referendo antiabortista num estado muito republicano como o Kentucky: a proposta restritiva foi derrotada.

Os dois grandes partidos nos EUA saem destas eleições com meias-vitórias ou não derrotas.

Há um perdedor: Donald Trump. Preparava-se para uma vaga de triunfos de candidatos fidelíssimos que lhe permitisse tomar o comando do partido Republicano. Pelo contrário, passa a ter um opositor interno, De Santis. Também perde (embora não desapareça) a linguagem do ódio.

A liberdade passa pela aceitação da divergência e do conflito, com respeito pelo adversário e por regras comuns. A América que respeita estes valores da liberdade mostrou que está desperta.

A lista de boas notícias nestes dias também inclui a recuperação pela Ucrânia de território que tinha sido ocupado por russos. Putin é perdedor em Bali, nos EUA e na Ucrânia.

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