Não foi bem assim que o senhor do outro lado da linha telefónica respondeu à minha amiga, mas foi quase. Ela, que é gentil e bem-educada, não apreciou a experiência e, com graça até me disse que “o centro de emprego não tem nenhum glamour”. É o mínimo que se pode dizer.

A verdade é que a minha amiga, a par com outros tantos portugueses, tentou por diversas vezes fazer a marcação para o centro de emprego, já munida com os papéis de que precisa para pedir o fundo de desemprego, e não teve sorte. Estava sempre impedido. Quando, por fim, conseguiu ser atendida, responderam-lhe como se fosse uma pedinte.

A empresa, onde trabalhou durante muitos anos, não tem viabilidade económica, é mais uma história triste de 2020, infelizmente demasiado comum nos tempos que correm, infelizmente demasiado real. Recebeu os papéis, o certificado de trabalho, o modelo oficial e a respectiva indemnização. Não sabe o que irá fazer, não tem grandes perspectivas. Diz-me: “Tenho direito ao subsídio, descontei anos a fio, por isso não vejo mal em pedir. Se encontrar alguma coisa, suspendo”. E depois conta-me que conhece pessoas que estão a receber e que mantêm rendimentos paralelos, desabafando: “Esquemas...”

Este é um retrato banal do que se vive em Portugal, de norte a sul. A situação em que as pessoas se encontram não é boa, não estão contentes, mas não precisam de ser confrontadas com má educação. E o facto de empregados do centro de emprego terem o poder de diminuir uma pessoa que liga para receber informações a que tem direito é, no mínimo, mais uma acha para a fogueira do desencanto com o país.

Os funcionários públicos devem manter uma bitola de atenção, não peço carinho, é evidente, e de respeito por quem telefona ou aparece na hora marcada para entregar a documentação devida. Caso contrário, o que o Estado está a insinuar é que o telefonema ou a reunião presencial é uma chatice, devíamos ter feito tudo para não chegar ali e agora é uma maçada ter de inserir os dados e tal. O Estado já atrasa o pagamento em muitos meses, cada vez serão mais, posso imaginar. Atrasa no início de pagamento de reformas (não entendo como se espera que as pessoas façam a sua vida) e no início do pagamento do subsídio de desemprego (mais uma vez: não entendo como se espera que as pessoas façam a sua vida). O mínimo olímpico seria garantir que todos os cidadãos nesta situação fossem bem tratados, com civismo e respeito, porque o Estado não pode existir para nos humilhar. Ou pode?