Diz-se por aí que o país está melhor. Aceitemos.

A questão vista pelos mais novos é um pouco mais intrincada. Então é preciso arranjar emprego e não estão para ser explorados. Estudaram, fizeram o que deveriam, têm vinte e três ou vinte e quatro anos de idade e querem um primeiro emprego. Não querem um estágio não remunerado, querem trabalhar, ter direitos e deveres como os demais, dar bom uso ao que estudaram ou apenas bom uso às capacidades que sentem ter.

A primeira pergunta que fazem é: qual é a cunha que tenho? Quem me pode ajudar? Não é possível ser de outra maneira, porque já tentaram o centro de emprego, as páginas com anúncios e as plataformas digitais. Sabem que não é fácil, sabem que será mesmo muito complicado. E sabem todos o valor do ordenado mínimo nacional. Não estão dispostos a fazer alguns sacrifícios que viram os pais fazer, mas querem uma oportunidade. Será que temos alguma para lhes dar?

Visitando a feira de arte contemporânea, Arco, ouvi uma jovem comentar perante uma tela de dimensões consideráveis de Pedro Cabrita Reis: “pois, mas quando é que achas que vou ter acesso a este tipo de material, nestas dimensões? Como é que posso fazer o que quero fazer se não consigo ter dinheiro para criar?”. Era uma estudante de Belas-Artes.

Ser artista em Portugal é como ser artista no mundo: um risco. Pena que os mais novos saibam de antemão que terão a vida mais dificultada se seguirem os talentos que possuem. A jovem continuou a sua visita pelas diferentes galerias e, mais à frente, o rapaz com quem seguia perguntou-lhe: “E quando acabares Belas-Artes o que vais fazer?” A estudante de Belas Artes riu-se e disse em jeito de troça, sabendo que talvez não exista na sua afirmação qualquer espaço para o riso: “Ah, pois, não sei. Vou trabalhar para a Padaria Portuguesa”. No mesmo dia, um outro jovem, um pouco mais velho, em busca de um emprego teria o seguinte desabafo. “Vamos ser a geração dos 600 euros, não vamos?”

De uma forma crua e bruta: vão. E mesmo que não estejam dispostos a correr atrás da bola como as gerações anteriores e que tenham noção dos seus direitos, os mais jovens estão num desalento e, de acordo com inúmeros estudos, deprimidos.

Admiram-se? Eu não.