A aliança entre a direita tradicional do PP (agrega conservadores, centristas e liberais) e a direita nacionalista, populista e ultraconservadora do Vox é a combinação partidária que está mais perto dos 176 deputados que significam maioria absoluta. Mesmo assim, ainda sem chegar lá.

A Espanha política e social está muito polarizada e o combate político é mais do que um duelo entre personalidades, Sánchez (PSOE) e Feijóo (PP), é um combate total entre esquerdas e direitas. Com, à esquerda, medo da direita ultra, e à direita, recusa da prática governativa de Sánchez, com concessões a independentistas bascos e catalães e às alas esquerdistas.

As análises de resultados (com base nas eleições locais e regionais de 28 de maio) e das muitas sondagens nas três últimas semanas mostra que o bloco à direita (PP+Vox) soma uns 11 milhões de votos. O somatório PSOE+Sumar (o Sumar substitui o Podemos, agrega 15 partidos das esquerdas) está perto dos 10 milhões. Há mais de 3 milhões de eleitores habituais que estão fora destas contas, porque ainda não decidiram se desprezam o voto ou se aderem a algum dos blocos.

As sondagens mostram que a direita (sobretudo o PP) tende a captar uns 500 mil votos nesta grande faixa indecisa. Há quase um milhão e meio de eleitores nas áreas da esquerda (sobretudo PSOE) que ainda não decidiram se vão votar.

Um barómetro espanhol com mais tradição de certeiro, o do instituto dB40 para El País e Cadena SER, aponta, esta semana, a um mês das eleições, vitória clara das direitas, mas sem triunfo por não entrar na maioria absoluta, embora perto.

Neste barómetro 40dB, a estimativa de voto dá o PP nos 33,1% e o PSOE com 27,4.%. Em deputados (maioria absoluta com 176), 136 deputados para o PP e 106 para o PSOE.

Os partidos nas extremas estão ambos na casa dos 13%: 13,8% para o Vox, 13,1% para o Sumar; 38 deputados para Vox, 35 para Sumar.

Zangas à esquerda e desconfortos à direita

O trabalho de campo para este barómetro coincidiu com duas realidades temporais: zanga dos eleitores do Podemos com o Sumar por estarem secundários na nova coligação; desconfortos à direita por tensões PP-Vox na formação de maiorias locais.

O pacto relâmpago à direita na simbólica cidade de Valencia e para o governo Comunidade Valenciana corresponde à plena satisfação do Vox – conseguiu impor que no pacto não apareça a rejeitada expressão “violência de género” (menciona “violência intrafamiliar”) e tem como vice-presidente e titular da pasta da cultura um toureiro retirado, Vicente Barrera, com perfil controverso e que no ano passado lançou uma consulta nas redes sociais sobre que nome haveria de pôr ao novo cavalo: Viriato, Caudillo (por Franco) ou Duce (por Mussolini).

Este pacto das direitas também dá jeito eleitoral a Pedro Sánchez: permite-lhe sacudir eleitores da esquerda frustrada e desmobilizada assustando-os com o medo de um governo das direitas.

Mas também há tensões à direita: a PP Maria Guardiola, vencedora na Extremadura mas sem maioria absoluta, recusa integrar o Vox num governo presidido por ela. Esboça-se um impasse que pode levar à repetição das eleições naquele território vizinho de Portugal.

Falta um mês de campanha que vai ser muito intensa e crispada. As direitas estão mais perto da conquista do governo de Espanha mas a reviravolta a favor das esquerdas ainda é possível – aliás, um dos estudos eleitorais, o do CIS põe (é o único) o PSOE na frente do PP por cinco décimas (31,2%/30,7%) e coloca as esquerdas do Sumar com 14,3% e em clara vantagem sobre os 10,6% do Vox.

Pedro Sánchez vai puxar pelos dados sobre emprego, crescimento e inflação, que são dos melhores na Europa. Ele já sabe que a economia não é tudo. Já apareceu a reconhecer excessos de ideologia, sobretudo em iniciativas lançadas pelo Podemos. Vai mostrar que aprendeu a lição e substitui o Podemos pelo Sumar, liderado por Yolanda Diaz, que captou eleitorado ao libertar-se do museu sentimental das esquerdas. A favor das esquerdas está o facto de a maioria dos deputados eleitos por partidos regionais (35 no barómetro 40dB) preferir claramente um governo à esquerda – os catalães não querem pensar em voltar ao que passaram em 2017/18 com o PP de Rajoy.

Está para se ver como Alberto Nuñez Feijóo vai lidar com a questão Vox: vai aparecer sem medo da associação com a extrema-direita (como o pacto de Valencia sugeriu) ou vai manter a ambiguidade (recuperada por resistências como a da Extremadura)? Feijóo dá sinais de achar que a convivência com o Vox não o castiga nas urnas.

Há que esperar pelo resultado das eleições daqui a um mês. As lideranças europeias estarão ansiosas por saber qual será o posicionamento do governo da Espanha na Europa dos próximos anos.

A campanha vai ser muito ruidosa. As direitas estão na frente, as esquerdas confiam no sprint final.