Vejam bem, vejam bem. Quem diria que chegávamos a 2021 e havia toda esta urgência imperiosa em combater o fascismo, antes que seja tarde demais e a História se repita mesmo, mas a verdade é que foi aqui que chegámos.
Nem sequer queria eu que este fosse o tema da primeira crónica do ano, mas o lodo tóxico que é o fascismo não dá descanso e no sábado houve debate. Debate é um eufemismo, claro está, como qualquer espectador pôde concluir, e o comentário que mais se leu no sábado sobre ele é “nunca lutes com um porco, ficas todo sujo e ainda por cima o porco gosta” (Bernard Shaw).
Ventura é em si tudo o que é o fascismo. É um impostor mascarado de salvador, disposto a tudo para enganar os mais incautos para chegar ao poder e destruir a democracia por dentro. “Diz-se do povo, mas quer destruir o SNS, a educação pública, as políticas de habitação ou o desenvolvimento da cultura, deixando o povo na miséria, na pobreza, na doença e na morte”. Diz-se arauto da verdade, quando mente tanto quanto pode, dizendo o que lhe convém mesmo que horas antes tenha dito o contrário. Diz-se contra a corrupção, quando é financiado por grandes interesses económicos que não querem mais nada que não sustentar uma elite financeira que continue a esmagar o povo. Diz-se por Portugal e pelos portugueses, mas é abertamente racista, machista e homofóbico, ficando logo bem mais de metade de portugueses de fora do seu interesse, chegando ao cúmulo de se aliar com a fascista francesa, Marine Le Pen, líder do partido que grita “morte aos portugueses”. É tudo isto e muito mais, do mais abjecto que pode haver como no sábado, no debate com mais uma vez, pudemos ver. Grita, vitimiza-se, usa a retórica mais demagógica e infantil, humilha a constituição, cospe na democracia.
Não se trata de esquerda e de direita, sequer. Trata-se de fascismo conta democracia, de amor contra o ódio, de vida contra a morte. É uma luta dura, desgastante e feia, mas é também uma luta de todos pela vida de cada um. E políticos, jornalistas, empresários, artistas, advogados, lojistas, todos os cidadãos que acreditam na liberdade e na democracia, já estão convocados a fazê-la de toda a maneira que possam, porque não temos alternativa, porque não queremos ser uma Hungria de Órban e muito menos uma Alemanha de Hitler, porque lutar contra o fascismo é um acto de amor.
Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola:
- Soul: o filme é lindo, e a polémica da versão portuguesa mais do que justificada. Que seja útil para evoluirmos na luta anti-racista.
- The Circle of Evil: Documentário sobre o círculo próximo de Hitler. (Já sugeri na semana passada, mas repito a sugestão porque precisamos mesmo de nos relembrar de como tudo começou.)
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