Os jovens têm o direito de não fazer as coisas da mesma maneira que todos nós, da minha geração e anteriores, fizemos. Fomos educados na ideia de que o sentido da vida provinha do trabalho. O trabalho valida, o trabalho é o que nos permite construir uma vida digna desse nome. Entretanto, muitos de nós esqueceram-se de viver.

Os mais novos dizem: Não quero trabalhar o que tu trabalhaste. Eu compreendo, olhando para trás, eu também deveria ter enfrentado o mercado de trabalho com outra perspectiva. O que os mais novos querem é ter “uma vida”, é não estar subjugados a um horário tradicional, ou anormalmente estendido no tempo sem regras (acontece muito na vida dos jornalistas, por exemplo). Querem sentir que a vida tem mais para oferecer do que um contrato de trabalho precário. A falta de esperança que possam sentir no mundo, afinal o mundo não está um sítio do caraças para se viver, é proporcional à ideia de que têm direitos. E têm. Viver é um deles. 

A minha geração subestimou a necessidade de relaxar, andou a mil, a fazer tantas coisas quanto aquelas que entendemos necessárias, para fazer dinheiro e conquistar algum relevo profissional. Não era só o excesso de brio que assalta algumas almas, era a obrigação de cumprir. Educados para cumprir, cumprimos tanto que nos lixamos.

Alguns andam, como eu, a trabalhar há mais de 35 anos e, quando pensam na reforma, até sentem os neurónios fritar. Como é que alguém com 52 anos, a descontar há mais de trinta anos, encara a perspectiva da reforma aos 66? Encara mal, posso garantir. Como é que os mais jovens vêem tudo isto? Como um disparate que preferem não viver. Estarão assim tão errados, ao negar sistemas tradicionais de trabalho? Estarão assim tão desfasados da realidade, quando dizem: Estudei e não vou conseguir sair de casa, ter o emprego que gostaria? Não estão. 

O melhor que temos a fazer é apoiá-los e não cortar os pulsos, metaforicamente, porque os mais novos, esta geração de malta com vintes, será a primeira que não conseguirá ultrapassar os pais. E não se trata de falta de mérito, é mesmo de oportunidade e, ao mesmo tempo, um pensamento lúcido sobre o tempo que cá andamos e onde devemos gastar as nossas energias.