As direitas (PP e Vox) estão mais perto do governo de Espanha: na última semana de campanha para as eleições, do próximo domingo, a previsão é de 173 a 180 deputados. Mas o PSOE pode salvar-se do naufrágio se conseguir, com todas as esquerdas e partidos nacionalistas, uma maioria alternativa ou de bloqueio.

A maioria absoluta no parlamento de Espanha é conseguida com 176 deputados. O Partido Popular (PP), dado em quase todas as sondagens (exceto, com estranheza, a do CIS) como o que recebe mais intenções de voto, obtém no barómetro que lhe é mais favorável 156 lugares. As projeções apontam para o PP entre 135 e 156 deputados. É mais forte a tendência para o próximo governo de Espanha passar a ser das direitas, com o PP a precisar do apoio do VOX na direita mais à direita – mas ainda há muita margem de incerteza.

As direitas (PP+VOX) confrontam-se com o risco de terem maioria, mas insuficiente para governar. 

As esquerdas (PSOE+Sumar), embora perdedoras, podem conseguir maioria, pelo menos de bloqueio, nos provavelmente 29 deputados de partidos nacionalistas – que, com exceção da Coalición Canaria e Teruel Existe (2 a 3 deputados) recusam o Governo das direitas.

Os estudos sobre intenções de voto mostram que há uns 16 lugares em outras tantas províncias que estão em cenário definido como de moeda ao ar, tanto podem ir para as direitas como para as esquerdas.

Também há cerca de um milhão de eleitores que ainda não terão decidido se vão votar. As mesmas pesquisas mostram que a maioria desses indecisos está no setor progressista zangado com a prática do governo das esquerdas. 

As sondagens mostraram na última semana tendência para estabilidade no somatório de votos à direita, apesar de alguma transferência de votos do VOX para o PP. 

Os socialistas do PSOE que, encabeçados por Pedro Sánchez, lideram o governo de Espanha há cinco anos, aparecem com não mais de 110 deputados nas diferentes previsões. O ânimo dos socialistas ficou muito tocado pelo apagão de Sánchez no duelo há uma semana com Feijóo, líder e renovador do PP. Sánchez costuma ter eficaz estratégia dialética, mas naquele debate surpreendeu logo de início com descontrolo emocional perante o imprevisto tom muito agressivo de Feijóo. Sánchez perdeu a habitual postura presidencial de chefe do governo e nunca mais recuperou ao longo do debate em que Feijóo entrou para não perder e afinal ganhou.

O fracasso de Sánchez no debate levou a que o PSOE perdesse intenções de voto logo nos dias seguintes. Os barómetros diários puseram os socialistas a perder uns cinco deputados nos três dias seguintes. Depois, começou alguma recuperação desse capital perdido.

A última semana fica também marcada pelo ganho de intenções de voto na esquerda da esquerda concentrada no Sumar e, ao mesmo tempo, baixa da direita da direita, representada pelo VOX.  A última projeção da SigmaDos para o diário El Mundo dá Sumar com cinco lugares de deputado de avanço sobre o VOX (34/29).

A lei eleitoral espanhola determina a proibição de publicação de dados de sondagens nos cinco dias anteriores ao da eleição. Portanto, a partir desta segunda-feira não há sondagens disponíveis para os cidadãos, sendo que o cenário eleitoral está aberto a todas as possibilidades.

O PP está lançado para vitória folgada e essa euforia é exibida pelos apoiantes, mas o PP aparece dependente do VOX para chegar à maioria absoluta. Esta é possível mas, se não for alcançada, as esquerdas têm probabilidade de barrar o acesso das direitas ao governo de Espanha. Em volta de Sánchez há quem ainda acredite na possibilidade de continuarem a governar, mesmo sem que o PSOE seja o partido mais votado, como certamente não vai ser. 

Esta última semana de campanha vai ser de muito intensa batalha eleitoral. Uma leve oscilação pode alterar substancialmente as tendências do último dia com sondagens.

Enquanto o PP vai fazer insistente apelo ao voto útil para tentar aproximar-se dos 160 deputados, fasquia que daria legitimidade a Feijóo para tentar o governo minoritário só do PP, o PSOE vai lançar-se à conquista de eleitores enfastiados que têm estado subterrâneos e com eles juntar forças para evitar o passeio triunfal das direitas e o naufrágio socialista.

Há nesta quarta-feira uma noite de clímax: é o debate, na RTVE, entre três dos quatro líderes. Vão estar Sánchez (PSOE), Yolanda (Sumar) e Abascal (VOX). Feijóo, depois de há uma semana ter ganho o debate com Sánchez, agora não quer participar. Deixa a cadeira vazia. É de interpretar que o líder do PP não quer aparecer em bloco com Abascal perante Sánchez e Yolanda em vésperas do voto.

Fica para avaliar que impacto pode ter este debate.

Nestas eleições, o grande combate político e cultural confronta duas Espanhas: por um lado, a de matriz castelhana, centralista com nostalgia da Madrid sede do império e que cultiva tradições como a tauromaquia; por outro, a liberal e socialista, que prefere a vanguarda à tradição, aberta ao mais amplo diálogo e convivência com todas as identidades como base para o progresso social.

Estas diferenças, sobretudo culturais, marcam a escolha do próximo domingo. A Espanha de matriz castelhana aparece maioritária à entrada na última semana de campanha. Mas na outra Espanha há quem ainda não tenha chegado a uma conclusão definitiva sobre se quer intervir e alterar tendências.