Existem diferenças entre homens e mulheres - e ainda bem - que determinam muitas das questões que hoje se discutem relativamente à igualdade de género. Não temos de ser iguais - jamais me ouvirão argumentar tal coisa - porque é da diferença que nasce a riqueza da nossa sociedade. Contudo, não devemos ter direitos diferentes. É certo que os homens - alguns homens - também são alvo de discriminação porque muitos preconceitos sociais ultrapassam bastante a discussão de género, prejudicando simultaneamente homens e mulheres. Contudo, os números não mentem e são elas que ganham menos, que trabalham mais horas em casa, que têm mais habilitações académicas e menos oportunidades para atingir cargos de topo. Vejamos: 

São 49 mulheres para cada 100 trabalhadores (Pordata) mas elas ganham, em média, menos 13% do que os homens (FEM) e trabalham mais 3 horas e 17 minutos em actividades não remuneradas do que eles (FEM). 

Nas empresas, os cargos de gestão ainda são deles, pois apenas 33% dos gestores são do sexo feminino ('When Women Thrive’).

A política ainda é um feudo masculino com preconceitos enraizados relativamente ao desempenho feminino. No desporto e nas artes elas continuam a ganhar menos, num esquema com benefícios escondidos: Amy Wambach marcou mais golos do que qualquer jogador masculino e continua a ganhar menos; Jennifer Lawrence ganha menos do que os colegas porque não negoceia tão bem... A sério?!... A situação melhorou na última década e é razoavelmente mais favorável do que em países como a Itália, onde 71% da força de trabalho é masculina (Eurostat).

No entanto, a questão não se coloca - nunca colocou, embora nos queiram ter feito pensar que sim - ao nível da competência, produtividade e eficiência. Está mais do que provado que elas podem ser iguais a eles, anulando a argumentação em torno do discurso (estafado) de género. Já não acredito nas ideias que justificam estas diferenças salariais e de oportunidades com as características emotivas ou emocionais que diferenciam a mulher do homem, bem como no facto da mulher engravidar. Já não cola, especialmente quando é um homem a argumentar a favor da desigualdade de género, afirmando que, efectivamente, são elas quem mais perde. Os machistas de serviço, de língua afiada e resposta pronta, sentam-se no alto dos seus dogmas, ignoram os números e verborreiam os habituais disparates sobre as feministas histéricas ou os choninhas gay.

Adiante. Nuno Garoupa, economista português que tem passado parte da sua vida profissional fora do país, não hesita em afirmar que a desigualdade de género está enraizada em Portugal, baseada em atitudes e comportamentos que não se alteram com legislação. Na verdade, a questão não se coloca ao nível das diferenças culturais entre países, mas no respeito pela identidade de cada um de nós. Uma mulher continua a ser sempre de alguém, como se precisasse de validação pela associação.

Isto lembra-me o título de um livro de Rita Ferro "a menina é filha de quem", como se uma mulher não se bastasse a si própria. Catarina Portas é normalmente associada aos seus irmãos e raramente a mulher de uma figura de Estado se basta a si mesma. Melania Trump é, ainda, a mulher de... Tal como Michelle Obama o foi, fazendo o seu caminho até ao reconhecimento, independentemente dos laços do matrimónio. Em França, Macron corre o risco de ser o Presidente que é marido de alguém. Uma excepção à regra pela natureza da história que os une. Maria Barroso foi sempre a mulher de Mário Soares, mas foi também - e sempre - Maria Barroso. É raro e comprova que tendencialmente somos a filha (Rita Ferro), a irmã (Catarina Portas) ou a mulher de alguém, num mundo cheio de cores que continua a insistir no azul e rosa...