Donald Trump impôs a trégua, que ainda resiste, em Gaza, porque quer mostrar que consegue tudo o que pretende. Netanyahu rendeu-se à exigência do “melhor amigo”, provavelmente porque lhe foi antecipado o capítulo seguinte: expulsar dali todos os palestinianos e fazer de Gaza sob controlo dos Estados Unidos, uma Riviera do Médio Oriente. É evidente que, por mais tentador que seja o negócio turístico-imobiliário, esta nova Nakba não vai ser consentida pelas nações do Médio Oriente, a começar pela mais poderosa, e que Trump deseja próxima, a Arábia Saudita. A comunidade internacional que se opôs a Putin na Ucrânia também tem de impedir este louco absurdo da parelha Trump/Netanyahu.

Nakba em árabe significa catástrofe. Aplica-se ao que aconteceu em entre 1947 e 1949 quando, coincidindo com a criação do Estado de Israel, cerca de 800 mil pessoas autóctones palestinianas tiveram de deixar a terra delas para fugir, primeiro de violentas milícias armadas sionistas, depois do exército do país judaico acabado de ser instituído. Muitos partiram a julgar que era uma retirada temporária e que poderiam regressar. Mas Israel dinamitou e arrasou centenas de aldeias palestinianas e nessa terra espoliada fomentou colonatos e explorações agrícolas israelitas.

Agora, sete décadas e meia depois, há mais de 6 milhões de palestinianos, descendentes dos refugiados da Nakba, que estão espalhados pelo mundo, muitos impedidos do retorno à exígua terra de origem, apesar de esse ser um direito reconhecido por absoluta maioria de países na Assembleia Geral da ONU.

O que agora Trump, ao lado de Netanyahu, diz querer reabre imediatamente todos os traumas da Nakba, agora sob a ameaça de definitiva, com benefício do ocupante israelita sempre a tratar de se expandir a partir do território que lhe foi atribuído pelo anterior mandato britânico.

Trump impôs que houvesse trégua mas, agora, no imediato, põe tudo em risco. Põe em causa as fases 2 e 3 do plano para fim da guerra – obviamente, é isso o que Netanyahu quer. Ameaça a libertação dos reféns que o Hamas continua a usar. 

De facto, o que o expansionista Trump está a gerar é a perigosa instabilidade no mundo.

Um detalhe: enquanto Netanyahu era recebido com fanfarra na Casa Branca de Washington, uma delegação do Hamas era acolhida com tapete vermelho e também apoio declarado em Moscovo.