1 – Também já houve tempos em que achei que os piropos não eram um problema e que faziam parte da vida em sociedade. Só que depois comecei a tentar pôr-me no lugar de quem tem de os ouvir e percebi o óbvio: são uma metástase do cancro que é o machismo. Ou seja, são aquele primeiro sintoma que não parece muito óbvio, mas que fará um olhar atento dizer “ui, que isto é capaz de dar merda, é melhor tratar”.

2 – “Mas qual é o mal de mandar um piropo na rua? Até parece que se está a ameaçar alguém!”. O piropo é uma tomada de poder, não é um honesto interesse por alguém. É mascarar de elogio a frase “sou superior a ti que és uma gaja, que por acaso até devia estar em casa a lavar a loiça, sou mais forte e mais importante para o mundo, e tenho o direito de invadir a tua privacidade e o teu espaço para gáudio da minha frágil masculinidade, que nem sequer consigo reconhecer como tal”. E sim, também é uma ameaça, causa desconforto e insegurança, e o que não falta são relatos de casos em como de um piropo se passou rapidamente para a ameaça de violência e depois mesmo para agressão ou violação.

3 – Já agora, os valentões que acham que um piropo não é uma agressiva tomada de poder e que não tem mal nenhum, digam-me uma coisa. Quando mandam um piropo, mandam sempre a uma rapariga que vai sozinha na rua, ou vão dizer-lhe o tal “elogio” quando ela está no seu grupo de amigos? É que não me lembro de um único marmanjo que tenha mandado um piropo a uma amiga minha quando estamos todos em grupo, mas todas elas já ouviram quando estão sozinhas. Curioso, não acham?

4 – “Então qual é a diferença entre um piropo e um elogio? Se disser a uma mulher que ela é muito bonita, e não disser nada de javardo, isso também é um piropo nojento?”. Não. Mas apesar de muita gente o querer fazer parecer, não é assim tão difícil de perceber essa diferença. Basta colocar certas questões: Conheces a mulher? Ela está sozinha? O que estás realmente a dizer? Com que tom? Em que contexto? Vai sentir-se desconfortável? Ela precisa mesmo de saber a tua incrível opinião sobre o aspecto dela para conseguir sobreviver? À partida, não.

6 – “Porra, mas agora não se pode dizer nada a uma mulher que não conheço de lado de nenhum que vai a passar na rua sozinha, enquanto eu estou com a minha alcateia de machos alfa claramente em superioridade física e moral, para me sentir ainda mais macho de forma tão primitiva como se ainda vivêssemos numa caverna?”. Hmm… Porque é que podias antes?

7 – “Já nem se pode engatar!”. Contem-me uma única história em que um homem tenha gritado um piropo para uma mulher na rua, que acabe com óptimo sexo entre os dois e possivelmente o início de uma linda paixão. Uma única. É que não conheço nem uma.

Por todas estas razões e mais algumas, é fácil perceber que o piropo não é elogio, é estupidez. Não faz falta nenhuma ao mundo e só faz expõe a fragilidade dos homens que os usam, e não bravura como eles acham. “Sim, ó Faro, e tu não mandas piropos, queres ver!”. Sim, já mandei piropos ou fiz comentários inapropriados, enquanto adolescente estúpido. Mas a beleza de termos cérebro, em vez de margarina, é conseguir aprender e evoluir. É bonito termos maneiras. Tentem.

Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola: 

- Bíblia do Prazer – Guia para o Sexo:  livro incrível.

- Rogil, Aljezur, Arrifana: A zona de praia mais bonita do país.

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