Posso simpatizar com a causa – progressão na carreira, melhores condições – mas não tenho como não considerar esta atitude como um acto de bullying aos alunos. Os anos de exame nacional são difíceis para qualquer estudante. São jovens, preocupam-se, entram em pânico, são pressionados pelos pais e constantemente recordados do exame e da proximidade do mesmo pelos professores. O stress é muito. Gasta-se dinheiro em explicações (quem pode), faz-se pesquisa na internet e descarregam-se textos de exames de anos anteriores. Muitos adolescentes perdem noites, têm pesadelos, distúrbios alimentares, roem as unhas, e por aí fora.
A par disto, os jovens que estão no 10º ano ou a terminar, no 12º, têm ainda uma pressão adicional. É que o mercado de trabalho está mau, as notícias sobre a crise fazem parte da banda sonora das suas curtas vidas deste sempre e há um discurso pessimista que é, parece, inevitável. Depois temos ainda aquela máxima que advoga que é importante ir para a faculdade. Há sempre uma alma que lá debita o cliché destes tempos: sem uma licenciatura não vais a lado algum. E o melhor, acrescenta a mesma alma, é fazeres já mestrado e, mesmo assim, nada está garantido.
Ora, a vivência de tudo isto nos nove meses em que dura o ano lectivo é, no mínimo, motivo de stress, de angústia e de grande dúvida. Muitos são os alunos que não sabem verdadeiramente o que fazer a seguir. Ah, existem os psicotécnicos, dirão. Sobre isso muito haveria a dizer, mas agora não vamos por aí.
Para perturbar mais ainda os alunos que estão no primeiro ano do secundário ou que são pré-universitários, a Fenprof e a Federação Nacional da Educação anunciam que os exames podem ter de ser adiados, os professores vão fazer greve (ou ameaçam apenas para fazer paragonas nos jornais?).
Com todo o respeito pelos professores, a pergunta é: não podiam pensar no que isto causa aos miúdos que estão a preparar-se para ir a exame? Ou não lhes ocorreu? O argumento que esta data chama mais a atenção para os problemas dos professores é, no mínimo, triste. E, se é forma de chantagem perante o Ministério da Educação, diria que não é motivo para prejudicar centenas e centenas de alunos que hoje se perguntam como é que isto vai ficar. Até dia 21 de Junho muita água correrá debaixo da ponte, já se sabe. Para os miúdos será apenas uma greve de nervos.
P.S: Acabo de ler que o governo tem como garantir os serviços mínimos de forma a não prejudicar os exames nacionais de dia 21 de Junho. Vou ali explicar isso a três adolescentes em stress, a ver se ficam melhor.
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