A dar socos à fera que não vemos

Alexandra Antunes
Alexandra Antunes

Dylan Nacass, de 23 anos, estava a fazer surf em Bells Beach, perto de Melbourne, quando um tubarão o atacou. As imagens mostram um tubarão a nadar atrás de dois homens enquanto eles remam desesperadamente para fugir.

Nacass, depois do susto, explicou que o tubarão lhe agarrou a perna e só o soltou depois de... dois socos. Na Austrália, os ataques de tubarões são frequentes, mas as mortes são raras.

A história, que parece mentira, é bem verdade. Assim como é verdade estarmos a remar contra algo que não conseguimos ver a aproximar-se. Não há um assustador tubarão, mas há algo maior: o novo coronavírus, a fera que não conhecíamos e que representamos como tendo uma espécie de tentáculos, qual monstro marinho.

E também nós queremos dar uns quantos socos, para que vá embora. Em Portugal, registam-se hoje mais 9 óbitos e 50 recuperações, bem como 175 novos casos de infeção em 24 horas. A normalidade começa a ser retomada, mas as pessoas ainda ficam em casa — e estes são os socos que podemos dar.

Em Oeiras, o Parque dos Poetas já voltou a abrir portões, mas poucos foram os que se deslocaram ao espaço, uns pelo tempo incerto, outros por não terem a certeza de que seria possível entrar. Maria João aventurou-se e decidiu arriscar, com a filha de dois anos, por já estar há muitos dias sem sair de casa.

"Foi uma experiência ao acaso, só vim ver se havia um parque aberto, porque ela já esta há 15 dias fechada em casa e precisava de apanhar ar, passei de carro e aproveitei um bocadinho de sol", contou, referindo que é uma oportunidade para "esticar um bocadinho as pernas". Mas considerando os cuidados necessários. De trotinete na mão, mãe e filha passearam pelo parque sem receios, lembrando que trazem consigo máscaras para proteção em caso de haver muita gente.

Por outro lado, dar socos ao vírus também é fazer o que for preciso, mesmo que os receios sejam alguns. Assim o conta Tânia Fernandes, aluna do terceiro ano da licenciatura em enfermagem na Universidade do Minho e voluntária num lar de idosos de Arcos de Valdevez, onde o surto do novo coronavírus registou vários casos de infeção e causou a morte, segundo os últimos dados, a seis utentes.

Com a experiência adquirida noutras ações de voluntariado, a estudante não hesitou quando, em abril, a Câmara daquele concelho do distrito de Viana do Castelo abriu inscrições online para o Banco Local de Voluntariado.

Contudo, a atualidade não se marca apenas pelo novo coronavírus.

  • Este domingo, em Peniche, foi encontrado o corpo da menina de nove anos que se encontrava desaparecida desde quinta-feira. A Polícia Judiciária de Leiria esteve hoje, com os dois suspeitos do homicídio da criança em Atouguia da Baleia, a reconstituir o alegado crime, na casa onde terá ocorrido.
  • No Mali, três soldados do Chade pertencentes a uma missão da ONU em Minusma foram hoje mortos e três outros ficaram gravemente feridos na sequência da explosão de uma mina que atingiu os veículos em que seguiam.
  • Em Hong Kong, a polícia de choque perseguiu manifestantes pró-democracia em vários centros comerciais, no dia em que a população celebra o Dia da Mãe. Grupos de ativistas mascarados espalharam-se por pelo menos oito centros comerciais, desafiando a polícia, antes de serem obrigados a dispersar.

Por fim, deixo algumas sugestões para completar este breve retrato do mundo:

1. As fotografias do navio-escola Sagres novamente em Lisboa. A embarcação regressaria da volta ao mundo em janeiro de 2021, mas a pandemia trocou as voltas aos 142 marinheiros, que hoje voltaram a casa entre o alívio por estarem bem e a tristeza pela missão em pausa.

2. Regresso a um Mundo Novo. O texto de hoje, em parceria com a plataforma 100 Oportunidades, traz a opinião de mais um jovem — Filipe Cortes Figueiredo — que ajuda a pensar o mundo pós-pandemia. Desta vez, sobre ciência e investigação.

3. A língua do nosso primeiro rei. Quando Afonso Henriques se tornou rei de Portugal, que língua ouvíamos nas ruas de Guimarães? Seria latim? Seria português? Para saber a resposta só tem de ler o que nos escreve Marco Neves, cronista do SAPO24.

4. O "enigma" da Flórida. No dia 4 de maio, depois de apenas um mês em confinamento, a Flórida voltou a abrir a economia. Previa-se o pior num estado em que o governador resistiu à ordem de confinamento geral, onde 23% da população tem mais de 60 anos e que é um chamariz para turistas. Mas conseguiu escapar às piores estimativas. E o "enigma" pode ter várias respostas, que pode ficar a conhecer neste artigo.

5. Acho que Vais Gostar disto. Não sabe o que fazer neste mundo estranho? O Miguel Magalhães apresenta aqui uma viagem no tempo em Hollywood, uma masterclass de um mestre da comédia e ainda um regresso da magia de Hogwarts.

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