“A democracia dentro do Chega funciona”. Ponto por ponto, do chumbo à aprovação da lista de Ventura para a direção do partido

Tomás Albino Gomes
Tomás Albino Gomes

A II Convenção do Chega deu pano para mangas em termos noticiosos. Desde a manifestação antirracista de sexta-feira que acabou por ser engolida pela contra manifestação do movimento antifascista que aconteceu à mesma hora, praticamente no mesmo local (centro de Évora), à intervenção da GNR devido ao não cumprimento das normas sanitárias - curiosamente, num partido que fez frente ativa à festa do Avante!.

No entanto, aquilo que acabou por marcar e arrastar-se neste domingo foi a proposta de nomes para a direção do partido que André Ventura só conseguiu fazer aprovar à terceira tentativa. Emocionado, no palco, o líder do Chega chegou a deixar no ar a possibilidade de se demitir ao mesmo tempo que afirmava que “a democracia dentro do Chega funciona”, acabando por aprovar uma lista contestada sem uma única alteração, face à adição de um delegado na primeira adenda.

Como dizia alguém, "água mole em pedra dura, tanto bate até que fura". Vale, por isso, a pena recordar como ocorreu o processo:

Ponto prévio: Segundo o artigo 3.º do regulamento eleitoral nacional do partido nacional populista, se não for obtido o voto de dois terços dos delegados "deve o presidente eleito da direção nacional submeter nova lista, no prazo máximo de duas horas, aos delegados eleitos à Convenção Nacional, para votação no menor espaço de tempo possível”.

“A Convenção Nacional não poderá ser dada por terminada sem que seja regularmente eleita a lista da direção nacional”, estipula ainda o mesmo artigo.

A lista: Diogo Pacheco Amorim, Nuno Afonso e José Dias mantém-se no organismo de cúpula do partido nacional populista, agora na companhia do diplomata Antonio Tanger Correia e do historiador Gabriel Mithá Ribeiro.

Como vogais transitam da direção cessante Ricardo Regala e Lucinda Ribeiro, aos quais se juntam Rita Matias, Pedro Frazão, Patrícia Sousa Uva, Tiago Sousa Dias, Fernando Gonçalves e Rui Paulo Sousa, indicado pelo Partido Pró-Vida/Cidadania e Democracia Cristã (PPV/CDC), no âmbito da fusão dos dois partidos.

13h30: Primeiro chumbo

A proposta do presidente do Chega, André Ventura, para a direção nacional do partido foi chumbada na convenção que decorre em Évora, ao não conseguir reunir os dois terços dos votos dos cerca de 500 delegados presentes.

De acordo com os estatutos do Chega, a lista proposta por Ventura para a direção nacional precisava de obter dois terços dos votos, mas nem sequer conseguiu atingir a maioria, alcançando 183 "sim" e 193 "não".

18h30: Segundo chumbo

Perante um primeiro chumbo, André Ventura voltou a apresentar a votação uma lista praticamente inalterada, à exceção de um nome que foi adicionado e que o Observador diz ser o de Rui Paulo Sousa, da Comissão Política da distrital de Santarém do Chega, empresário e antigo dirigente do Aliança, partido fundado por Pedro Santana Lopes. O lugar para onde Rui entrou tinha sido deixado livre para“um nome a indicar pelo Partido Pró Vida no âmbito da fusão dois dois partidos.

Fora esta adição, a lista mantinha-se exatamente a mesma, com o Observador a noticiar que o descontentamento provinha de questões mais locais ligadas às concelhias. As tais dores de crescimento que o candidato presencial descreveu ao SAPO24 numa entrevista publicada a cinco de setembro.

Resultado: Os delegados deram 219 ao "sim" e 121 ao "não", segundo os resultados proclamados pela mesa da reunião magna, ou seja, a lista ficou aquém dos dois terços necessários previstos nos estatutos.

O líder do partido, André Ventura, visivelmente emocionado quando subiu ao palco após o novo “chumbo”, abandonou o espaço para preparar, pela 3.ª vez, uma lista para a direção nacional, que seria submetida de novo a votação dos delegados da II Convenção Nacional do partido.

"Eu pedirei ao presidente da Mesa que suspenda novamente os trabalhos e apresentarei uma nova lista", anunciou o deputado único e candidato presidencial, depois de muita insistência da plateia, que o interrompeu diversas vezes com gritos pelo seu nome e pedidos para que não abdicasse da liderança do partido, depois de este o ter sugerido no palco.

20h02: À terceira foi de vez

André Ventura, líder reeleito em diretas há escassas duas semanas com 99% dos votos dos militantes, conseguiu à terceira que uma lista sem qualquer alteração passasse de não reunir uma aceitação relativa, por parte dos delegados da Convenção para passar a contar com 247 votos favoráveis e 26 contra.

De salientar duas coisas: 

  • o universo de votantes foi-se ‘reduzindo’, passando de 376, na primeira ida às urnas para 273 na últimas.
  • as declarações de Ventura à saída da Convenção, em que disse “saímos daqui com legitimidade reforçada e vou pelo menos garantir que este partido é das bases e não de estruturas ocultas que jogam pelo poder” assumindo que iria pedir uma alteração dos estatutos para que situações como a sequência de chumbos que aconteceu, orquestrada por "estruturas ocultas" não volta a acontecer.

Assim foi a II convenção do Chega, com a democracia a funcionar, nas palavras do líder do partido.

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