O dia dos reencontros e das despedidas possíveis

António Moura dos Santos
António Moura dos Santos

Vai-se avolumando o rol de feriados, rituais, hábitos e celebrações que a pandemia da Covid-19 já transfigurou ou impediu mesmo de acontecer desde que entrou de rompante nas nossas vidas. Hoje, houve uma nova triste adição a esse catálogo.

Depois de, na Páscoa, serem muitos aqueles impedidos de celebrar o feriado com as suas famílias alargadas — quer pelo cariz religioso da data, quer pela desculpa para comungar com entes queridos —, neste dia de Todos os Santos os cemitérios não se encheram como noutros anos para as periódicas visitas a quem já deixou este mundo.

Apesar do dia dos Fiéis Defuntos ocorrer apenas amanhã, 2 de novembro, costuma ser na véspera, em feriado, que as pessoas rumam aos cemitérios para visitar os seus entes falecidos. Este ano, a tradição manteve-se, mas sob contornos muito distintos e com muito menos adesão.

De norte a sul do país, a maioria dos cemitérios abriu, mas com muitas restrições, que foram desde a limitação do número de pessoas a circular à definição de um período de tempo limite para neles prestar as homenagens, passando ainda pela obrigatoriedade do uso de máscara e pela desinfeção das mãos à porta.

Houve porém exceções, com alguns municípios a encerrarem mesmo os seus cemitérios durante este fim de semana — a grande maioria a norte do território — sendo talvez os casos mais notórios os de Braga, Porto, Guimarães ou Matosinhos.

Nos onde foi possível entrar, porém, a adesão foi parca, como foi sendo relatado por quem foi hoje visitar os cemitérios em Vila Nova de Gaia, em Canas de Senhorim ou em Lisboa. As razões são variadas, sendo a mais notória a restrição de circulação entre concelhos imposta pelo Governo até 3 de novembro, mas também se registando a vontade de muitos de querer evitar o dia de maior afluência.

“Repare que são 10:00 da manhã e isto está assim: pouca gente. Em qualquer outro ano estaria já composto. As pessoas prepararam as sepulturas ontem [sábado] ou durante a semana e hoje fazem visitas mais rápidas do que o habitual”, descreveu uma senhora à agência Lusa em Gaia.

Quem foi, porém, não deixou de cumprir os seus rituais, nem de visitar as campas de pessoas cujos entes queridos não puderam comparecer, apesar de terem de fazer tudo com os olhos postos sistematicamente no relógio. ”Faltar? Hoje. Nunca”, disse uma das populares, não havendo para si “vírus que meta medo” ao ponto de deixar de visitar os familiares que já morreram.

E se hoje foi dia de lembrar todos os que já partiram, amanhã também vai haver homenagem, feita a nível nacional e especialmente para aqueles que pereceram perante a Covid-19. 

Iniciativa pensada em Conselho de Ministros, 2 de novembro foi a data marcada para o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o primeiro-ministro, António Costa, e o presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, prestarem as condolências às vítimas da pandemia no Palácio de Belém. Na Praça Afonso de Albuquerque, onde estará uma guarda de honra composta por militares do esquadrão presidencial, a bandeira nacional será primeiro içada até ao topo, ao som do hino nacional, e depois colocada a meia haste, em silêncio.

O dia, porém, não servirá apenas para recordar o passado, pensando-se também no futuro. A pedido de António Costa, Marcelo vai receber o primeiro-ministro para discutirem uma eventual declaração do estado de emergência aplicável aos concelhos com mais de 240 infetados com o novo coronavírus por 100 mil habitantes nos últimos 14 dias.

O Presidente da República vai, contudo, também receber os partidos com assento parlamentar ao longo do dia, procurando talvez obter o seu parecer para tentar “ler” a postura da Assembleia da República perante a potencial tomada de uma decisão tão drástica.

Para já, sabemos apenas das medidas sob as quais 70% da população estará sujeita a partir de dia 4 — reveja-as aqui. Amanhã, todavia, poderemos ver descortinado o nosso futuro próximo.

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