Aos 100 anos, Celeste abriu caminho à vacinação nos lares

Abílio dos Reis
Abílio dos Reis

Celeste Heleno ficará na história deste 4 de janeiro, dia em que foi dado mais um passo simbólico para que 2021 seja o ano que vinca esperança na alma de cada um de nós depois de um 2020 que não deixa a Palavra do Ano para os portugueses. 

No fundo, está para o dia de hoje como António Sarmento, diretor do Serviço de Doenças Infecciosas do Hospital de São João do Porto, está para o dia 27 de dezembro de 2020, data que assinala a primeira pessoa vacinada contra a covid-19 em Portugal. É um nome que marca o arranque de algo que dá alento ao que aí vem.

A vacinação contra o coronavírus — que já custa apelidar de novo tantas as vezes já se falou sobre ele nos últimos 365 dias desde que apareceu oficialmente em Wuhan — nos lares de idosos no continente arrancou hoje em Mação. O início do processo decorreu na Casa de Idosos de São José das Matas perante a presença de vários membros do Governo, entre os quais a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho. 

A primeira utente a receber a vacina — já deve ter adivinhado — foi Celeste Heleno, de 100 anos. Passava pouco das 15h00. O momento foi apanhado pelas televisões e a ministra — e Diogo Serras Lopes, secretário de Estado da Saúde, cara que ultimamente tem sido presença habitual nas conferências da DGS sobre a pandemia — estava no leque daqueles que bateram as palmas aos envolvidos no momento. 

No total, foram administradas 112 vacinas (56 na Casa de Idosos de São José das Matas, a que se somaram outros 56, no lar da Santa Casa da Misericórdia de Cardigos). Porém, apesar de hoje ser o dia da D. Celeste, não quer isso dizer que o processo tenha começado esta segunda-feira. Nos Açores, a administração de vacinas em lares de idosos teve início na semana passada. Contudo, em Portugal Continental e na Madeira, o exercício só começou esta tarde.

Apesar de ser simbólico, este ato só pode ser recebido com entusiasmo e esperança porque a informação recente sobre a situação dos lares dão azos a preocupação. Num lar em Moura, o número de óbitos subiu para 16. Na Misericórdia de Alcáçovas, em Évora, registam-se os mesmos 16. Em Bragança, a Misericórdia de Miranda do Douro também lamenta uma morte. No Lar-Sede da Santa Casa da Misericórdia de Soure, em Coimbra, o surto que já infetou 39 utentes e 15 funcionários já causou uma vítima mortal. E, isto, só para citar algumas notícias de hoje.

Não admira, portanto, as palavras de Ana Mendes Godinho. A ministra, além de agradecer aos profissionais que trabalham no setor social e que dedicaram "a sua vida a proteger a vida dos outros", salienta que 5% da população dos lares está infetada. Por isso, a vacinação "vem trazer uma esperança para todos os utentes e funcionários dos lares".

Segundo dados do Governo de novembro, um terço das mortes registadas tinham acontecido em lares de idosos pelo que a importância do dia da D. Celeste vale por si. Hoje, foram vacinadas 112 para dar o mote. Quando tudo chegar ao fim — a ministra aponta para fevereiro — serão cerca de 200 mil pessoas vacinadas, entre utentes e profissionais.

Não vai trazer de um momento para o outro a tão almejada imunidade, mas certamente que irá ajudar a estabilizar a situação e a salvar vidas. Até lá, é pegar nas palavras da governante e agradecer a todos aqueles que ajudam a cuidar daqueles mais velhos que um dia já cuidaram de nós.

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