Um país sem mulheres no governo e com intérpretes em risco

Alexandra Antunes
Alexandra Antunes

A 15 de agosto, os talibãs conquistaram Cabul, concluindo uma ofensiva iniciada em maio, quando começou a retirada das forças militares norte-americanas e da NATO, que se encontravam no país desde 2001, na sequência do combate à Al-Qaeda após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001.

Desde essa data que se deram mudanças — e hoje foi conhecida a restante formação do governo. Zabihullah Mujahid, porta-voz dos talibãs, fez saber que foram nomeados vários ministros — e não há qualquer ministra ou um ministério feminino.

Assim, a lista divulgada indica que os talibãs não foram influenciados pelas críticas internacionais e que estão a aplicar uma linha dura, apesar das promessas iniciais de inclusão e defesa dos direitos das mulheres.

Com o avançar dos dias — e porque o Afeganistão não fica esquecido pela Europa, que mantém uma "presença mínima" em Cabul para conseguir continuar a ajudar — a União Europeia continua focada nas operações de retirada de cidadãos europeus do Afeganistão e no apoio à população local, já que estão em "especial situação de vulnerabilidade e precisam de proteção humanitária internacional", declarou o ministro dos Negócios Estrangeiros português.

Embora não tenha sido detalhado o número de cidadãos naturais da Europa que estão no Afeganistão e que precisam de ser retirados, Santos Silva frisou que "nas últimas avaliações que se fizeram, havia para cima de 1.500 cidadãos nacionais europeus (…) e também para cima de 1.500 cidadãos afegãos que haviam trabalhado com as forças internacionais e as instituições europeias". Desta forma, "pode ter havido alguns desenvolvimentos desde essa avaliação, mas nenhuma destas duas operações pode ser dada como completa".

Do lado do Reino Unido, que também tem sido parte ativa nesta retirada de cidadãos do país, chegou hoje a informação quanto a uma revelação "acidental" que pode colocar muita gente em risco: foram divulgados endereços eletrónicos de intérpretes afegãos que querem fugir para o país.

Depois de Londres reconhecer que deixou para trás centenas de afegãos elegíveis que deveriam ter sido embarcados na retirada coletiva feita apressadamente após o regresso dos talibãs ao poder, a BBC informou que um e-mail enviado por uma equipa do ministério da Defesa incluiu, por engano, os endereços de mais de 250 pessoas, deixando-as expostas. Muitos destes e-mails incluíam a fotografia dos profissionais.

Um intérprete disse à BBC que "este erro pode custar a vida dos intérpretes, sobretudo daqueles que permanecem no Afeganistão". Para tentar perceber o que aconteceu, um porta-voz do ministério da Defesa disse que "foi aberta uma investigação sobre a violação de informações da equipa de Política de Assistência para a Relocação de Afegãos". Contudo, o sucedido já está a ser considerado como uma "ação de negligência criminosa".

Com o Afeganistão cada vez mais fechado numa bolha, a ONU vai deixando o alerta. Pela voz de António Guterres ouviu-se esta terça-feira que "o mundo nunca enfrentou tantas ameaças".

O antigo primeiro-ministro português sublinhou, assim, que a paz e o respeito pelos direitos humanos estão a faltar, como se pode ver no caso do Afeganistão. Mas não só: Etiópia, Myanmar, Sahel, Iémen, Líbia, Síria e Haiti também vivem situações semelhantes. No fim de contas, são locais onde "tantos foram deixados para trás" — mas há sempre qualquer coisa a fazer para inverter a situação.

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