As voltas pelo país, as críticas e os objetivos traçados. Foi assim a campanha eleitoral
Mais de 9,3 milhões de eleitores podem votar nas eleições autárquicas portuguesas, às quais se apresentam, no total, mais de duas dezenas de partidos e mais de 60 grupos de cidadãos.
A campanha oficial arrancou no passado dia 14 e termina hoje, sendo amanhã dia de reflexão. Por isso, antes de chegar a hora de votar — entre as 08:00 e as 20:00 de domingo, 26 de setembro —, recordemos o que aconteceu no país nos últimos dias, entre comícios, jantares e ações que envolveram também críticas por parte dos principais partidos, enquanto contavam quais os seus objetivos para os próximos tempos.
Como andaram pelo país?
Iniciativa Liberal: Foi a estreia nas autárquicas, com iniciativas como "arruadas" e comícios. A campanha do líder liberal, João Cotrim Figueiredo, arrancou em Vila Nova de Gaia, mas à distância e, à moda dos últimos dois anos de pandemia, por videoconferência — mas depois percorreu o país, com iniciativas sobretudo nos distritos de Lisboa e do Porto.
Chega: André Ventura, que não saiu do modelo habitual das arruadas e comícios, dividiu o seu tempo entre o norte, por um lado, e o Algarve e Alentejo por outro, onde esteve nos últimos dias.
CDS-PP: As arruadas preencheram a agenda de Francisco Rodrigues dos Santos, numa campanha autárquica em que foi três vezes a Oliveira do Hospital, onde é candidato. O líder do CDS arrancou a volta pelo país no final de agosto, um mês antes das eleições autárquicas, e a campanha oficial começou nos Açores, passando também pela Madeira.
PAN: Inês Sousa Real estreou-se na volta autárquica como porta-voz do Pessoas-Animais-Natureza – depois de ter sido eleita pelo partido em junho – e arrancou a ‘caravana’ na capital do país. Houve espaço para jantares de campanha e ações como limpezas de praia, visitas a canis municipais, ou passeios de barco pelo rio Tejo.
CDU: A campanha autárquica da CDU esteve centrada nos "bastiões" comunistas e nos municípios onde o PCP aposta em reconquistar câmaras perdidas para o PS em 2017. Não houve arruadas e o contacto com a população foi reduzido.
Bloco de Esquerda: A lógica de campanha seguiu o desenho habitual do BE: a primeira semana mais dedicada a visitas para debater temas concretos e apresentar propostas para as autarquias, enquanto na derradeira semana voltaram as arruadas, os mercados e as feiras.
PSD: A opção da direção e da comissão autárquica foi centrar a ‘volta’ do líder em pequenos e médios concelhos, a maioria liderados pelo PS, onde a presença de Rui Rio pudesse dar “um empurrão” para a vitória, ficando de fora "bastiões" laranja de visita habitualmente obrigatória como Viseu, Braga ou Aveiro.
PS: Numa campanha quase exclusivamente composta por comícios e com poucos contactos com a população, António Costa viajou de norte a sul de Portugal, incluindo as ilhas, e ‘pintou’ um país que está a “poucas semanas, senão poucos dias” de ter a pandemia “controlada” e que precisa de começar a “olhar para o futuro”.
Que críticas foram ouvidas?
Iniciativa Liberal: O tom do discurso de campanha da IL trazia na bagagem as críticas ao Governo e ao PS: a gestão da pandemia e o desconfinamento tardio, a participação de ministros em campanha às autárquicas e o uso da 'bazuca' europeia nos discursos de António Costa.
Chega: O líder do Chega centrou muitas vezes a sua campanha no atual executivo e questões como o Programa de Recuperação e Resiliência e os ministros em campanha também motivaram críticas da extrema-direita, bem como as declarações recentes de António Costa sobre o encerramento da refinaria da Galp em Matosinhos. Ao longo da semana, o PSD também foi criticado em mais do que uma ocasião, com a acusação de que os sociais-democratas estão iguais ao PS.
CDS-PP: Durante as declarações aos jornalistas, o líder do CDS comentou assuntos nacionais, muitas vezes com críticas ao PS.
PAN: Inês Sousa Real falou no PRR, recomendando ao Governo que mantenha "cuidado e equidistância" em relação àquele instrumento durante a campanha eleitoral, deixando ainda críticas sobre discursos populistas que não contribuem para “combater a grave crise socioeconómica que o país está a atravessar”.
CDU: Foi nos "bastiões" comunistas que Jerónimo de Sousa desferiu as críticas mais duras contra o PS, o Governo socialista e o primeiro-ministro. O PRR foi tópico recorrente durante a campanha e o secretário-geral chegou a exigir a António Costa decoro na utilização dos fundos comunitários como propaganda eleitoral.
Bloco de Esquerda: Algumas das críticas mais ferozes ficaram para ‘pesos pesados’ como Luís Fazenda, José Manuel Pureza e Fernando Rosas, este último que até rebatizou o PS como “partido da bazuca”, uma crítica reiterada pelo BE ao primeiro-ministro e líder socialista, António Costa, por usar o Programa de Recuperação e Resiliência como arma eleitoral autárquica.
PSD: Uma constante no discurso do presidente do PSD foram os ataques a António Costa, que acusou de confundir os papéis de primeiro-ministro e de secretário-geral, e de distribuir “sem critério” em cada concelho que parou “os milhões” do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
PS: Com duras críticas à oposição – que, durante a campanha, o criticou por estar a misturar as funções de secretário-geral do PS e de primeiro-ministro ao falar das verbas do PRR – António Costa acusou-a de “absoluta impreparação” e garantiu que, apesar de o PRR ser um “plano do país”, não é “indiferente” quem ganha as eleições do próximo dia 26. Em Matosinhos, António Costa 'aqueceu' a campanha e foi mais além: criticou o encerramento da refinaria local pela Galp e prometeu uma “lição exemplar” à empresa.
Quais os principais objetivos?
Iniciativa Liberal: A Iniciativa Liberal apresentou-se às eleições autárquicas como “a alternativa ao poder socialista”. Cotrim Figueiredo procurou passar a mensagem de que um 'voto útil' é a escolha pelo liberalismo e defendeu que são os seus candidatos quem fará a melhor oposição.
Chega: Para André Ventura, o objetivo é que, no domingo, o partido seja a terceira força política.
CDS-PP: Francisco Rodrigues dos Santos estabeleceu como meta eleger mais autarcas e melhorar o resultado de há quatro anos. O presidente do CDS-PP disse mesmo ter “a certeza absoluta” de que o partido vai crescer nas autárquicas e recusou colocar “outros cenários” em cima da mesa, mas apontou que vai fazer "uma ponderação" quanto à sua liderança caso isso não aconteça.
PAN: A campanha autárquica do PAN procurou convencer os eleitores a não votar “mais do mesmo”, insistindo nas causas ambientais, da proteção social e animal. Inês Sousa Real confessou estar com "boas perspetivas" de conquistar pela primeira vez vereadores em concelhos como Aveiro, Cascais, Porto, Lisboa e Almada.
CDU: A campanha esteve maioritariamente concentrada no distrito de Setúbal e no Alentejo, onde a presença da CDU é mais forte e onde a disputa é com o PS pela presidência dos municípios. No Norte, os objetivos são menores: recuperar (Guimarães) ou preservar (Porto) vereadores.
Bloco de Esquerda: Catarina Martins chegou a esta campanha para transmitir a mensagem que o “Bloco de Esquerda já provou que muda a política autárquica” e, por isso, quer ter “mais força” nas eleições de domingo. Foi fixado o objetivo de manter, entre outros, um lugar na vereação em Lisboa ou em Almada e de conseguir a estreia no Porto.
PSD: O objetivo foi sempre claro ao longo da campanha: encurtar a distância de 63 câmaras que separa os sociais-democratas e socialistas desde 2017, o pior resultado do partido em autárquicas e que ditou a saída do anterior líder, Pedro Passos Coelho.
PS: Consoante as prioridades dos concelhos onde discursava, António Costa foi prometendo verbas para áreas estratégicas do país – até 11.230 milhões para as empresas, 2.750 milhões para a habitação, mil milhões de euros para os municípios – e obras e infraestruturas que serão financiadas através do PRR, como, por exemplo, uma nova maternidade em Coimbra ou a construção do nó de Rans do IC-35 em Penafiel.
*Com Agência Lusa
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