Hoje o Teatro perdeu muito mais do que uma “mulher simples”

Inês F. Alves
Inês F. Alves

“Uma mulher simples”. Foi assim que Eunice Muñoz disse um dia que queria ser lembrada. Uma "pessoa como outra qualquer”, uma “mulher como as outras, mãe de seis filhos, com netos e bisnetos".

Mas Eunice Muñoz multiplica-se pelas personagens, pelos palcos e pelos papéis a que deu vida no teatro e na televisão — e que lhe valeram múltiplas distinções. Hoje não é recordada como "uma pessoa como outra qualquer”, mas como uma atriz que "marcou de forma definitiva o teatro português".

"Incontornável", dona de um "instinto genial", "inigualável", "prodigiosa", uma "das lendas mais gentis e humanas deste país". Esta foi a primeira despedida, a que acontece sem aviso, informal, em testemunhos falados e escritos, muitos deles profundamente emocionados.

Mas o país estará de luto por Eunice Muñoz no dia do seu funeral. As cerimónias fúnebres decorrem na Basílica da Estrela, em Lisboa, na segunda e na terça-feira, seguindo depois o funeral para o Cemitério do Alto de S. João, onde o corpo será cremado.

Nascida na Amareleja, no distrito de Beja, em 1928, completou em novembro 80 anos de carreira. Deixou-nos aos 93. Filha e neta de atores de teatro e de artistas de circo, não podia ter sido outra coisa, senão atriz.

Estreou-se no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, em 28 de novembro de 1941, na peça "Vendaval", de Virgínia Vitorino, com a Companhia Rey Colaço/Robles Monteiro. Ao longo da sua carreira, entrou em perto de duas centenas de peças, trabalhou com cerca de uma centena de companhias, e, no cinema e na televisão, o seu nome está associado a mais de oito dezenas de produções de ficção, entre filmes, telenovelas e programas de comédia.

Dizia que devia tudo à Senhora Dona Amélia Rey Colaço. Quantos atores dirão o mesmo sobre ela? A pergunta é de Patrícia Reis, num texto em que nos relata uma mulher "generosa nas conversas que começava", "concisa" nas respostas que dava, que "não recusava temas. Tinha a sua fé, as suas ideias, gostava de viver, de trabalhar, de um bom texto, da família biológica e alargada".

O teatro terá o seu nome para sempre, escreveu Patrícia, e isso faz desta "mulher simples" uma "mulher eterna", ditou Diogo Infante.

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