Na Ucrânia pedem ações, não palavras

António Moura dos Santos
António Moura dos Santos

Ao longo desta guerra na Ucrânia, os aliados do país invadido dividiram-se entre duas formas de apoio ao país invadido: no domínio do simbólico, solidarizando-se com Kiev e condenando as ações de Moscovo; e no domínio prático, pondo em curso ações para proteger os ucranianos — através do envio de armamento e de inteligência militar — e para desestabilizar a Rússia — com sanções económicas e políticas.

Hoje foi dia de vermos em prática exemplos dessas duas estratégias, mas com um senão: é que, sem surpresa, as primeiras são bastante mais fáceis de colocar em prática do que as segundas.

Nas últimas semanas e meses vimos vários atores políticos a visitar a Ucrânia, tanto para demonstrar um apoio mais tangível do que o mero tweet ou comunicado solidário, como para verem com os seus próprios olhos a barbárie da guerra. E frequentemente temos visto viagens-surpresa por motivos de segurança. Ora, só hoje, houve três assim.

Se o primeiro-ministro croata, Andrej Plenkovic, encontrou-se em Kiev com o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, o seu homólogo canadiano, Justin Trudeau, fez hoje uma visita relâmpago à cidade ucraniana de Irpin, palco de combates e de alegados massacres a civis.

Plenkovic fez questão de recordar que a sua visita ocorreu em véspera do Dia da Europa — onde se comemora a integração e paz no Velho Continente — e serviu para saber como pode continuar a oferecer melhor ajuda política, diplomática, financeira e humanitária à Ucrânia. Já Trudeau “veio a Irpin para ver com os seus próprios olhos todos os horrores que os ocupantes russos fizeram à nossa cidade”, escreveu o presidente da câmara, Oleksandr Markushin. De resto, o líder canadiano, já reunido com Zelensky, disse ser “claro que Vladimir Putin é responsável por estes odiosos crimes de guerra” e que deverá “prestar contas”.

De registo ainda a visita não anunciada da primeira-dama dos Estados Unidos, Jill Biden, que se reuniu com a sua congénere ucraniana Olena Zelenska numa escola utilizada como abrigo para civis deslocados. "Quis vir no Dia das Mães. Pensei que era importante mostrar ao povo ucraniano que esta guerra tem que acabar, que tem sido brutal e que o povo dos Estados Unidos está com o povo da Ucrânia", declarou aos jornalistas na  cidade de Uzhhorod, a cerca de 10 minutos de distância de uma vila da Eslováquia, onde se encontrava oficialmente.

Mas estas ações, apesar das photo-ops que proporcionam e da bondade que possam carregar, são fáceis de tomar face a outras bastante mais complicadas.

É aqui que entram as sanções. Tanto a União Europeia como muitos outros países alinhados com a Ucrânia já fizeram avançar um número considerável de imposições e restrições à Rússia e o seu aliado bielorrusso. No entanto, não podendo nem querendo entrar formalmente na guerra, o plano passa do bélico ao financeiro, e ainda não houve nada que atingisse o coração económico de Moscovo: os combustíveis.

Como é sabido, a Rússia é o principal fornecedor de gás natural e petróleo de muitos países europeus, totalmente dependentes das torneiras russas para a sua energia. É por isso que, até à data, ainda não foi possível fazer um bloqueio concertado destas matérias primas como mecanismo de pressão para a Rússia terminar a guerra.

Apesar de se terem alcançado “avanços muito importantes”, os embaixadores dos países da UE estiveram hoje reunidos, durante aproximadamente uma hora e meia, mas não conseguiram alcançar um acordo, mantendo-se o embargo petrolífero como o principal entrave ao sexto pacote de sanções contra o Kremlin, segundo fontes diplomáticas.

Em especial, a Hungria, a República Checa e a Eslováquia querem assegurar um abastecimento suficiente para quando deixarem de importar crude russo, do qual são dependentes.

A ideia do executivo comunitário é proibir as importações de petróleo Russo para a União Europeia por seis meses, após a entrada em vigor das sanções. No caso do petróleo refinado, a suspensão decorre durante oito meses.

As sanções também vetariam todos os possíveis serviços de assistência técnica, direta ou indireta e todo o serviço de intermediação, incluindo a financeira e os seguros, que estejam relacionados com a proibição ao petróleo russo. Além disso, para evitar que os petroleiros russos possam se esquivar das sanções, o texto pede a proibição do transporte de petróleo russo em todas as suas formas, incluindo transferências de carga “navio a navio” de embarcações russas para outras de outros países.

No G7 — o grupo dos países mais industrializados, composto por França, Alemanha, Canadá, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos —, não há este tipo de tibiezas, muito por força da grande maioria destes estados não viverem com a mesma dependência da Rússia.

É por isso que hoje, após a reunião virtual dos líderes do G7 com Zelensky, o grupo fez saber que assumiu um compromisso de deixar de importar petróleo russo. "Nós comprometemo-nos a terminar a nossa dependência de energia russa, inclusive ao acabar ou banir a importação de petróleo russo. Nós certificar-nos-emos de que isto será feito de forma ordenada e oportuna, e de formas em que daremos tempo ao mundo de assegurar fornecimento alternativo", lê-se no comunicado.

No entanto, o texto não especifica quais os compromissos foram assumidos pelos membros do G7 nem apontou horizontes específicos.

Voltamos ao início do texto: na (geo)política, como em todo o lado, é sempre mais fácil assumir compromissos e trocar simpatias do que encetar ações concretas que implicam sacrifícios. Banir os combustíveis russos significa que todos nós, europeus, sofreremos com isso, com uma subida galopante do custo de vida. No entanto, também poderá (ênfase no tempo verbal) acabar com a guerra mais cedo. O que decidir? É isso que cabe aos nossos líderes políticos.

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