O desastre que não aconteceu — nem estava para acontecer

António Moura dos Santos
António Moura dos Santos

A pacatez de um sábado à entrada do verão foi abalada com as "últimas horas" de um avião comercial que se encontrava a voar em círculos entre Sintra e Mafra, conforme era possível ir acompanhando em tempo real através do site Flightradar.

A aeronave que retirou os canais noticiosas e as redações da modorra de fim de semana foi um Airbus A330 da companhia aérea espanhola World2Fly que, perante um problema técnico com o trem de aterragem, foi forçado a interromper a sua viagem para Varadero, em Cuba, e voltar para o aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, de onde partiu pelas 16:30.

Até aqui, nada particularmente noticiável. A questão é que quando se utiliza a expressão "aterragem de emergência" referente a um avião com quase 400 passageiros (386, para sermos exatos), as piores previsões parecem ser inevitáveis, não obstante o contínuo desfilar de especialistas que, com paciência, iam explicando que não havia nada de muito anormal com o caso.

José Correia Guedes, ex-comandante da TAP, esteve ao longo de toda a tarde a falar à CNN Portugal, tentando contrariar os impulsos mais apocalípticos que iam sendo alimentados por um pânico súbito: não só este tipo de problemas tem procedimentos técnicos a seguir e não era causa para alarmismos, como as voltas que o avião esteve a dar durante mais de duas horas eram um desses passos a seguir, servindo para queimar combustível, reduzindo o peso na aterragem e o risco de incêndio no pior dos cenários.

Todavia, não obstante as participações mais sensatas, o sentimento de trepidação foi crescendo, especialmente quando se soube que a Proteção Civil tinha lançado o alerta laranja para o Aeroporto Humberto Delgado e que havia equipas de bombeiros e de socorro no local para acompanhar o regresso da aeronave — ao todo, os meios de segurança incluíram a presença na pista das equipas dos bombeiros do aeroporto, do INEM e polícia, bem como operacionais as saídas de emergência, algo também completamente rotineiro em casos desta natureza.

O avião, esse, deveria chegar à pista 2 do aeroporto pelas 19:00. E assim foi. Às 19:10, a aterragem do enorme avião decorreu “dentro da normalidade”, algo constatado em comunicado pela ANA - Aeroportos de Portugal — mas que pôde facilmente ser constatado por qualquer um a ver as emissões televisivas àquela hora —, tendo os meios de segurança sido desativados logo de seguida, no aeroporto de Lisboa.

Numa nota enviada à Lusa, a ANA – Aeroportos de Portugal referiu que foram “acionados todos os meios de socorro e de segurança adequados numa situação deste tipo, tendo sido suspenso o tráfego cinco minutos antes da aterragem para garantir a máxima segurança”. A ANA indicou ainda que “não houve divergência de voos” e que a operação no aeroporto de Lisboa decorre com normalidade.

Já a própria World2Fly veio lamentar o alarmismo das notícias, informando que não foi declarada qualquer emergência avançando que o avião regressou ao aeroporto de Lisboa “por motivos de ordem operacional”. “O avião regressou a Lisboa por motivos de ordem operacional que se prende com uma inspeção feita no trem de aterragem. Não houve qualquer emergência declarada. Isto é um regresso em circunstâncias operacionais num contexto de não emergência e que implica uma verificação rápida no aeroporto de Lisboa”, disse Miguel Freitas Simões, presidente executivo da companhia aérea, em declarações à CNN Portugal.

Citando o título de uma peça de William Shakespeare, o caso que dominou as atenções mediáticas neste dia foi "Muito Barulho por Nada". Mas o bardo inglês teria apreciado certamente a ironia de que foram as pessoas em terra a sentir mais turbulência que os passageiros da aeronave aparentemente condenada.

Se na zona de chegadas do Aeroporto de Lisboa sucediam-se as entrevistas aos familiares preocupados com os seus entes queridos a alguns milhares de pés de altitude, uma jornalista da CNN Portugal que por acaso se encontrava no voo para ir de férias explicou já em terra que o ambiente a bordo durante o tempo em que a aeronave esteve a voar a norte de Sintra foi sempre calmo.

Aliás, os passageiros não chegaram sequer a sair do avião após a aterragem, segundo relatos feitos por alguns deles, e nenhum dos passageiros quis ficar em Lisboa. O voo seguiu cerca das 21:00 o seu destino e o fait diver desapareceu por entre as nuvens de Lisboa. Tudo está bem quando acaba bem.

*com Lusa

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