O que inspira alguém - uma equipa de designers, para sermos mais específicos - a inventar um braço robótico onde se coloca o equipamento móvel de forma a que a câmara siga os movimentos do utilizador para todo o lado?
A resposta está numa espécie de puzzle de conceitos, explicou ao SAPO24 a equipa da INNGAGE, empresa responsável pela criação desta peça que está a fazer sucesso na Samsung.
“Inteligência artificial”, “robótica colaborativa”, “liberdade criativa”, “makers”. Estas são algumas das ideias que estão na base da Star of Galaxy e que surgiram ao longo do processo de pesquisa e criação da peça.
“Percebemos pela direção da Samsung ao longo dos anos que eles querem investir cada vez mais” na inteligência artificial, disse a equipa. Por outro lado, “o mercado está muito virado para aquilo que os millennials querem fazer - chamam-nos de makers. Querem ser youtubers, querem filmar, dar workshops online. Há um grande foco nas câmaras, e as pessoas pedem cada vez mais qualidade, mais efeitos”, continuaram os responsáveis pelo projeto.
“Foi começar a juntar as peças e percebemos que tínhamos de fazer alguma coisa com isso”, resumem.
Enquanto empresa de design estratégico, a INNGAGE está habituada a pensar em soluções que vão para além das questões estéticas. “Muitas vezes não nos dizem ‘é este o produto que têm de desenhar’. O que nos dizem é ‘existe aqui uma oportunidade’ e nós temos de desvendar qual é o produto a desenvolver” que melhor se integre no mercado em questão, explicou a equipa, que trabalha em áreas tão distintas como a dos bens domésticos (como uma estação de reciclagem doméstica), produtos tecnológicos (sensores) e proteções para motos.
O Samsung Mobile Design Competition é um concurso da marca de tecnologia em parceria com a Dezeen, uma revista de referência no mundo do design. A ideia é que os concorrentes apresentem um qualquer tipo de acessório que traga novas funcionalidades aos aparelhos da linha Galaxy - smartphones, tablets e smartwatches.
Os três finalistas, anunciados esta segunda-feira, foram escolhidos entre um grupo de cinco que apresentaram os projetos em Londres, a 25 de setembro, perante um júri que incluía os responsáveis pela área de IT e Comunicações Móveis da Samsung, a editora da Dezeen e outros designers reconhecidos.
Mas Portugal não está a dar que falar só no design para acessórios. Entre os finalistas da vertente wallpaper da competição (uma segunda área a concurso) está também um português. André Cardoso é responsável pelo “Approachability of Galaxy”, um fundo de ecrã que se modifica à medida que os vários dispositivos se aproximam uns dos outros.
Falta agora a reta final: a apresentação na Samsung Developer Conference, em San Jose, na Califórnia, EUA.
Se a "estrela" brilhar aí também, será a vencedora final. O anúncio é feito entre hoje e amanhã, 29 e 30 de outubro. A equipa da INNGAGE vai estar presente na conferência, onde a Star of Galaxy terá um protótipo exposto.
Como é que chegaram a este produto?
Partimos do conceito de robótica colaborativa, uma tendência que diz que os robôs não devem nunca substituir o humano em determinada tarefa, mas sim colaborar com ele para um bem maior. Pegámos nesta tendência e pensámos que podia ser interessante criar um acessório que desse liberdade ao utilizador - uma liberdade criativa - ao usar os dispositivos.
Liberdade criativa? O que querem dizer com isso?
Vamos imaginar que estou a fazer um vídeo para o YouTube e que preciso de me mexer. O que nós criámos foi um braço robótico que segue o utilizador para onde quer que ele vá. Não é preciso estar a agarrar o telefone ou o tablet. E o tripé não precisa de ser não-móvel. Da forma como a peça foi criada, permite uma rotação a 360º.
Como é que a Star sabe que nos deve seguir?
Só temos de a avisar no início. A partir desse momento, segue-nos por reconhecimento facial e de voz.
Podem explicar melhor?
A Samsung está neste momento a usar uma plataforma de assistente virtual, a Bixby. Nós tornámos a Bixby o software do nosso hardware. Para a Star funcionar, falo com a Bixby. Digo: “Bixby, grava-me a tocar esta música”. E o smartphone [acoplado ao braço robótico] automaticamente começa a seguir todos os meus movimentos. O conceito também pode ser usado em videoconferências. Posso ter necessidade de me levantar e de explicar algo, e o aparelho segue-me. Portanto, nunca saio da tela.
Porquê este nome: Star of Galaxy?
O que nós pretendemos é que as pessoas se tornem as estrelas das suas experiência e não apenas um mero interveniente. Toda a liberdade criativa que este produto pode trazer, seja do ponto de vista pessoal ou profissional, faz com que o utilizador tenha um papel de estrela. Estrela: Star, Star: of Galaxy. Queríamos desenvolver um acessório que fosse aplicado aos três tipos de aparelhos Galaxy - smartphones, tablets e smartwatches.
Porque é que se lembraram de se candidatar a este concurso?
Nós trabalhamos maioritariamente para empresas nacionais. Está nos nossos planos começar a tentar a internacionalização. Estes concursos são uma boa forma de chegar a outro público. Tudo isto funciona muito bem do ponto de vista do marketing. Por outro lado, também nos pareceu um desafio interessante.
Quanto tempo estiveram dedicados ao projeto?
Sensivelmente um mês e meio, dois meses. Mas não trabalhámos nisto a full-time.
O feedback que receberam em Londres foi muito positivo. O que vos disseram?
Gostaram do facto de termos olhado para a família Galaxy e de propormos uma peça que estivesse apta para qualquer dispositivo. Também disseram que conseguimos perceber a essência da marca e que a peça transmite muito a ideia de Samsung. Se nalgum momento este produto tivesse de entrar no mercado, era simples porque já está bastante alinhado com o portfolio deles.
Está prevista a integração do produto nas lojas Samsung?
Para já, não. Num futuro breve seria difícil. Isto precisa de algum desenvolvimento. Mas, no início do processo, disseram que poderá haver a possibilidade de virem a comercializar o produto. Por enquanto, a única retribuição é o prémio monetário [10.000 dólares para o primeiro lugar, 5.000 para o segundo e 3.000 para o terceiro - cerca de 9.000, 4.500 e 2.700 euros, respetivamente].
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