No fim de semana que antecedeu o encerramento das escolas, nasceu espontaneamente um movimento de empreendedores que se tem preocupado em promover soluções nas várias frentes de combate à pandemia. Ao pequeno grupo inicial foram-se juntando centenas de pessoas que têm colocado os seus recursos e competências ao serviço da comunidade. O Tech4Covid19 é, nesta altura, uma comunidade com mais de 3.000 voluntários, que já financiou e realizou uma primeira compra de equipamento de proteção individual, disponibilizou uma plataforma de alojamento gratuito para profissionais de saúde e tem em curso 27 outros projetos que procuram travar o crescimento da pandemia e a disrupção que esta tem trazido a múltiplos setores sociais.
Para além disso, outros projetos têm também tentado fazer a sua parte para ajudar a combater a Covid-19.
A Covidapp, uma aplicação desenvolvida pela empresa de software Mosano, monitoriza remotamente doentes com sintomas, ou assintomáticos, da doença Covid-19. Ligada a uma rede neuronal providenciada pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, a aplicação regista sintomas como febre, tosse, dificuldade respiratória, entre outros, e produz uma classificação do estado de saúde dos utilizadores. Realizado o despiste inicial, a aplicação emite um alerta para o utilizador e para as autoridades de saúde que, deste modo, podem fornecer as primeiras indicações terapêuticas para ajudar os pacientes a iniciar o combate à doença.
Com este rastreio prévio de infeções, a plataforma consegue refrear a afluência imediata a hospitais, canalizar os recursos disponíveis para aqueles que mais precisam e evitar que os hospitais sejam um local de propagação. Os dados recolhidos vão também ser utilizados num estudo epidemiológico a realizar no final da crise pandémica.
Já a GruupUp, uma aplicação criada para promover a segurança das comunidades através da geolocalização, está a adicionar um módulo temporário que permite a localização de pessoas (infetadas, suspeitas e não infetadas) e, deste modo, motiva os utilizadores a manterem-se efetivamente em casa, desde que a sua atividade o permita.
A TAIKAI uma plataforma de desafios de inovação aberta que utiliza o blockchain para aproximar grandes empresas e startups, transformou-se com uma rapidez assinalável num repositório de projetos de combate à Covid-19.
Na área de produção de equipamentos de proteção à primeira linha de combate, o recurso à impressão 3D permitiu a rápida prototipagem e produção descentralizada de soluções, com uma agilidade que dificilmente será possível observar em modelos de produção mais tradicionais. Num projeto que envolve Movimento Maker Portugal, CovidZero e #SOSCovid, a 3Dways participou na identificação das necessidades de hospitais e orientou a sua produção para o fabrico diário de 500 viseiras para o setor hospitalar. Foram criados múltiplos pontos de contacto para distribuição dos produtos, sendo que a produção conjunta e descentralizada deste grupo atinge já as 1.000 viseiras por dia, que serão entregues a hospitais, hospitais prisionais, ao exército português, à PSP, Cruz Vermelha, Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e Direção-Geral de Saúde.
A funcionar a partir do Seixal, a EVA é outra das startups que tenta dar o seu contributo, tendo disponível uma frota de 20 drones que podem ser utilizados na entrega de material médico, monitorização em vídeo de cidades e veiculação de apelos sonoros às populações em situação de isolamento.
No campo da mitigação de lacunas em processos de teletrabalho, a Planless também quer ajudar. Numa altura em que muitas empresas precisam de se adaptar rapidamente ao trabalho remoto, a ferramenta de gestão de projetos que utiliza a inteligência artificial para otimizar o trabalho em equipa oferece 50% de desconto nos planos de utilização e disponibiliza licenças gratuitas para todas as organizações sem fins lucrativos que estejam a combater a Covid-19.
Se estes projetos pivotaram a sua atividade e canalizaram a sua energia para o combate à Covid-19, a Bic-Solution tem vindo, desde a sua fundação, a desenvolver esforços no sentido de diminuir as taxas de infeção em ambiente hospitalar.
A atual pandemia que está a sobrecarregar hospitais, um pouco por todo o mundo, obriga a uma redefinição de espaços e recursos alocados a cada paciente e exige a reconversão de alas hospitalares em novas unidades de cuidados intensivos (UCI). É necessário isolar e tratar pacientes infetados e, simultaneamente, minimizar os riscos de infeção cruzada com outros pacientes e com profissionais de saúde. O ICUB3 é uma solução desenvolvida pela Bic-Solution para reduzir o erro humano na gestão de pacientes em ambientes complexos, como as UCI, onde equipamentos médicos são partilhados por diferentes pacientes e os procedimentos de desinfeção acarretam elevados riscos de contaminação cruzada. O sistema está estruturado para funcionar tanto na gestão tarefas hospitalares regulares como em situações de pandemia, adaptando-se às regras do hospital e ao nível de segurança que é necessário ativar.
Muito dificilmente sairemos melhor desta pandemia, mas não há dúvida de que a presente crise tem conseguido revelar a face mais nobre da comunidade de startups portuguesas. A Startup Portugal tem tido a felicidade de apoiar empreendedores que entendem o conceito que os define e que vivem ao sabor da sua definição — procurar solucionar problemas e acrescentar valor. Tudo aquilo de que mais precisamos nesta altura.
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