“Vim a Foz Côa conhecer não só a cidade, como conhecer o património que existe aqui, que é um Património Mundial das pinturas rupestres e, de alguma maneira, ver os meus colegas que aqui trabalharam há 30 mil anos e ver como eles se expressaram e representaram […] e vir conhecer um sítio que é o berço da nossa portugalidade. […] Foi uma grande surpresa conhecer o Museu [do Côa] e a força das pinturas rupestres”, disse a artista portuguesa.

Em entrevista à agência Lusa, Joana Vasconcelos disse ainda que há um “lado artístico extraordinário” nestas representações pré-históricas.

As declarações de Joana Vasconcelos foram feitas à margem do 1.º Congresso Internacional Tempos do Barroco que decorre nesta cidade do distrito da Guarda até sábado.

Por outro lado, a artista confidenciou à Lusa que encontrou uma cidade que se quer contemporânea e daí ter aceitado expor a instalação “Jardim do Éden”, que se encontra no Centro Cultural até ao final do ano.

“Ao contrário do que as pessoas pensam, um artista como eu não está sempre nos grandes palcos, nas grandes cidades. […] Na semana passada, acabei de expor num castelo do barroco em Gettorf, uma cidade situada no norte da Alemanha, a uma hora e meia de Munique, numa zona ‘viking’. É uma cidade à escala de Foz Côa, mas, como Foz Côa, quer ser parte integrante do mundo de uma forma diferente”, indicou.

Joana Vasconcelos defende que cada local tem a sua história e é sobre isso que se deve trabalhar: “É ao partilharmos uns com os outros que vamos crescer em conjunto. Faz muito sentido para mim estar aqui em Foz Côa, para acompanhar este Congresso do Barroco, acompanhar esta cultura que existe aqui há 30 mil anos e tentar acrescentar alguma coisa de dimensão contemporânea”, frisou a artista.

Joana Vasconcelos disse ainda que, para trazer as suas criações a localidades como Foz Côa, não “há palcos maiores ou menores”, o que variam são as condições.

“Os artistas plásticos desde que lhes sejam dadas as condições necessárias para [trabalhar], isso é possível em muitos locais do planeta”, explicou.

Segunda a autora, “Jardim do Éden” representa o princípio dos tempos e, em Vila Nova de Foz Côa, “há o princípio dos tempos através das pinturas rupestres”.

“Essa tradição e esse passado é muito forte e de alguma maneira queria trazer algo que estivesse conectado com essa ideia do princípio, de no fundo isto ser o coração português, que começa a bater aqui em Foz Côa”, destacou.

Em Portugal, a peça “Jardim do Éden” esteve patente no Museu da Eletricidade, em Lisboa, em 2009, no âmbito da exposição “Remade in Portugal”, tendo já passado pela Bienal de Veneza e pelo recém-inaugurado museu de arte contemporânea de Malta.

Questionada pela Lusa sobre qual seria a peça que melhor se encaixaria no Vale do Côa, Joana Vasconcelos afirmou que seria o “Coração Português”, feito em azulejos, de grandes dimensões e de cor vermelha.

Joana Vasconcelos não descartou a ideia de fazer uma criação com inspiração na Arte do Côa, porque há sempre algo que fica: “Há sempre algo que fica e que me vai inspirar e contribuir para o meu futuro enquanto artista. Vir a Foz Côa foi fundamental. […] A ideia de esplendor, que é uma ideia muito barroca, existe aqui na natureza”.

Francisco Pinto (texto) e Miguel Pereira da Silva (fotos), da agência Lusa