O defensor de ideias racistas e da supremacia branca é o principal visado pelo documentário "American Dharma", do cineasta e jornalista americano Errol Morris, apresentado fora da competição no festival veneziano.
Bannon, que não foi oficialmente convidado pelos organizadores, está incógnito em Veneza, e segundo a revista especializada Variety compareceu à projeção do documentário mas não quis falar com a imprensa nem vai desfilar pelo tapete vermelho.
"Ignorar o que isso representa seria um grande erro", reconheceu Morris numa conferência de imprensa.
"Podemos fazer como uma avestruz e enfiar a cabeça num buraco e acreditar que o perigo não existe, mas ele existe e é melhor compreender a sua natureza", afirmou o cineasta, de 70 anos, cujo documentário recebeu críticas pela forma "suave" com que o líder da ultra-direita foi tratado.
Para o crítico da Variety, Owen Gleiberman, Bannon aparenta ser "paternal e culto" e chega a parecer inclusive divertido quando o comparam com Satanás.
O filme foi baseado numa série de entrevistas com o ex-conselheiro de Donald Trump, que foi demitido após uma breve estadia na Casa Branca.
Bannon transformou-se num propagador das ideias de extrema-direita tanto nos Estados Unidos como na Itália, onde mantém boas relações com o ministro do Interior, o xenófobo Matteo Salvini.
"Vamos viver outra crise financeira", adverte o ex-assessor de Trump, fundador do site Breitbart, que explica que inspirou muitas das medidas "duras" tomadas pelo presidente americano.
Destaque para as vítimas
A face mais violenta dessas ideias de extrema-direita impactou nesta quinta-feira em Veneza com o filme "22 de julho", a crónica de um massacre na Noruega em 2011, dirigido pelo britânico Paul Greengrass (na fotografia).
O filme, que concorre ao Leão de Ouro junto com outras 20 longas-metragens, narra os dois atentados organizados por Anders Breivik, um terrorista norueguês de extrema-direita, que deixaram 77 mortos, na sua maioria jovens que estavam num acampamento de verão na ilha de Utoya organizado pelo partido trabalhista da Noruega.
"A Europa e o Ocidente em geral estão a ser arrastados para a direita e o populismo, algo sem precedentes desde a Segunda Guerra Mundial", lamentou Greengrass, mestre do cinema de ação, de 63 anos, que comoveu com um filme que destaca as vítimas, a reação dos noruegueses e quem busca superar com dignidade, sem sentimentos de raiva nem vingança, uma tragédia íntima e nacional.
O diretor contou que concentrou o filme nas vítimas quando começou a notar que na Noruega e no mundo o foco estava a ser posto mais no terrorista e nas suas declarações ante o tribunal, que o condenou a 21 anos de prisão, que nos sobreviventes.
"Ofereço o filme com humildade ao mundo para que reflitamos sobre como ganhar esta batalha", declarou o diretor, cujo filme é produzido pela gigante Netflix.
Outro filme sobre os atentados da Noruega, dirigida por Erik Poppe, foi apresentado em abril no festival de cinema de Berlim, onde concorria ao Urso de Ouro.
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